Economia

Apesar de mais ao centro, discurso de Lula ainda estressa o mercado, diz economista

Na perspectiva do mercado, a volta de Lula ao jogo traz instabilidade pelos próximos dois anos e pode levar duas candidaturas "complicadas" ao páreo em 2022

Sérgio Vale, economista-chefe da consultoria MB Associados (foto/Exame Hoje)

Sérgio Vale, economista-chefe da consultoria MB Associados (foto/Exame Hoje)

FS

Fabiane Stefano

Publicado em 10 de março de 2021 às 19h48.

Última atualização em 10 de março de 2021 às 19h48.

Após ter suas condenações anuladas por decisão do Ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal, o ex-presidente Lula discursou na tarde desta quarta-feira (10) na sede do Sindicato dos Metalúrgicos, em São Bernardo do Campo. Nas duas horas atrás do púlpito, Lula criticou o negacionismo bolsonarista, defendeu as vacinas, criticou Moro e deu sinais de que, se eleito, deve assumir uma postura intervencionista na Petrobrás.

Na avaliação do economista Sérgio Vale, da consultoria MB Associados, apesar de indicarem um caminho de conciliação com o centro político, as falas do ex-presidente ainda estressam o mercado com incertezas e deixam dúvidas sobre a conduta sua conduta caso seja reconduzido à presidência.

"Ao acenar ao centro político, Lula mostra que está melhorando. Mas, do ponto de vista do mercado, ainda não é um discurso favorável, deixando o cenário difícil e incerto nos próximos dois anos", explicou Vale à EXAME. "Fica a expectativa sobre qual Lula deve governar caso ele ganhe: o Lula de 2003, paz e amor, ou o Lula de 2013, muito mais seguro e crente em seus posicionamentos? Isso estressa o mercado."

Ao falar sobre os combustíveis, tema de polêmica recente do governo Bolsonaro, Lula questionou que o preço do petróleo brasileiro siga o preço internacional, uma visão que é criticada por economistas por ser onerosa à Petrobras. O ex-presidente também defendeu o controle da dívida pública, que saltou a mais de 90% do PIB durante a pandemia, por meio do crescimento econômico. Vale, entretanto, vê problemas em ambos os posicionamentos.

É difícil solucionar a equação pela via do crescimento com uma dívida a 90% de um déficit de 2% do PIB. Um projeto fiscal ambicioso nessas condições não me parece muito favorável, pois pode piorar o cenário de juros e do câmbio. A ideia da Petrobrás não seguir o preço do mercado internacional, por exemplo, tem pouco fundamento econômico e causa muita preocupação. São discursos antigos e que precisam se adequar para ter aderência do mercado.

Sérgio Vale, economista-chefe da consultoria MB Associados

Vale ressalta que o governo do presidente Jair Bolsonaro também tem sido intervencionista na Petrobrás e, mesmo após muitas promessas, não conseguiu tocar a agenda de privatizações, especialmente da Eletrobrás e dos Correios - o que deixa o cenário político bastante nublado para 2022.

"Assim, chegamos em 2022 com duas principais candidaturas muito complicadas: de um lado uma agenda de reformas que não anda e, do outro, uma proposta de forte presença do estado que não parece ser negociável", disse Vale. "Com isso, a tendência é continuidade da instabilidade no mercado."

Acompanhe tudo sobre:Governo BolsonaroLuiz Inácio Lula da SilvaPetrobrasPolítica fiscalPrivatização

Mais de Economia

BNDES vai repassar R$ 25 bilhões ao Tesouro para contribuir com meta fiscal

Eleição de Trump elevou custo financeiro para países emergentes, afirma Galípolo

Estímulo da China impulsiona consumo doméstico antes do 'choque tarifário' prometido por Trump

'Quanto mais demorar o ajuste fiscal, maior é o choque', diz Campos Neto