Selic e Inflação: O resultado acima do esperado pelos economistas já leva à revisão dos números, e a inflação oficial deve encerrar o ano mais próxima de 8% do que de 7% (Marcello Casal jr/Agência Brasil)
Agência O Globo
Publicado em 8 de abril de 2022 às 19h26.
Puxada pelo aumento nos combustíveis e alimentos, a inflação medida pelo IPCA superou as previsões e chegou a 1,62% em março, a maior taxa para o mês desde 1994, antes da implantação do plano Real. É também a maior inflação mensal desde janeiro de 2003 (2,25%).
O resultado acima do esperado pelos economistas já leva à revisão dos números, e a inflação oficial deve encerrar o ano mais próxima de 8% do que de 7%, como era esperado anteriormente.
Fábio Romão, economista da LCA Consultores, explica que o colegiado revisou a estimativa de inflação de 7,5% para 8% este ano após o resultado do IPCA de março.
— Coloco taxas mais altas de combustíveis e a alimentação mais pressionada, e temos perspectiva de nova alta importante para bens industriais no IPCA. Mesmo com esse alívio do [corte no] IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados), isso não chegou ao consumidor. As pressões estão espraiadas — diz Romão, que prevê a inflação dos alimentos batendo dois dígitos em 2022.
O banco J.P. Morgan agora vê a inflação encerrando o ano em 7,6%, ante estimativa de 7,1%. Já a projeção para o IPCA em 2023 passou de 4% para 4,2% por conta da inércia inflacionária.
"O print de hoje apoia fortemente nossa tese de que o Banco Central continuará o ciclo de aperto além de maio, apesar da mensagem do Copom de que a última alta aconteça na próxima reunião", disseram Cassiana Fernandez e Vinicius Moreira, em relatório.
A aceleração do indicador é vista com preocupação pelos analistas, já que contamina as expectativas para 2023, o que faz com que o aumento transitório de preços tenha efeito mais duradouro por conta dos mecanismos de indexação da economia.
“Há um risco crescente de que os mecanismos de fixação de preços e salários ampliem a inércia inflacionária”, sinalizou Alberto Ramos, diretor de macroeconomia do Goldman Sachs para a América Latina, que defende que o cenário requer uma calibração conservadora da política monetária.
Com estimativa de Selic terminal em 14% ao ano, os economistas Solange Srour, Lucas Vilela e Rafael Castilho, do Credit Suisse, afirmam que só não revisaram a previsão do IPCA de 7,8% para 2022 porque a surpresa com o dado de hoje deverá ser compensada pela recente queda nos preços do petróleo no mercado internacional.
“Mas continuamos a ver um risco para o lado positivo da inflação este ano, uma vez que permanece surpreendentemente alta e muito difundida, e a inflação global continua acelerando. Os riscos para 2023 também são intitulados para o lado positivo e, como temos destacado, a inércia no Brasil aumenta com o aumento da inflação atual”, disseram, em relatório.
O resultado disso é a probabilidade de uma posição mais austera do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central. Ganha força no mercado a avaliação de que o BC tenha que estender o ciclo de aperto monetário - quando se esperava que a autoridade elevasse a taxa Selic pela última vez a 12,75% ao ano, na reunião de maio.
Sergio Vale, economista da MB Associados, agora vê mais chances de o Banco Central elevar a Selic para 13,5% ao ano, ante estimativa de 13% da consultoria:
— Essa inflação está muito preocupante e deve chegar a 12% no acumulado em 12 meses em abril. Só que trazer de 12% para baixo não vai ser simples. Para entregar essa inflação em 7,8%, como projetamos, é preciso ter uma média extremamente baixa de maio até o fim do ano, com uma inflação um pouco acima de 0,4% [na variação mensal], algo que é difícil e a gente não vê isso acontecer desde 2020.