Banco Central: Na prática, o BC sinalizou que o governo precisa fazer a sua parte para reequilibrar as despesas públicas. (Leandro Fonseca/Exame)
Repórter especial de Macroeconomia
Publicado em 11 de dezembro de 2024 às 19h40.
Última atualização em 11 de dezembro de 2024 às 19h44.
Quem questionava o compromisso do diretor de Política Monetária e futuro presidente do Banco Central (BC), Gabriel Galípolo, com o combate à inflação e com a reancoragem das expectativas para Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) dos próximos anos não terá mais argumentos para defender essa tese.
A decisão do Comitê de Política Monetária (Copom), que levou os juros para 12,25%, contratou uma Selic de 14,25% em março com a sinalização clara de que o colegiado elevará a taxa na mesma magnitude nas duas próximas reuniões.
O recado claro da diretoria do BC, que passará a ser chefiada por Galípolo em janeiro, também parece acabar ou reduzir significativamente os temores de que os indicados pelo PT para cargos na autoridade monetária seriam lenientes com a inflação.
Parte do mercado torcia o nariz para o fato de o futuro presidente da autarquia ter fortes ligações com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e por ter sido consultado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva sobre os efeitos que o pacote de corte de gastos provocaria no preço dos ativos. O temor é de que ele não faria o necessário — subir os juros — para conter a deterioração das expectativas.
A decisão do Copom, a última com participação do atual presidente do BC, Roberto Campos Neto, também foi uma demonstração clara de que não há interesse dessa diretoria e da próxima em perder a credibilidade junto aos agentes econômicos.
No comunicado após a reunião do Copom, os diretores do BC afirmaram que têm acompanhado com atenção como os desenvolvimentos recentes da política fiscal impactam a política monetária e os ativos financeiros.
"A percepção dos agentes econômicos sobre o recente anúncio fiscal afetou, de forma relevante, os preços de ativos e as expectativas dos agentes, especialmente o prêmio de risco, as expectativas de inflação e a taxa de câmbio. Avaliou-se que tais impactos contribuem para uma dinâmica inflacionária mais adversa", disse.
Na prática, o BC sinalizou que o governo precisa fazer a sua parte para reequilibrar as despesas públicas. Além disso, ao sinalizar mais duas altas de 1 ponto percentual da Selic, os membros do Copom aumentaram a pressão para que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tome medidas na direção de conter o ritmo de crescimento dos gastos.
A decisão do Copom supreendeu integrantes auxiliares de Lula, principalmente pelo fato de o BC contratar uma Selic de 14,25% em março. Dois deles afirmaram à EXAME que os ânimos devem se exaltar nas próximas semanas e admitem que a decisão unânime da diretoria da autoridade monetária pressiona o governo.