Economia

Análise: BC tem credibilidade posta em jogo com mercado dividido sobre ritmo de alta de juros

A única certeza é que manter o ritmo de alta em 0,5 ponto percentual seria uma sinalização ruim, diante da piora das expectativas para a inflação

Sede do BC: no fim das contas, o que está em jogo é a credibilidade do Banco Central (BC) e da futura gestão de Gabriel Galípolo, atual diretor de Política Monetária (Leandro Fonseca/Exame)

Sede do BC: no fim das contas, o que está em jogo é a credibilidade do Banco Central (BC) e da futura gestão de Gabriel Galípolo, atual diretor de Política Monetária (Leandro Fonseca/Exame)

Antonio Temóteo
Antonio Temóteo

Repórter especial de Macroeconomia

Publicado em 10 de dezembro de 2024 às 17h38.

O mercado de juros precifica uma alta da Selic de 1 ponto percentual na reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) que ocorrerá nesta quarta-feira, 11. Essa aposta é reforçada pelas opções de Copom negociadas na B3 que indicam uma probabilidade de mais de 60% da taxa subir para 12,25%. Entre os economistas, entretanto, as estimativas indicam alta de 0,75 ponto percentual, como indicou a mediana apresentada pelo boletim Focus na última segunda-feira, 9. E no fim das contas, o que está em jogo é a credibilidade do Banco Central (BC) e da futura gestão de Gabriel Galípolo, atual diretor de Política Monetária.

Galípolo assumiu as rédeas da comunicação do BC nas últimas duas reuniões do Copom e tem sinalizado que o BC adotará as medidas necessárias para levar a inflação para a meta. E isso significa subir os juros e deixar a taxa em um patamar mais alto por mais tempo. Um ex-diretor da autoridade monetária afirmou reservadamente que agora chegou a hora de o futuro presidente do BC ganhar ou perder a credibilidade com a decisão que o colegiado tomará amanhã. "Agora ele precisa mostrar a que veio", resumiu.

Entretanto, economistas e analistas que acompanham o BC avaliam que a deterioração das expectativas no curto prazo exige uma ação enérgica da diretoria da autoridade monetária. Dessa forma, aumentar o ritmo de alta de juros é essencial. A incerteza entre analistas de mercado e economistas, entretanto, é o tamanho da dose adicional de juros.

A única certeza é que manter o ritmo de alta em 0,5 ponto percentual seria uma sinalização ruim, diante da piora das expectativas.

Situação de excepcionalidade

As divergências entre as apostas implícitas nos preços dos ativos de mercado e as projeções dos economistas decorrem de uma “situação de excepcionalidade” em que o governo sinaliza que não há compromisso fiscal, afirmou Tony Volpon, ex-diretor do BC.

“O livro texto de política monetária diz que a diretoria do BC desenha uma estratégia de juros para impactar a inflação para que a taxa esteja na meta em algum horizonte. Esse é o arroz com feijão. Mas hoje, com a decepção com a questão fiscal, em que o governo não quer dar sustentação ao seu próprio arcabouço, que é relativamente frouxo, o ajuste é feito pela inflação. E já que o investidor acha que haverá uma perda sobre o valor real da dívida, ele cobra um prêmio. Por isso os papéis do Tesouro são negociados a uma taxa de IPCA mais 7%”, disse.

Nessa perspectiva de custo de papéis do Tesouro, segundo Volpon, a Selic nominal deveria estar próxima de 14,68%. Assim, o ex-diretor afirma que o BC fica refém dessa trajetória e, se não balizar as expectativas de mercado, a “saída” do mercado se dá pelo câmbio, com um novo ciclo de desvalorização do real.

“Ou o BC entrega [via juros] ou aumenta o risco de instabilidade cambial mais aguda, com saída de capital. Obviamente, é cenário de muita incerteza, com variação de expectativas. Em um cenário normal, o primeiro mandato do BC é a inflação, depois a estabilidade financeira e, por fim, a atividade econômica. Nessa situação de excepcionalidade, isso inverte, com estabilidade financeira em primeiro lugar e, depois, inflação. Até resolver a questão fiscal, não tem inflação na meta. Pode botar os juros em 25% e [a inflação] não vai para a meta”, disse.

Para Volpon, o BC deveria subir os juros em 1 ponto percentual, mas ele avalia que os membros do Copom elevarão a Selic em 0,75 ponto percentual.

O economista-chefe do banco BMG, Flávio Serrano, espera uma alta de 0,75 ponto percentual da Selic, diante da tradicional postura de cautela adotada pelo BC. Segundo ele, entretanto, a forte deterioração das expectativas em um curto período exige do BC uma sinalização de compromisso com os objetivos perseguidos.

“Em um ambiente envolto de tanta incerteza é difícil cravar a próxima decisão. Eu acho que o BC tem um papel importante nesta decisão, que é comunicar muito bem o seu objetivo para não adicionar maior volatilidade no mercado”, disse.

Aposta em alta de 1 ponto percentual

Na outra ponta, o economista-chefe do Banco Pine, Cristiano Oliveira, espera uma alta de 1 ponto percentual, como precificado pelo mercado de juros, mas não pela maioria dos economistas.

Segundo ele, o Copom levará em conta a necessidade de aumentar a taxa de juros afim de compensar a deterioração na expectativa para a inflação.

“Vale dizer que na ata referente à reunião do Copom de novembro foi enfatizado que ‘a desancoragem das expectativas de inflação é fator de desconforto comum a todos os membros do Comitê’”, afirmou.

Oliveira ainda afirmou que no âmbito doméstico, os indicadores mais recentes mostram que a economia cresce em ritmo mais acelerado do que o esperado pela maior parcela dos analistas, tanto na indústria, como nos serviços e no comércio. Além disso, o mercado de trabalho segue aquecido.

“Assim, levando-se em conta o cenário para a atividade e os determinantes para a inflação no horizonte relevante, acreditamos que o Copom irá acelerar o ritmo de aperto monetário e aumentar a taxa Selic em 1,0 p.p. para 12,25% a.a. Em nossa opinião, há significativo ganho intertemporal e reputacional na elevação da taxa de juros real a fim de compensar a deterioração na expectativa para a inflação registrada nas últimas semanas”, disse.

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