Peso argentino: essa é a maior demanda da história em um mercado emergente (Daniel Garcia/AFP)
Da Redação
Publicado em 19 de abril de 2016 às 16h01.
A Argentina anunciou nesta terça-feira que, em seu retorno aos mercados financeiros, a demanda por seus bônus quintuplicou a base de emissão de 12,5 bilhões de dólares, tornando-se a maior para uma economia emergente.
"É a maior demanda da história em um mercado emergente e está entre as vinte maiores da história para uma emissão", afirmou nessa terça-feira o ministro da Fazenda, Alfonso Prat-Gay em coletiva de imprensa.
O ministro informou que "há uma demanda de mais de 60 bilhões de dólares".
"É um bom retorno da Argentina aos mercados de capitais após quinze anos de ausência", disse em Paris Jean-Marc Mercier, encarregado do setor de obrigações do HSBC, um dos sete bancos a cargo da operação.
Em Paris, outras fontes próximas à operação disseram à AFP que as ofertas superam os 70 bilhões de dólares e que a Argentina fará uma emissão de US$ 16,5 bilhões.
O ministro pediu "prudência" e disse que os detalhes de volume e taxas serão conhecidos às 15H00 (locais e em Brasília), "quando os mercados fecharem".
A operação iniciada na segunda-feira e concluída nesta terça-feira tem como objetivo conseguir fundos para pagar credores com bônus em default desde 2001, quando a Argentina declarou uma moratória por 100 bilhões de dólares.
O governo de Mauricio Macri busca captar pelo menos 12,5 bilhões de dólares com quatro séries de títulos a 3, 5, 10 e 30 anos.
"O interesse que há é imenso. No prazo mais demandado, o de 10 anos, há 690 investidores diferentes que apresentaram mais de uma ordem de compra cada um", exemplificou.
A imprensa local assegura que a taxa de juros será em torno de 6,75% para títulos com vencimento a 3 anos, de 7,25% para os de 5 anos, de 7,75% para os de 10 anos e de 8,60% para os de 30 anos, o maior prazo.
O bônus com prazo de 3 anos foi incluído no último momento por pedido de investidores.
Três em um
A quantia obtida permitirá indenizar os fundos especulativos chamados "abutres" e obter fundos adicionais para recompor o déficit orçamentário.
"Estamos resolvendo três temas em um: o default de 2001, o default do governo anterior e voltando ao mercado para, com os procedimentos e os recursos que vamos obter, ter fundos para o plano de infraestrutura que vai nos permitir mais empregos e financiar o déficit orçamentário", disse Prat-Gay.
Deutsche Bank, HSBC, JP Morgan, Santander, BBVA, Citigroup e UBS irão executar a operação.
Nova dívida
Com esses recursos, o governo espera ter os 10,5 bilhões de dólares para pagar na sexta-feira aos credores respaldados por una sentença judicial em Nova York.
Macri comemorou "ter saído de anos de conflito financeiro com o mundo".
O acerto, entretanto, não chega a 7% de credores com títulos em moratória. Ficarão de fora valores por 3,5 bilhões de dólares em litígio em Nova York.
A Argentina chegou pré-acordos com credores da dívida em moratória por aproximadamente 8,25 bilhões de dólares.
Os títulos serão emitidos sob jurisdição de Nova York.
Contexto difícil
A Argentina sairá do default técnico e encerrará seu conflito com os holdouts, mas no plano interno enfrenta uma situação econômica difícil.
Macri pediu "austeridade" aos argentinos na segunda-feira e "responsabilidade" aos empresários na hora de fixar seus preços.
"Peço que vocês façam o máximo esforço para cuidar de cada um de seus funcionários", disse o presidente, enquanto o Estado admite ter demitido 11.000 funcionários de órgãos estatais. Para os sindicatos, esse número chega a 100.000.
Prat-Gay nega que o governo esteja impondo um ajuste.
"Que ninguém acredite que estamos em uma etapa de ajuste, estamos pondo o foco nos mais vulneráveis", disse o ministro, que prometeu "uma drástica queda da inflação no segundo semestre". Estimativas privadas já calculam uma inflação de 40% ao ano.
O governo busca medidas paliativas para os efeitos de pesados aumentos de tarifas de água, gás, eletricidade e transporte, que van de 100% a 700%.
Os aumentos não foram acompanhados por reajustes salariais, motivo pelo qual vários sindicatos realizaram protestos e greves nacionais.
A imagem positiva do presidente Macri, que assumiu o poder em 10 de dezembro do ano passado, caiu oito pontos, para 50,1% na primeira semana de abril, segundo uma pesquisa do consultor Raúl Aragón.