Economia

Após 2 anos, comer dentro e fora de casa vai pesar menos no bolso

Desaceleração no preço dos serviços e supersafra de alimentos devem ajudar a aliviar o bolso ao longo deste ano

Refeições: preços devem subir menos neste ano, ajudados pela supersafra (Dulla/Fotomontagem/VEJA)

Refeições: preços devem subir menos neste ano, ajudados pela supersafra (Dulla/Fotomontagem/VEJA)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 20 de março de 2017 às 09h46.

Última atualização em 20 de março de 2017 às 10h06.

São Paulo - Com a maior oferta de alimentos graças à supersafra e a desaceleração no preço dos serviços, comer dentro e fora de casa deve subir menos em 2017, garantem especialistas.

Fábio Romão, economista da consultoria LCA, acredita que o preço da alimentação em casa terá uma alta de 4,7%, a menor valor desde 2009.

A projeção do economista representa uma desaceleração do ritmo de alta em 32%, já que a alimentação em casa teve alta de 9,36% em 2016, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

"Ainda não vai compensar as altas anteriores, mas vai desacelerar e se posicionar próximo à inflação, projetada para 4,66%, o que é um ganho importante para o consumidor", diz.

Já para o preço da alimentação fora de casa, a expectativa da LCA é de alta de 6% em 2017 ante um avanço de 7,22% visto em 2016.

A alimentação fora de casa varia mais do que a alimentação em casa porque está ligada não só à oferta de alimentos, mas também ao lazer, ou seja, à decisão de comer na rua.

Em 2015 e 2016, a refeição fora do lar teve uma variação menor de preço do que comer em casa, o que não costuma ser visto.

Segundo Romão, isso ocorreu por causa do momento econômico, que acarretou, entre outros fatores, o encolhimento do mercado consumidor.

Nestas condições, os donos de restaurantes não tiveram espaço para mexer nos preços e fizeram até promoções.

Em 2017, além da ajuda da safra, é prevista uma estabilização da economia, o que deve fazer com que a alimentação fora de casa retorne à dinâmica "normal", com os preços variando mais do que a alimentação em casa.

O economista da Infinity Asset, Jason Vieira, alerta que ainda não será visto um processo de deflação nos alimentos, quando há uma queda generalizada de preços, por causa de fatores como a demanda e fenômenos climáticos, que mantêm o preço em alta.

Vieira projeta uma alta de 0,28% no Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) em abril e alta de 0,12% no grupo de Alimentos.

A grande questão é se as projeções vão se refletir no prato do consumidor. Para Paula Cavagnari, diretora-presidente Associação das Empresas de Refeição e Alimentação (Assert), o preço médio da refeição completa pode cair após três altas consecutivas.

Pesquisa da Assert mostra que o preço médio da refeição em 2016 foi 8% mais caro que em 2015. "A tendência agora é de queda porque esse 8% é maior que a inflação oficial, de 6,29%, apesar de ter acompanhado o aumento do grupo alimentação", explica Cavagnari.

No bolso

Em 2016, o consumidor desembolsou, em média, R$ 32,94 por uma refeição completa (prato principal, bebida, sobremesa e café). O valor foi de R$ 30,48 em 2015 e de R$ 27,36 em 2014.

Em algumas cidades, o consumidor pagou bem mais que a média. Foi o caso de Florianópolis (R$ 43,53), Vila Velha (R$ 37,49) e São Luís (R$ 36,96). Paula, da Assert, explica que esse número é composto, entre outros fatores, pelo alto custo da logística, dos alimentos, de vida e aluguel dessas cidades.

Por outro lado, os consumidores de São José dos Pinhais e Uberlândia pagaram mais barato pela refeição: R$ 23,08 e R$ 24,64, respectivamente. O estudo foi feito de 11 a 28 de novembro, em 4.574 estabelecimentos que aceitam vale-refeição.

A pesquisa da Assert, conduzida pelo Instituto Datafolha, também apontou um aumento dos estabelecimentos com autosserviço, o self-service.

Em 2016, 58% dos restaurantes pesquisados foram desse tipo, ante 54% em 2015. Paula explica que esse aumento reflete a preocupação dos donos em atender uma clientela que busca preços menores para se alimentar.

O peso da crise no bolso e no prato em 2014 e 2015, porém, não fez com que o consumidor administrassem os gastos na alimentação fora de casa.

Uma pesquisa realizada pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) e pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) mostra que uma em cada cinco pessoas que possuem vale restaurante e/ou alimentação não controlam os gastos feitos com essa modalidade.

Outros 27% admitem extrapolar o valor antes da recarga da empresa, sendo necessário complementar o total.

O conhecido "VR" deveria ser um aliado do brasileiro, já que dá um alívio ao bolso e permite fácil controle de gastos. A economista-chefe do SPC, Marcela Kawauti, pondera que "o brasileiro tende a deixar de lado o controle financeiro".

O benefício é viabilizado por meio do Programa de Alimentação do Trabalhador (PAT), do Ministério do Trabalho, que complementa a alimentação do trabalhador em parceria com as empresas.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Acompanhe tudo sobre:AlimentaçãoInflaçãoPreços

Mais de Economia

BNDES vai repassar R$ 25 bilhões ao Tesouro para contribuir com meta fiscal

Eleição de Trump elevou custo financeiro para países emergentes, afirma Galípolo

Estímulo da China impulsiona consumo doméstico antes do 'choque tarifário' prometido por Trump

'Quanto mais demorar o ajuste fiscal, maior é o choque', diz Campos Neto