Apesar do péssimo momento econômico da Argentina, Milei fez show de rock para apoiadores. (Anadolu/Getty Images)
Redator na Exame
Publicado em 23 de maio de 2024 às 07h56.
Última atualização em 23 de maio de 2024 às 21h36.
As duras medidas impostas por Javier Milei para recuperar a economia Argentina chegaram a um ápice rocambolesco mas últimas 24 horas. Na noite de quarta-feira (22) o presidente argentino subiu ao palco da tradicional casa de shows Luna Park para cantar a plenos pulmões um rock do grupo Mataderos: “sou o rei de um mundo perdido”.
Na manhã desta quinta-feira (23), veio a notícia de que a economia do país encolheu 8,4% em março. Milei segue determinado a fazer o que for preciso para livrar o país dos vícios que o levaram à bancarrota. Mas a vala econômica no curto prazo acabou de ficar mais funda. A pergunta número um de analistas e investidores em Buenos Aires e região nesta manhã é até quando a música presidencial poderá seguir tocando sem mudar de ritmo.
Este foi o quinto mês consecutivo de queda e a queda mais acentuada desde 2020, de acordo com informações da Reuters. O resultado foi pior do que a queda de 6,9% estimada por analistas de mercado em uma pesquisa da agência de notícias, destacando o impacto das políticas de corte de custos do presidente Javier Milei desde que assumiu o cargo em dezembro de 2023
Milei embarcou em uma dura campanha de austeridade na tentativa de reduzir a pobreza crescente e a inflação anual próxima de 300%. Nove setores registraram declínios na comparação ano a ano, liderados pela construção, que registrou uma queda de 29,9%, e pela indústria manufatureira, que caiu 19,6%, segundo dados publicados pela agência de estatísticas INDEC da Argentina.
Os números da atividade econômica são vistos como um indicador útil dos prováveis resultados do produto interno bruto (PIB). A queda na atividade em março segue declínios ano a ano de 3,0% em fevereiro e 4,1% em janeiro. No acumulado do ano até março, a atividade econômica da Argentina caiu 5,3%.
O movimento de desaceleração da economia acompanha a perda de força da inflação do país. Em março, a inflação da Argentina caiu para 11%, ante alta de 13,2% em fevereiro. A tendência para baixo se manteve em abril, com o indicador recuando para 8,8%, marcando o quarto mês de retração.
Na observação detalhada dos setores afetados, a construção foi a que mais sofreu, com uma retração de 29,9%. A indústria também foi significativamente impactada, com queda de 19,6% em relação ao mesmo período do ano passado. Contrariamente, a agricultura apresentou um crescimento de 14,1%, mostrando-se como um pilar de promissor no cenário adverso.
O levantamento da AtlasIntel de março, o último divulgado, aponta que 47,7% dos argentinos aprovam a gestão de Milei, enquanto 47,6% a desaprovam. A situação configura um empate técnico, pois a diferença está dentro da margem de erro da pesquisa, de 2 pontos percentuais para mais ou para menos.
A pesquisa ouviu 2.238 pessoas na Argentina, entre os dias 15 e 18 de março. Nesta terça, 19, Milei completou 100 dias de governo. A aprovação de Milei é maior entre os homens (54,2% o avaliam bem), entre os jovens de 16 a 24 anos (50,2% de aprovação) e os maiores de 60 anos (56,3% o aprovam).
No recorte por formação escolar, o libertário tem mais apoio entre os argentinos que têm apenas educação primária (61,1%). Na divisão por renda, seu apoio mais expressivo vem na faixa mais alta, com 56,3% de apoio entre os que ganham mais de 500 mil pesos (cerca de R$ 3 mil), a faixa de renda mais alta na pesquisa.
Já entre as regiões, o presidente tem taxas de reprovação maiores na capital Buenos Aires (55,3% de rejeição) e na Grande Buenos Aires (53,4% de respostas negativas). Essas regiões estão entre as mais populosas do país. Milei tem melhor aprovação em áreas do interior.