Lava Jato: escândalos colocam os políticos sob pressão para melhorar a economia do país (José Cruz/Agência Brasil)
Da Redação
Publicado em 16 de março de 2017 às 14h34.
O título de escândalo de corrupção pública mais desgastante do mundo atualmente é do Brasil, onde a Operação Lava Jato já dura mais de dois anos e envolveu importantes executivos corporativos e dezenas de políticos eleitos, incluindo dois ex-presidentes. A dúvida é se a investigação será um obstáculo às necessárias reformas econômicas -- ou se as impulsionará.
Tudo é possível e a iminente divulgação de transcrições sigilosas de delatores do caso com certeza implicará ainda mais políticos. Em outras palavras, a situação ainda vai piorar antes de melhorar.
Mas o combate à corrupção é essencial para romper não apenas a tóxica ligação entre negócios e governo, mas também a desconfiança e a baixa estima da população em relação aos políticos eleitos no Brasil.
Um dos maiores desafios que o presidente Michel Temer e sua maioria legislativa enfrentam é a reforma do sistema previdenciário do Brasil, que atualmente não tem idade mínima de aposentadoria, beneficia até mesmo aqueles que nunca contribuíram, representa uma proporção maior da renda pré-aposentadoria do que a da maioria dos países desenvolvidos e está atrelado aos aumentos do salário mínimo. O déficit da Previdência representa mais da metade do déficit orçamentário do governo.
Ironicamente, a luta contra a corrupção pode facilitar a realização das mudanças necessárias, mas impopulares -- como a idade mínima de aposentadoria e a necessidade de trabalhar por mais tempo.
As reformas no financiamento de campanha tornaram os parlamentares mais dependentes do financiamento estatal, dando uma vantagem a Temer.
Além disso, a insatisfação da população e os escândalos colocaram os parlamentares sob uma pressão maior para tirar o Brasil de seu buraco fiscal e aliviar a crise econômica do país.
Eles poderiam facilitar a própria tarefa se aplicassem alguma austeridade às suas próprias pensões e regalias, que são mais liberais.
Temer poderia se basear em suas propostas recentes para simplificar o labiríntico código tributário do Brasil, tornando-o também mais progressista -- algo que reduziria o desgaste político com a austeridade.
Os parlamentares deveriam não apenas abandonar o esforço escandaloso para arquitetar uma anistia para crimes de financiamento de campanhas passadas; eles também deveriam ajustar as mudanças feitas em 2015 nas regras que proibiram o uso de dinheiro corporativo, mas que tiveram a consequência não intencional de estimular doações de campanha do crime organizado.
Temer prometeu remover todo assessor ou ministro formalmente acusado pelos procuradores. Com o surgimento de novas revelações, esse é um compromisso que ele precisará manter.
A corrupção é corrosiva tanto para o corpo político brasileiro quanto para as reformas necessárias para recuperar e fortalecer a economia do Brasil.