(Antônio Cruz/Agência Brasil)
Repórter especial de Macroeconomia
Publicado em 4 de junho de 2024 às 14h45.
Última atualização em 4 de junho de 2024 às 15h16.
O crescimento de 0,8% do Produto Interno Bruto (PIB) no primeiro trimestre surpreendeu positivamente o mercado, o governo e mostra que a atividade econômica em 2024 é menos dependente do agronegócio, com forte crescimento dos investimentos.
De janeiro a março, o destaque foi o setor de serviços - o maior da economia - que registrou alta de 1,4%, impulsionado pelo consumo das famílias, com variação positiva de 1,5%. Mas esses dados precisam ser avaliados com cuidado.
Em economia, os detalhes importam. E muito. Por isso, é necessário entender o que tem impulsionado esses setores. E a resposta é simples: o impulso fiscal do governo, que tem injetado bilhões na economia desde 2023, mostra que a geração de riquezas no país foi anabolizada com dinheiro público.
Os reajustes reais do salário mínimo e o consequente aumento dos benefícios previdenciários, o aumento do emprego, o Bolsa Família repaginado, o pagamento de quase R$ 100 bilhões em precatórios e uma melhora da oferta de crédito alavancaram o consumo das famílias.
Com mais dinheiro na conta, os brasileiros têm gastado mais, o que explica a alta do consumo das famílias e o avanço dos setores de serviços e comércio varejista.
“O governo está fazendo um estímulo forte pelo lado fiscal, que é parcialmente compensado pelo Banco Central, com um política monetária contracionista. O que preocupa é que esse tipo de expansão tem efeito de curto prazo. Para garantir crescimento de longo prazo tem que olhar para a oferta e para os investimentos”, afirma o economista Roberto Ellery, professor da Universidade de Brasília (UnB).
Segundo Ellery, o crescimento econômico impulsionado pelo consumo das famílias traz uma pressão adicional para a inflação.
Com mais dinheiro disponível para gastar sem um aumento da oferta de produtos e serviços há um estímulo ao processo generalizado de aumento de preços.
Para Eduardo Velho, economista-chefe da JSF Trust, o resultado positivo do PIB precisa ser relativizado diante da política fiscal expansionista que tem estimulado a consumo das famílias. “Demanda maior significa inflação maior na frente”, diz.
O aumento dos gastos do governo, afirmou Velho, deve impactar em déficit primário maior do que o esperado, o que afetará ainda mais as expectativas de inflação.
Na prática, significa dizer que não há mais espaço para a queda de juros.
“Olhando para a frente, o ritmo de crescimento do PIB talvez não seja compatível com inflação na meta em 2025 já que temos um estímulo pelo consumo das famílias. A composição do crescimento econômico é importante e como ele afeta a inflação também deve ser observado com cuidado”, afirma.
Apesar das pressões inflacionárias, o dado mais positivo do PIB está na formação bruta de capital fixo (FBCF), que cresceu 4,1% impulsionado pela importação de bens de capital, pelo desenvolvimento de software e pela construção civil. Porém, quando se analisa o acumulado em quatro trimestres, a FBCF ainda acumula retração de 2,7%.
Além disso, a produção de bens de capital no Brasil ainda está no terreno negativo, o que mostra que a indústria patina.
Com uma taxa de investimento em 16,9% do PIB no primeiro trimestre do ano, ligeiramente abaixo do dado de 2023, mais investimentos são essenciais para a geração de emprego, renda e crescimento sustentável.