Fábrega: ele renunciou na quarta-feira ao cargo de presidente do Banco Central (Marcos Brindicci/Reuters)
Da Redação
Publicado em 2 de outubro de 2014 às 18h10.
A Argentina descartou nesta quinta-feira reformas à lei que rege o funcionamento das instituições financeiras após a renúncia do presidente do Banco Central (autoridade monetária) na véspera, em meio a turbulências cambiais que levam mais incertezas à conturbada situação econômica do país.
"A resposta é não", disse o chefe de Gabinete, Jorge Capitanich, questionado sobre a possibilidade de reforma durante uma coletiva de imprensa na sede do governo.
Juan Carlos Fábrega renunciou na quarta-feira ao cargo de presidente do Banco Central depois de um contundente discurso da mandatária Cristina Kirchner em rede nacional, onde denunciou um complô contra o governo, com operações especulativas que ameaçam o peso.
"Parece que a informação foi vazada, porque houve bancos com informação privilegiada. Enquanto todos compravam dólares, eles vendiam", disse Kirchner em acusação indireta à atuação do Banco Central (BCRA).
A saída de Fábrega, um veterano na instituição, acontece em meio à tensão cambial por escassez de divisas, com uma diferença entre o dólar oficial e o paralelo de aproximadamente 80%, e no momento em que as reservas do Banco Central chegam a apenas 28 bilhões de dólares.
Para substituí-lo, foi designado Alejandro Vanoli, diretor da Comissão Nacional de Valores (CNV), entidade reguladora da bolsa de valores, cujo índice líder Merval sofreu uma queda de 8,22% na quarta-feira.
"Vanoli tem que cumprir a Carta Orgânica do BCRA, que é muito clara e estabelece que devem ser oferecidas as condições para o crescimento da economia e do emprego, para a estabilidade do câmbio e para aplicar o marco regulatório", disse Capitanich.
Um relatório do Deutsche Bank emitido em Londres considerou que as mudanças trarão "mais medidas de expansão (monetária), mais controles para neutralizar os efeitos do crescimento do financiamento diante das expectativas de aumento da inflação e queda do peso". Segundo o Deutsche Bank, isso causará "uma volatilidade maior e o aprofundamento da recessão econômica".
Outro relatório, da consultoria econômica internacional Capital Economics diz que "a renúncia do presidente do BCRA abre as portas para uma heterodoxia maior na política econômica".
"Em meio ao litígio da dívida e caminhando em um sentido equivocado, a economia parece que vai permanecer estagnada. A previsão é de uma contração de 2% do Produto Interno Bruto e de um pequeno avanço em 2015, com uma desvalorização da moeda, a 10 pesos o dólar", afirmou.
A queda de Fábrega, que assumiu em 2013, acontece com a economia em situação delicada devido à escassez de dólares, a uma inflação de quase 40% e à disputa na justiça de Nova York pelo pagamento da dívida aos fundos especulativos.