Anfavea: a produção de veículos no Brasil está há 18 meses em alta na comparação interanual (Getty Images/Getty Images)
Estadão Conteúdo
Publicado em 7 de maio de 2018 às 15h16.
São Paulo - Com o melhor resultado de vendas em mais de dois anos e o segundo maior volume de exportações da história, o presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Antonio Megale, fez uma avaliação positiva dos resultados da indústria automobilística em abril.
Como o mercado, apesar do crescimento de 21,3% que levou o consumo de veículos no Brasil para 763 mil unidades nos quatro primeiros meses do ano, segue abaixo da média histórica - de 951 mil veículos em igual período -, o executivo avaliou que as montadoras ainda têm espaço para crescer e reduzir a ociosidade das fábricas.
Segundo Megale, o aumento das vendas de caminhões, de 3,9% na passagem de março para abril, confirma a recuperação gradual, mas "progressiva", da economia brasileira.
O presidente da Anfavea destacou que a produção de veículos no Brasil está há 18 meses em alta na comparação interanual, o que permitiu um aumento de 4,1% da mão de obra empregada pelo setor no último ano. "O emprego está crescendo a 'conta-gotas', mas aumenta todo mês", assinalou o executivo.
O número de trabalhadores em regimes de flexibilização de jornada de trabalho - lay-off (suspensão de contratos) ou Programa de Sustentação do Emprego (PSE) - subiu de 1,5 mil para 1,7 mil de março para abril, mas a direção da Anfavea trata a situação como caso pontual. "Somente três empresas estão usando lay-off ou PSE", comentou Megale.
As exportações, de 73,2 mil veículos no mês passado, representaram o melhor abril em embarques da história e, considerando todos os resultados, o segundo melhor mês da série histórica, atrás apenas de maio do ano passado (73,4 mil). Já o consumo de veículos no Brasil, que alcançou 217,3 mil unidades no mês passado, teve o melhor resultado desde dezembro de 2015 (227,8 mil).
O presidente da Anfavea reconheceu que o setor observa com preocupação a situação da Argentina, principal destino das exportações das montadoras brasileiras.
Durante a apresentação dos resultados da indústria automobilística em abril, quando as exportações, puxadas pelo mercado vizinho, tiveram a segunda melhor marca da história, o executivo comentou que o aumento dos juros na Argentina tem impacto no financiamento de automóveis.
"Com certeza, nos preocupa. Tivemos movimento de volatilidade no câmbio, que também está afetando o Brasil. Fica mais difícil trabalhar com câmbio volátil", afirmou o presidente da Anfavea, acrescentando que a Argentina representa mais de 75% das exportações de veículos produzidos no Brasil.
Apesar disso, ele salientou que o mercado argentino ainda mostra um quadro positivo, com perspectiva de vendas próximas de 1 milhão de veículos neste ano, e informou que, até o momento, nenhuma encomenda vinda do parceiro do Mercosul foi cancelada.
"É cedo para dizer se a situação argentina vai impactar de forma mais ou menos importante. O governo da Argentina está tomando medidas adequadas para impedir crescimento maior da inflação. Uma vez controlada a inflação, acreditamos que haverá relaxamento e o mercado financeiro volta a funcionar normalmente", assinalou Megale.
O presidente da Anfavea disse também que a nova política automotiva, batizada de Rota 2030, está em fase final de elaboração e defendeu os incentivos a pesquisa e desenvolvimento, que foram o principal nó nas negociações com o Ministério da Fazenda em torno do regime setorial.
"Está muito no finalzinho, mas quem anuncia é o governo. Não dou mais data. Todas que eu dei, eu errei", afirmou o executivo, ao responder a uma pergunta relacionada ao prazo de anúncio do Rota 2030. "Me falaram nos próximos dias, mas prefiro falar em breve", disse Megale.
Ele observou que o presidente Michel Temer manifestou "em diversas ocasiões" que o Brasil terá uma política automotiva. Megale aproveitou para defender incentivos à pesquisa e desenvolvimento, que, segundo ele, são na verdade uma contrapartida dada para as empresas fazerem investimentos nessa área no Brasil, evitando que o País pague royalties por conta de tecnologias desenvolvidas no exterior.
"Deveríamos reter conhecimento, criar emprego de qualidade desenvolver cabeças aqui", afirmou Megale.