Notas de iuane: o índice de referência das bolsas chinesas, o Shanghai Composite Index, registrou nesta segunda-feira sua maior queda (-8,49%) nos últimos oito anos (Getty Images)
Da Redação
Publicado em 24 de agosto de 2015 às 17h55.
Pequim - Com um crescimento mais lento e a bolsa em queda livre, a China está provocando um terremoto nos mercados financeiros mundiais e os analistas criticam a falta de reação das autoridades chinesas diante dos acontecimentos.
O índice de referência das bolsas chinesas, o Shanghai Composite Index, registrou nesta segunda-feira sua maior queda (-8,49%) nos últimos oito anos.
O pessimismo sobre a situação da segunda maior economia do mundo se intensificou, arrastando os mercados financeiros de todo o mundo.
O regime de Pequim presumiu durante anos ter transformado a economia do país com décadas de crescimentos de dois dígitos; mas seu grande programa de resgate não está conseguindo deter a queda das bolsas e as medidas que podem ajudar a disseminar confiança na economia real - como redução de impostos e das taxas de juros - não estão surtindo efeito.
As autoridades devem demonstrar que controlam a situação, opina Christopher Balding, economista do HSBC Business School em Shenzhen. "É preciso demonstrar muito mais liderança nessa situação, e alguém deve se encarregar de mandar uma mensagem consistente", afirmou.
Segundo ele, é necessária uma queda das taxas de juros, depois que os preços do produtor caíram 5,4% ao ano em julho pelo 41º mês consecutivo.
O ritmo do crescimento chinês está caindo há anos, o que muitos consideram um passo positivo para um desenvolvimento mais sustentável, mais orientado ao consumo interno do que os pesados investimentos do passado.
Uma mudança dessa magnitude leva tempo e a atividade varejista ainda deve cumprir o seu papel, enquanto os investimentos são reduzidos.
Andy Xie, um economista independente radicado em Xanghai, acha que as autoridades deveriam cortar impostos em dois trilhões de iuanes (312 bilhões de dólares) durante anos, citando o exemplo dos Estados Unidos, no início da crise de 2008.
"É uma forma muito potente de estimular o consumo", afirma Xie, que acusa o governo chinês de "não se concentrar na economia e pensar em outras coisas".
No momento, o Partido Comunista Chinês está muito envolvido com a enorme parada militar que comemorará, na próxima semana, o 70º aniversário da derrota do Japão na Segunda Guerra Mundial, mobilizando milhares de pessoas para os preparativos.
Muito equivocado
O PIB chinês subiu 10,6% em 2011, mas seu crescimento caiu para 7,4% em 2014.
No segundo trimestre de 2015, o PIB chinês atingiu a meta do governo para 2015, um aumento perto de 7%, o que levou alguns analistas a questionar o dado.
Uma inesperada desvalorização do iuane em agosto - o que deveria estimular as exportações - suscitou o medo de que a situação seja pior do que parece.
O índice PMI sobre a atividade industrial chinesa, publicado na sexta-feira, registrou seu pior dado nos últimos sete anos.
O governo tem agido para tentar conter a crise. Desde novembro do ano passado, já reduziu quatro vezes a taxa básica de juros e também cortou o encaixe compulsório dos bancos, a fim de estimular os empréstimos.
Brian Jackson, um economista da IHS Economics em Pequim, acha que o governo teve alguns acertos, como um setor de construção estável e um aumento da demanda por moradias.
Mas Liu Li-Gang, um especialista chinês da ANZ, acredita que a demora de Pequim em tomar medidas mais agressivas é "muito estranha". Para ele, a decisão do governo de investir bilhões de iuanes para proteger a bolsa, enquanto reduz seus gastos em áreas fundamentais, é "muito equivocada".