(Adriano Machado/Reuters)
Repórter especial de Macroeconomia
Publicado em 20 de agosto de 2024 às 16h34.
Durante a sessão de perguntas e respostas que realizou com o presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, nesta terça-feira, 20, no Macro Day, o CEO do BTG Pactual (do mesmo grupo de controle da EXAME), Roberto Sallouti, afirmou que a queda no preço do dólar e a redução das expectativas de inflação para 2025 nas últimas semanas decorrem da precificação pelo mercado de que os juros subirão na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom). Uma análise precisa dos fatos. Campos Neto, por sua vez, evitou sinalizar se o BC aumentará a Selic. Disse apenas que o cenário pouco mudou, com uma melhora do ambiente externo.
O fato concreto é que a queda das expectativas de inflação no Brasil, a redução no preço do dólar e alta da Bolsa, decorrem da combinação de melhora do ambiente externo, que precifica queda dos juros nos Estados Unidos, que se soma a precificação de alta da Selic pelo BC.
Em suma, os investidores estrangeiros têm aportado capital no país diante desse contexto.
Segundo agentes de mercado brasileiros e estrangeiros ouvidos pela EXAME nos últimos dias, se o BC não subir os juros após uma sinalização tão explícita, o impacto sobre a credibilidade e sobre o preço dos ativos tende a ser forte. "O risco é de o dólar, que caiu de R$ 5,65 para R$ R$ 5,40, ultrapassar os R$ 6,00", resumiu um deles.
Um experiente analista de mercado com passagem pelo governo relembrou à EXAME que, além de adotar uma comunicação mais forte na última ata do Copom, o BC escalou o diretor de Política Monetária, Gabriel Galípolo, para reforçar a mensagem de que os juros subiriam se fosse necessário.
Galípolo é cotado para ser o próximo presidente da autoridade monetária. Muitos interpretaram as falas do diretor como uma resposta aos questionamentos sobre como seria sua gestão: alinhada ao PT ou pautada por decisões técnicas e que podem desagradar o governo.
"A alta de juros é o preço colocado pelo mercado para a futura gestão de Gabriel Galípolo. Os discursos das últimas semanas indicaram uma transição e que ele deve assumir como presidente do BC. Agora, ele precisa entregar o que prometeu nos discursos ao afirmar que a meta de inflação é de 3% e que fará o que for preciso para atingir o objetivo, inclusive subir os juros. Essa alta de juros está precificada", disse o executivo de forma reservada. "O risco, agora, é o Copom não subir os juros e ser pouco convincente nas explicações dessa decisão."
Quem se reuniu com o diretor de Política Monetária em eventos públicos e privados nos últimos meses tem interpretado nas suas afirmações que ele não será leniente no controle da inflação.
Galípolo resumiu como tem sido e como será atuação no BC em evento da Warren Investimentos, em 12 de agosto. Ele disse que o tom de suas falas tem sido coerente, assim como com os votos no Copom.
"Fala e ação de diretor de política monetária têm que ser coerentes. Olhar para um lado e tocar para o outro fica bem para o Ronaldinho Gaúcho", disse na ocasião.
Essa frase de Galípolo foi interpretada como uma sinalização de que ele foi escalado para sinalizar a alta de juros e que o Copom cumprirá a promessa.
Caso o BC não suba os juros e não explique de maneira convincente o que já está precificado pelo mercado, a tendência é de encarecimento do dólar, elevação das expectativas de inflação e uma elevação da curva de juros futuros, que são um termômetro para os investidores.
Se os juros futuros sobem é melhor manter o dinheiro aplicado em ativos de renda fixa do que investir na economia real. Juros futuros em queda tendem a aumentar o apetite de risco e canalizam recursos para a economia real.
Além disso, a coerência entre o discurso e a ação serão fundamentais para garantir credibilidade do BC perante o mercado, que desconfia de possíveis intervenções do governo do PT na política monetária.
O sucesso ou não de uma eventual gestão de Galípolo será apresentados a partir da próxima reunião do Copom, em 18 de setembro. Serão 30 dias de expectativa.