Bois e vacas em pasto: entre janeiro e abril, a Argentina produziu 917.000 toneladas de carne, o que significa 10,2% a mais na comparação anual. (SXC.Hu)
Da Redação
Publicado em 29 de julho de 2013 às 17h17.
Buenos Aires - O governo argentino experimenta, pela primeira vez em nível nacional, o uso de um DIU bovino, criado por um veterinário local, que está sendo exportado ao Brasil e à Espanha e permite aumentar a produção de carne e evitar o abate de fêmeas prenhas.
É uma prova de fogo para Enrique Turín, um veterinário de Pergamino, província de Buenos Aires, no coração agrícola-pecuário do país, que inventou o primeiro dispositivo intrauterino para bovinos (DIUB) do mundo e de que obteve a patente internacional da União Europeia (UE).
"É um dispositivo de muito baixo custo, 17 pesos (U$ 3), que é colocado no útero das vacas. Seu uso é indicado para fêmeas que já cumpriram seu ciclo reprodutor de cinco a sete bezerros, ou que estão destinadas à engorda", explica Turín à AFP no campo onde fabrica seu inovador produto.
A carne bovina, prato principal da dieta na Argentina, um dos maiores fornecedores de alimentos do mundo, registrou entre 1958 e 2011 uma queda de 50%, passando de uma média de 98,4 a 53,4 quilos, segundo o Instituto de Promoção da Carne Bovina (IPCV).
A queda do consumo foi simultânea à da produção e nisso incidiu a matança de fêmeas prenhas, já que, de uma média anual de cinco milhões de vacas que chegam aos frigoríficos, um milhão chega com fetos em diferentes estágios.
"É necessário que as fêmeas que serão abatidas cheguem vazias porque o feto absorve os nutrientes e a mãe emagrece. Com o DIUB estimamos que vão ser produzidos 5% a mais de carne por animal, o que, considerando um milhão de vacas, é uma cifra significativa", diz o especialista de 47 anos em seu pequeno campo de Pergamino, 245 km ao norte de Buenos Aires, onde trabalha junto a dois empregados.
O interesse que o produto despertou nas províncias pecuaristas em um plano piloto em 2012 convenceu o governo a lançar o Programa Nacional de Promoção do Dispositivo Intrauterino Bovino (DIUB), disse à AFP o sub-secretário de Pecuária, Alejandro Lotti.
Isso significa que o Estado financiará a distribuição de 220.000 DIUB este ano e uma quantidade similar no próximo, entre 20.000 pequenos e médios produtores, com até 200 cabeças.
"Esperamos que os produtores tenham incorporando como uma prática comum porque é importante levando em conta o tipo de produção de pecuária extensiva que a Argentina tem, com machos e fêmeas juntos no campo", acrescentou Liotti.
A Argentina tem atualmente 58 milhões de cabeças de gado, segundo cifras oficiais, mas perdeu gado desde 2008 e 2009 quando muitos pecuaristas liquidaram parte de sua fazenda devido à seca e à política oficial que denunciavam como desalentadoras, para se voltar a atividades mais rentáveis como a soja, agora o maior produto de exportação do país.
Entre janeiro e abril, o país produziu 917.000 toneladas de carne, o que significa 10,2% a mais na comparação anual e este crescimento obedece ao aumento no abate de fêmeas, segundo a Câmara da Indústria e Comércio de Carnes e Derivados (CICCRA).
Cerca de 2,5 milhões do dispositivo de Turín, também docente da Universidade Nacional do Noroeste da província de Buenos Aires, já foram exportados ao Brasil, Paraguai, Uruguai, Bolívia e Espanha.
"O Brasil, para onde enviamos quatro carregamentos, está usando (o DIUB) em fazendas privadas, mas já tivemos contato com funcionários de governo, como na Colômbia, onde esperamos a aprovação do Instituto Colombiano Agropecuário", explicou Turín.
Na UE, a empresa obteve a patente internacional PCT, que oferece uma maior cobertura e permite introduzir modificações para seu melhoramento.
Turín afirmou que o dispositivo está em sintonia com a ideia de respeito ao bem-estar animal, um tema que tem ganhando força nos últimos tempos e que fez com que, na Espanha, por exemplo, fosse proibida a castração de porcos.
"Me parece algo realmente revolucionário e, além disso, não é sangrento", disse à AFP Marco Franco, professor de Etologia da Universidade de Salvador. "Nós, na cátedra de obstetrícia, sempre trabalhamos nisso buscando uma solução e o DIUB é algo praticamente inofensivo", acrescentou.