Economia

Análise: Copom deixa a porta aberta para acelerar ritmo de alta da Selic para 0,5 ponto percentual

Essa possibilidade passa a ser discutida diante dos alertas feitos pelos diretores do Banco Central (BC) quanto aos riscos para o aumento da inflação

Banco Central: membros do Copom afirmaram que desancoragem das expectativas de inflação, atividade econômica aquecida, riscos externos e fiscais justificam alta de juros (Leandro Fonseca/Exame)

Banco Central: membros do Copom afirmaram que desancoragem das expectativas de inflação, atividade econômica aquecida, riscos externos e fiscais justificam alta de juros (Leandro Fonseca/Exame)

Antonio Temóteo
Antonio Temóteo

Repórter especial de Macroeconomia

Publicado em 18 de setembro de 2024 às 19h45.

Última atualização em 18 de setembro de 2024 às 23h30.

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Os membros do Comitê de Política Monetária (Copom) deixaram a porta aberta para acelerar o ritmo de alta de juros para 0,5 ponto percentual, após subir a Selic em 0,25 ponto percentual nesta quarta-feira, 18, para 10,75% ao ano. Essa possibilidade existe diante dos alertas feitos pelos diretores do Banco Central (BC) quanto aos riscos para o aumento da inflação no horizonte revalente de 12 a 18 meses à frente.

A projeção do Copom para a inflação no primeiro trimestre de 2026 subiu de 3,4% para 3,5%. A meta perseguida pelo BC é de 3%. Com a inflação fora da meta, os juros tendem a subir.

Além disso, os diretores do BC afirmaram que o balanço de riscos para a inflação tem uma "assimetria altista". Significa dizer que os membros do Copom temem que o risco maior é  de eleveção do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) e não o contrário.

Três riscos majoritários foram apontados pelo Copom para a alta da inflação:

  • uma desancoragem das expectativas de inflação por período mais prolongado;
  • uma maior resiliência na inflação de serviços do que a projetada diante da resilência da atividade;
  • uma conjunção de políticas econômicas externa e interna que tenham impacto inflacionário.

Esse último apontamento considera que o ambiente externo permanece desafiador, em função dos Estados Unidos. Segundo o BC, há dúvidas sobre os ritmos da desaceleração da atividade econômica, da desinflação e, consequentemente, sobre a postura que o Federal Reserve ( FED) adotará em função dessas variáveis. Para além disso, o desequilíbrio fiscal no Brasil foi apontado pelos membros do Copom como um outro fator de risco.

"O Comitê monitora com atenção como os desenvolvimentos recentes da política fiscal impactam a política monetária e os ativos financeiros. A percepção dos agentes econômicos sobre o cenário fiscal, junto com outros fatores, tem impactado os preços de ativos e as expectativas dos agentes", informou o Copom.

Riscos fiscais elevados

Apesar do discurso mais duro, o BC preferiu iniciar um ciclo de alta de juros de maneira gradual. Mas deixou a porta aberta acelerar o ritmo de elevação da Selic.

"O ritmo de ajustes futuros na taxa de juros e a magnitude total do ciclo ora iniciado serão ditados pelo firme compromisso de convergência da inflação à meta e dependerão da evolução da dinâmica da inflação, em especial dos componentes mais sensíveis à atividade econômica e à política monetária, das projeções de inflação, das expectativas de inflação, do hiato do produto e do balanço de riscos", informou o Copom.

O economista-chefe do BTG Pactual (do mesmo grupo que controla a EXAME), Mansueto Almeida, afirmou, em relatório aos clientes, que um novo ciclo de aumento de juros, sem sinais fortes do compromisso do governo com o controle do crescimento da despesa obrigatória, pode ocasionar o efeito adverso de aumentar ainda mais o risco fiscal. Isso implicaria, segundo Almeida, um crescimento mais rápido da dívida pública e juros mais elevados por um período mais longo, que pode levar a um crescimento menor em 2025 e 2026.

"Um dos maiores problemas do Brasil continua ligado ao desafio do ajuste fiscal. Tal ajuste segue sendo necessário para que se possa antever que em algum ano antes do final da década a dívida pública possa entrar em uma clara trajetória de queda. Sem essa perspectiva será difícil apostar na recuperação do grau de investimento do Brasil nos próximos anos, mesmo com o cumprimento das novas metas de primário que, na verdade, significam déficits primários pela metodologia de apuração do resultado fiscal pelo Banco Central e, assim, crescimento contínuo da dívida pública", disse.

O real compromisso do governo em equilibrar as contas públicas, com um ajuste fiscal que reduz os gastos e não só aumenta a receita, será fundamental para reduzir o ciclo de alta de juros e para contribuir com a queda da Selic. E essas medidas dependem exclusivamente de decisões tomadas no Palácio do Planalto.

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