Economia

Apesar do sucesso chinês, Pequim ainda precisa da capitalista Hong Kong

Região representa cerca de 3% do PIB chinês, mas é crucial para a circulação de capital devido ao seu sistema financeiro e ambiente de negócios

Bolsa de Hong Kong: país tem poucas restrições a negócios, ao contrário da China continental (Vincent Isore/IP3/Getty Images)

Bolsa de Hong Kong: país tem poucas restrições a negócios, ao contrário da China continental (Vincent Isore/IP3/Getty Images)

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AFP

Publicado em 16 de agosto de 2019 às 14h42.

Última atualização em 16 de agosto de 2019 às 14h44.

Hong Kong hoje pesa menos para o PIB chinês do que quando foi reanexada à China em 1997, mas a região semiautônoma, abalada por um movimento pró-democracia sem precedentes, continua a ser a principal porta de entrada do mundo para Pequim.

A crise política na ex-colônia britânica coloca em risco a economia de Hong Kong e pode ter consequências piores do que as da crise financeira de 2008, alertou recentemente a chefe do Executivo local, Carrie Lam, indicada por Pequim.

Tal desaceleração teria consequências para Pequim, embora o PIB de Hong Kong já represente apenas 3% do PIB da China, comparado a cerca de 18,5% em 1997, segundo dados do Banco Mundial.

A ex-colônia britânica mantém, contudo, um lugar preponderante para a segunda potência econômica do planeta.

"A importância de Hong Kong na economia chinesa é desproporcional ao seu tamanho" de apenas 1.100 km2, diz Tianlei Huang em uma análise para o Peterson Institute, com sede em Washington.

Desde 1997, Pequim "desenvolveu enormes interesses econômicos e comerciais neste território. Os líderes chineses percebem que, para garantir sua própria prosperidade, a China ainda precisa de uma Hong Kong capitalista", afirmou Huang.

Em especial, porque alguns deles têm fundos nos bancos de Hong Kong e investiram diretamente no setor imobiliário, em empresas, ou em comércios territoriais.

"Há investimentos maciços em Hong Kong do que se chama de aristocracia vermelha", os membros da direção do partido comunista chinês, destaca Willy Lam, analista da Universidade chinesa de Hong Kong.

O território semiautônomo ocupa a quarta posição na classificação de 2019 do Banco Mundial sobre a viabilidade para fazer negócios, enquanto a China continental está na 46ª colocação.

Milhares de empresas chinesas se beneficiam da grande facilidade de circulação do capital, ao contrário do que acontece no restante do país.

De acordo com o Conselho de Desenvolvimento do Comércio de Hong Kong (HKTDC), cerca de 60% dos investimentos da China passam por Hong Kong. Em outra direção, a região semiautônoma é a maior fonte de investimento estrangeiro direto na China continental, de acordo com o HKTDC.

Grande praça financeira

Hong Kong é um dos maiores centros financeiros do mundo, e grande parte das empresas chinesas está listada lá.

Desde 1986, nove das dez maiores bolsas de valores neste mercado são de empresas chinesas, de acordo com a Hong Kong Exchanges e Clearing Limited (HKEX), que administra o índice Hang Seng.

As ações da gigante da Internet Tencent e da seguradora Ping An já são negociadas. E a gigante do comércio digital Alibaba, que está na Bolsa de Nova York, contempla um segundo lançamento no mercado da ex-colônia britânica para garantir acesso a investidores asiáticos, em meio à guerra tecnológica entre Pequim e Washington.

As empresas chinesas presentes na Bolsa de Valores de Hong Kong podem ser severamente afetadas, porém, se o movimento de protesto contra Pequim continuar.

"A capacidade de [a ex-colônia] movimentar capital para as empresas chinesas será prejudicada, se a instabilidade política persistir", diz Ming Sing, professor da Universidade de Ciência e Tecnologia de Hong Kong.

A retrocessão do território em 1997 foi enquadrada sob o princípio "um país, dois sistemas", um status especial que deve permanecer em vigor por 50 anos.

Essa autonomia oferece segurança jurídica a milhares de empresas estrangeiras (bancos, seguradoras, consultores) e centenas de empresas chinesas.

"As multinacionais americanas, europeias e asiáticas querem assinar seus contratos em Hong Kong, pois estarão sujeitas às leis e regulamentações britânicas", diz Willy Lam.

"Em Xangai, não há proteção comparável", completou.

Tensões

Desde junho, a população de Hong Kong protesta contra o alinhamento do governo da província com Pequim, que pretende aprovar uma lei que permite extradições.

Os protestos têm chamado atenção pela adesão da população e pela utilização de guarda-chuvas, utilizados para impedir que câmeras de vigilância capturem imagens dos rostos de manifestantes.

Nessa quinta (15), o governos chinês deslocou forças de segurança para a cidade de Shenzhen, próxima à fronteira com a região autônoma.

Enquanto isso, o presidente dos EUA, Donald Trump, disse esperar que Pequim atue com “humanidade” pelo bem das negociações comerciais.

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