Carrinho de supermercado em corredor: também contribui para essa análise mais pessimista o alto nível da inflação, que reduz o impulso para o consumo (spijker/Creative Commons)
Da Redação
Publicado em 10 de outubro de 2013 às 18h26.
São Paulo - As incertezas econômicas e políticas do País, refletidas na queda dos índices de confiança de consumidores e empresários, devem resultar em um Produto Interno Bruto (PIB) no terceiro trimestre menor do que o do segundo trimestre, se não nulo. Um grupo de especialistas consultado pelo Broadcast, serviço de notícias em tempo real da Agência Estado, reconhece que o nível de atividade no terceiro trimestre está apresentando sinais mais fracos do que o esperado, mas por enquanto descarta números negativos.
Também contribui para essa análise mais pessimista o alto nível da inflação, que reduz o impulso para o consumo, e o juro em alta, que inibe as iniciativas de investimento do setor privado. Nem a valorização do dólar traria alívio neste ano para as empresas exportadoras, dada a desvalorização das commodities e a demanda global fraca. Além disso, o legado das manifestações de junho foi o aumento da preocupação e da cautela tanto na ponta da demanda como na de oferta.
A professora da PUC-RJ Monica Baumgarten de Bolle pondera que as famílias e empresários perceberam que "não há liderança do governo sobre os rumos do País" e isso afetou de forma substancial o consumo e os investimentos no terceiro trimestre. Ela estima que o PIB deve apresentar um resultado nulo entre julho e setembro, depois de ter registrado, segundo sua projeção, uma expansão de 1% no segundo trimestre.
"Temos dois Brasis diferentes neste ano. No primeiro semestre, a atividade registrou uma certa expansão, enquanto no começo do segundo semestre ela está em queda", destacou. De acordo com a acadêmica, de janeiro a junho a economia deve ter apresentado um ritmo de expansão de 3,5%, em termos anualizados, enquanto a velocidade deve ficar bem menor (0,6%) no segundo semestre, na mesma forma de cálculo. Neste contexto, ela espera que o PIB deverá avançar 2% neste ano.
Para a professora da PUC-RJ, além da inflação alta e do elevado endividamento das famílias registrados na primeira metade do ano, as manifestações populares iniciadas em junho agregaram mais um elemento que está corroendo a confiança dos consumidores e diminuindo as perspectivas de investimentos no curto prazo. "Isso aconteceu por causa de fatores diretos e indiretos: os diretos porque muita gente deixou de fazer compras com medo das manifestações", destacou. O reflexo indireto, diz, estaria na cautela gerada na população pela percepção de que as condições sociais e econômicas do País pioraram.
"Um fator que chama a atenção é que a popularidade da presidente (Dilma Rousseff) caiu 30 pontos porcentuais no auge das manifestações, mas depois que elas passaram a melhora registrada foi muito baixa, de quase seis pontos porcentuais", ponderou Monica de Bolle. Segundo ela, esse fato sinaliza que muitos cidadãos estão reticentes com o governo e isso acaba tendo impactos mais prolongados sobre o consumo, com geração de estoques indesejados nas indústrias.
Lista negativa
Apesar de ainda prever um crescimento de 0,2% a 0,3% para o PIB do terceiro trimestre, o diretor de Pesquisa Econômica da GO Associados, Fabio Silveira, também traça um cenário negativo para a economia brasileira da metade 2013 até o final do próximo ano. "A indústria cresce pouco e não vai ser beneficiada pela alta do dólar, a massa salarial perdeu o dinamismo e deve crescer 2,5%, o varejo vai crescer menos e o investimento industrial não tem evidências de um crescimento legítimo", disse.
Silveira lembra que o juro real elevado vai pesar no segundo semestre e irá colaborar para frear a atividade econômica. "Isso é que dá ter economia desequilibrada. No primeiro semestre foi a inflação e, no segundo semestre, o juro elevado. No meio do caminho, a desvalorização cambial."
Para o diretor da GO Associados, a indústria brasileira pouco vai se beneficiar da alta do dólar, porque os setores exportadores de alto e médio valores agregados, minoria na pauta, sofrem com uma demanda fraca por conta do baixo crescimento dos mercados externos. "Já as commodities, que poderiam ser beneficiadas, tiveram uma queda forte nos preços em dólar no exterior que não foi compensada pela alta da moeda aqui."
Diante do cenário negativo e dos juros reais altos, Silveira foi um dos primeiros economistas a prever, há um mês, que o governo pode reduzir a Selic no início de 2014 para tentar reaquecer a economia. "Mesmo assim, olhando todo esse tabuleiro, não é difícil imaginar que possamos revisar o crescimento do PIB do próximo ano de 3% para 2,5%."
Luz amarela
O economista e estrategista para o Brasil do banco Barclays, Guilherme Loureiro, se mostra menos pessimista e diz que os indicadores de junho, como a alta da produção industrial de 1,9% na margem, "afasta o risco de um resultado negativo" do PIB entre julho e setembro. Contudo, ele destaca que resultados do setor manufatureiro colhidos no mês passado "acenderam uma luz amarela."
Ele estima que a produção industrial no período deve ter caído 0,5% em julho ante junho. Neste contexto, ele acredita que o PIB desacelerou de uma alta de 0,8% entre abril e junho para 0,6% no terceiro trimestre. Ele ressalva, no entanto, a queda dos indicadores de confiança das empresas e dos consumidores pode levar a uma expansão ainda menor no terceiro período do ano.
"O ritmo do PIB perdeu força no final do segundo trimestre, o que trouxe mais dificuldades para o crescimento do País neste trimestre", destacou Loureiro, lembrando que a alta, ainda que contida, da taxa de desemprego, também cria incertezas sobre os rumos da economia. Esses fatores, diz, "não são favoráveis para que o segundo semestre apresente uma expansão maior do que a registrada na primeira metade do ano".
Loureiro avalia que a economia de julho a dezembro exibirá uma alta de 2,4% em termos anualizados, abaixo dos 2,8% que ele estima para a primeira metade deste ano. Para o ano completo, Loureiro estima crescimento de 2,3%.