Açúcar e feijão preto são vendidos em mercearia de Havana, Cuba (Yamil Lage/AFP)
Da Redação
Publicado em 6 de janeiro de 2015 às 17h26.
Havana - Após a histórica reconciliação com Cuba, o presidente americano, Barack Obama, pretende que o Congresso elimine as sanções contra o regime comunista da ilha, mas alguns especialistas acreditam que a economia cubana não está pronta para o fim do embargo de meio século.
"As fracas estruturas da economia cubana não estão preparadas para enfrentar a entrada de empresas norte-americanas, pois muitas reformas do presidente Raúl Castro ainda não dão resultado e outras, as mais importantes, aguardam aplicação", explicou à AFP o acadêmico Carlos Alzugaray.
"Para uma situação tão inesperada como esta não há como se preparar. Se é difícil se preparar para uma eventual guerra, mais difícil é se preparar para uma súbita declaração de paz", ponderou Alzugaray.
"Por sorte, a suspensão do bloqueio será um processo lento e provavelmente gradual, o que permitirá também uma adaptação em Cuba", ressaltou.
O embargo foi decretado pelo presidente John F. Kennedy em 3 fevereiro de 1962 e desde então as autoridades cubanas dizem ser este o principal obstáculo para o desenvolvimento da ilha. No entanto, alguns analistas - assim como os dissidentes - afirmam que o bloqueio é usado pelo governo cubano para justificar seus próprios fracassos econômicos.
"O governo cubano não terá mais a desculpa de que os problemas da ilha se devem ao embargo americano", disse à AFP o analista Patricio Navia, da Universidade de Nova York.
O processo de retomada das relações diplomáticas com Cuba - rompidas em 1961 -, anunciado por Obama em 17 de dezembro, veio acompanhado por várias medidas para flexibilizar algumas sanções, mas o embargo só pode ser suspenso pelo Congresso americano, que depois das eleições legislativas terá maioria republicana.
Rum e tabaco, os beneficiados
"O que vamos dizer (agora), que prorroguem a suspensão do embargo porque não estamos preparados?", questionou o acadêmico Esteban Morales. "Se não estivermos, não merecemos sobreviver depois de mais de 50 anos de bloqueio", acrescentou.
O fim do embargo permitiria a exportação de produtos cubanos aos Estados Unidos, mas as maiores vendas seriam inicialmente de rum e tabaco, que agora representam um total de 600 milhões de dólares, menos de 4% dos 17,5 bilhões do total de exportações da ilha.
Os serviços profissionais, principalmente médicos, que são a principal exportação cubana (gerando cerca de 11 bilhões por ano), não poderão ser oferecidos no Estados Unidos, assim como não são contratados pelos países da União Europeia (UE). Seus principais clientes devem continuar sendo nações do Terceiro Mundo na América Latina, na África e na Ásia.
Os medicamentos, outra próspera exportação cubana com receitas de 900 milhões de dólares anuais, encontram dificuldades de entrada na UE devido a suas rígidas normas sanitárias, equivalentes àquelas vigentes nos Estados Unidos.
Alguns otimistas, outros preocupados
Jerome Cottin, o diretor-geral da companhia franco-cubana Havana Club International, que comercializa o rum cubano no mundo, disse à imprensa que sua empresa está está "pronta para conquistar o mercado americano".
A companhia, uma sociedade entre a francesa Pernot Ricard e o Estado cubano, vem se preparando para a entrada nos Estados Unidos.
"O acesso ao mercado norte-americano pode trazer um crescimento forte, importantíssimo", disse Cottin.
Já os setores de informática e de entretenimento demonstram preocupação. Sob o guarda-chuva do embargo, Cuba utiliza sem adquirir os direitos de muitos programas de informática, e da mesma forma exibe filmes americanos na televisão e no cinema. Com o fim do embargo, esse pagamento terá que ser feito.