Economia

Análise: após decisão do Copom, mercado teme que indicados do PT no BC sejam lenientes com inflação

Os escolhidos pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva serão maioria no Comitê de Política Monetária a partir de 2025

Sede do Banco Central, em Brasília (Rafa Neddermeyer/Agência Brasil)

Sede do Banco Central, em Brasília (Rafa Neddermeyer/Agência Brasil)

Antonio Temóteo
Antonio Temóteo

Repórter especial de Macroeconomia

Publicado em 9 de maio de 2024 às 14h43.

A redução de 0,25 ponto percentual dos juros anunciada ontem pelo Comitê de Política Monetária (Copom), que levou a Selic para 10,5% ao ano, era amplamente pelos analistas. Entretanto, a divisão explícita na diretoria colegiada do Banco Central (BC) surpreendeu.Gestores, economistas e ex-membros da autoridade monetária ouvidos pela EXAME afirmaram que o racha sinalizou para o mercado que os diretores indicados pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva podem ser lenientes no controle da inflação.

Vale lembrar que os escolhidos de Lula serão maioria no Copom a partir de 2025. Os mandatos do presidente do BC, Roberto Campos Neto, e de outros dois diretores acabam em 31 de dezembro de 2024.

A consequência com o ruído criado com a comunicação da autoridade monetária foi o aumento no preço do dólar, que registra alta de 1,39% no início desta quinta-feira, 9, e chegou a ultrapassar os 2%, a queda da B3, de 1,38%, e o aumento da curva de juros futuros.

“A divisão passou o recado de que os diretores petistas não serão tão preocupados com o controle da inflação e das expectativas quando forem maioria. É uma sinalização de que voltaremos ao governo Dilma Rousseff, em que o Banco Central teve sua credibilidade prejudicada. Sem credibilidade, o custo para reduzir a inflação e controlar as expectativas é ter juros mais altos. O PT não parece disposto a fazer isso”, disse um gestor.

Solução passaria por “ortodoxo” no BC

Para um ex-diretor do BC, a divisão na diretoria pode obrigar Lula a escolher um nome mais “ortodoxo” para acalmar o mercado. Cotado para assumir o comando da autoridade monetária, o diretor de Política Monetária, Gabriel Galípolo, passou a impressão para muitos analistas de que será mais alinhado a política econômica de Lula, que já defendeu publicamente aumentar a meta de inflação.

“A consequência desse processo é que as expectativas de inflação para o próximo ano vão continuar subindo. E isso é ruim. Sem inflação ancorada, o BC precisará parar o ciclo de corte de juros antes e pode ser obrigado a subir a taxa no futuro”, disse um ex-diretor da autoridade monetária.

Enquanto Lula não anuncia o sucessor de Campos Neto, o presidente do BC ganhou pontos ao votar pela redução do ritmo de corte de juros. Após dar um voto de confiança ao governo e iniciar o processo de queda de juros quando havia certa desconfiança sobre o processo de desinflação, ele agora sinalizou preocupação com a situação fiscal e com a ancoragem das expectativas de inflação.

Controle de danos

A ata do Copom e as próximas palestras públicas de Campos Neto e de Galípolo serão fundamentais para esclarecer os próximos passos do BC. Além de reduzir o ritmo de corte de juros, o BC não deixou claro como será a trajetória nos próximos meses.

A mudança da meta fiscal e suas consequências para o controle da inflação mostraram que o BC está dividido. Resta saber se esse racha será pacificado ou se a tendência é de turbulência contratada até o fim de 2025.

Acompanhe tudo sobre:Banco CentralJurosSelicInflaçãoLuiz Inácio Lula da Silva

Mais de Economia

Presidente do Banco Central: fim da jornada 6x1 prejudica trabalhador e aumenta informalidade

Ministro do Trabalho defende fim da jornada 6x1 e diz que governo 'tem simpatia' pela proposta

Queda estrutural de juros depende de ‘choques positivos’ na política fiscal, afirma Campos Neto

Redução da jornada de trabalho para 4x3 pode custar R$ 115 bilhões ao ano à indústria, diz estudo