Fernando Haddad, ministro da Fazenda (Ton Molina/NurPhoto/Getty Images)
Redação Exame
Publicado em 12 de junho de 2024 às 18h56.
Por Lucas Aragão
No binário mundo da política, políticos que se mostram preocupados com o mercado muitas vezes são acusados de não se importarem com os mais pobres. O oposto também acontece. No entanto, é possível se preocupar com ambas as variáveis.
Nenhum político deveria governar focando-se exclusivamente nos rumos do mercado, mas deve levá-lo a sério. Afinal, um cenário fiscal desorganizado e um mercado que não confia no governo têm efeitos práticos na vida dos mais pobres. Por exemplo, quando o câmbio se desvaloriza, os preços sobem, principalmente de produtos básicos como energia, combustível e alimentos.
Nas últimas semanas, vimos o mercado financeiro sofrer um abalo. Mudanças no arcabouço fiscal, demissões na Petrobras e a polêmica e já enterrada Medida Provisória do PIS/Cofins contribuíram para que alguns agentes questionassem o prestígio e até mesmo a permanência do ministro Fernando Haddad.
Hoje mesmo (12), recebi ligações da tesouraria de um grande banco e de alguns fundos de investimentos locais e estrangeiros perguntando se Haddad sairia do governo. Não vai.
Discordo um pouco da tese de que Haddad perdeu força e influência. Obviamente, ele não está em um momento positivo, mas ainda o vejo como o ministro mais influente junto ao presidente. A percepção de enfraquecimento é natural, afinal, Haddad pensa diferente de Lula. Quase todas as suas vitórias precisam ser construídas. Ele precisa convencer Lula a tomar decisões que normalmente não gostaria de tomar. Além disso, suas medidas são ponto central da agenda legislativa do governo. Ou seja, precisam passar pelo turbulento Congresso Nacional. Vitórias assim são mais difíceis e demoradas do que simplesmente concordar e acompanhar o presidente em suas teses originais. Haddad nem sempre “acompanha o relator”.
Esse é um dos motivos que faz com que Haddad tenha boa aceitação no mercado: pensar diferente de Lula. Mas Lula precisa mostrar com mais frequência que Haddad o convence. Se Haddad perder a capacidade de convencer Lula, ele perde o mercado também. E para Lula, isso é muito ruim. Ser “cancelado” pelo mercado teria efeitos rápidos e intensos no câmbio, na inflação, no poder de compra, no crédito, na capacidade das empresas investirem e empregarem. Teria também efeito imediato no humor do setor produtivo, do Congresso Nacional, de parte da imprensa e da sociedade civil.
O mercado financeiro vê em Haddad um ministro da Fazenda mais pragmático e responsável do que a esmagadora maioria dos seus correligionários no PT. Não existe uma história de amor entre mercado e Haddad, mas sim uma confiança de que sua permanência é muito mais positiva do que negativa.
Por isso, Haddad precisa de uma vitória política. Precisa de um movimento de Lula que comprove o que muitos hoje duvidam: que Haddad é um ministro influente, capaz de convencer e influenciar Lula em pautas historicamente difíceis para o PT.
Lucas Aragão é diretor e sócio da Arko Advice