Empresários e altos executivos se mobilizaram nos últimos dias para conversar com o presidente Jair Bolsonaro sobre a reforma (Ueslei Marcelino/Reuters)
Estadão Conteúdo
Publicado em 29 de março de 2019 às 11h39.
Diante da série de desentendimentos que colocou em xeque a aprovação da reforma da Previdência e levou o dólar a superar a marca de R$ 4 na manhã dessa quinta-feira, 28, empresários e altos executivos se mobilizaram nos últimos dias para conversar com o presidente Jair Bolsonaro (PSL) e com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM), na tentativa de pôr a proposta, considerada vital para a retomada do crescimento da economia, de volta ao foco das lideranças em Brasília.
Em movimentos paralelos, tanto individuais como de pequenos grupos, empresários se aproximaram de Bolsonaro, Maia e do ministro da Economia, Paulo Guedes, na intenção de reforçar a importância de o governo agir em uma mesma direção.
Segundo apurou o jornal O Estado de S. Paulo, um grupo de 12 executivos e empresários se reuniu com Maia, em um jantar em São Paulo. O deputado disse estar empenhado na aprovação da proposta, mas que depende da articulação do Planalto para angariar votos. Afirmou que, sozinho, tem no máximo 40 votos. A reunião teve ainda a participação de Rodrigo Garcia (DEM), vice-governador de São Paulo, e de Alexandre Baldy, ex-ministro da Saúde e atual secretário do governador João Doria (PSDB).
Ao longo da semana, em eventos como o jantar oferecido em homenagem à primeira-dama, Michele Bolsonaro, e a reunião entre empresários e o vice-presidente, Hamilton Mourão, na sede da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), o setor produtivo demonstrou sua tensão sobre o andamento lento da reforma da Previdência.
Um dos recados repassados por empresários a Bolsonaro e Maia é que o clima de disputa não faz sentido: "Todo mundo que é a favor da reforma da Previdência neste momento deve ser considerado um amigo pelo governo", disse um empresário.
Entre os mais próximos de Bolsonaro, instalou-se clima de impaciência em relação ao presidente da Câmara. Apesar de admitir que o filho do presidente, Carlos Bolsonaro, passou dos limites nas provocações a Maia no Twitter, um empresário disse que a impressão é de que o parlamentar começou a usar a troca de farpas para valorizar seu passe. Em um dos eventos dessa semana, Bolsonaro externou a insatisfação com o Congresso e disse a um empresário que não quer se render à "velha política".
Outro empresário, que se reuniu em Brasília com o presidente nesta semana, afirmou que a resistência ao velho "toma lá, dá cá" não quer dizer simplesmente fechar o diálogo com os líderes do Congresso. "O presidente tem, sim, a obrigação de conversar com o Congresso, de negociar as pautas vitais."
Para Pedro Wongtschowski, presidente do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), não houve movimento organizado do empresariado para discutir a crise. "Há uma preocupação geral do empresariado. De forma individual, os empresários levaram sua preocupação aos seus interlocutores em Brasília."
Após tanto Maia quanto Bolsonaro acalmarem os ânimos e o presidente classificar a crise como "chuva de verão", a sensação entre empresários era de alívio - ao menos temporário. Um empresário, que falou com Maia e também com Bolsonaro nesta semana, classificou a tensão como "uma briga de crianças".
A sensação de um clima mais apaziguado também teve reflexos no mercado financeiro. Depois de romper a marca dos R$ 4, o dólar fechou o dia em queda de 0,96%, a R$ 3,9165. Já o Ibovespa, principal índice da B3, fechou aos 94.388,94 pontos, em alta de 2,70%.
Na avaliação de analistas, a bandeira branca acenada entre Executivo e Legislativo trouxe algum alívio na percepção de crise política, mas está longe de reativar no mercado o otimismo que havia levado o Ibovespa a testar os 100 mil pontos. Por isso, a alta foi considerada essencialmente técnica, com investidores em busca de oportunidades de compra para ganhos de curto prazo.