Pessoas passam por morador de rua em San Francisco: taxa de pobreza nos EUA era de 15% no ano passado e contrasta com a maior baixa em 26 anos, de 11,3%, em 2000 (Justin Sullivan/Getty Images)
Da Redação
Publicado em 26 de novembro de 2013 às 16h07.
Washington - Olivia Solis se pergunta as mesmas duas coisas todas as manhãs: “Como vamos pagar o aluguel? Que refeição faremos com a comida que temos?”.
Desempregada, com três filhos, ela disse que neste mês foi difícil encontrar as respostas, pois o programa alimentar dos EUA foi reduzido. Isso também preocupou seu marido, Gumecindo, que é mecânico e envia mensagens de textos do trabalho com ideias sobre como eles poderiam conseguir um dinheiro extra, por exemplo limpando casas ou ajudando as pessoas a se mudarem.
“Quando ele me manda mensagens como essa eu sei que é porque isso não sai da cabeça dele”, disse Solis, 34, que vive em Richland, Washington. “Eu sei que ele não está rendendo o máximo no trabalho porque tudo o que ele está pensando é ‘o que mais nós podemos fazer?’”.
Pessoas preocupadas com as necessidades da vida são menos capazes de focar em solucionar problemas ou em ser mais criativas. Esse estresse, que vem aumentando por causa dos recentes cortes dos serviços sociais do governo, prejudica o rendimento atual e potencial de adultos e crianças, refletindo-se nos lucros e dividendos corporativos, e também nos salários e no espírito empreendedor.
“Se as pessoas estão muito ansiosas e sentindo-se inseguras economicamente, seu desempenho no trabalho será afetado”, disse Isabel Sawhill, pesquisadora sênior em estudos econômicos na Brookings Institution, em Washington. “E se os filhos de famílias de baixa renda não receberem uma oportunidade de subir a ladeira, nós continuaremos tendo um monte de problemas sociais e baixa produtividade. Isso afeta a todos”.
Cortes no orçamento
Os gastos do Programa de Assistência à Nutrição Suplementar caíram US$ 5 bilhões neste mês porque deixaram que um reforço do financiamento temporário expirasse. Essa redução é uma de muitas em meio a uma onda de austeridade federal que cortará 1,5 ponto porcentual do PIB americano neste ano, segundo cálculos de Jim O’Sullivan, economista-chefe para os EUA da High Frequency Economics, em Valhalla, Nova York.
A fome custa aos EUA pelo menos US$ 167,5 bilhões por ano em produtividade econômica e salários perdidos, além de despesas de plano de saúde, que poderiam ser evitadas com uma melhor nutrição e o valor destinado à alimentação das famílias, segundo um relatório de 2011 do Centro para o Progresso Americano.
“O impacto adicional nas crianças começa a aparecer mais claramente mais adiante”, disse Harry Holzer, professor de políticas públicas da Universidade de Georgetown, em Washington, e ex-economista-chefe do Departamento do Trabalho. “Poderíamos ver as taxas de evasão do Ensino Médio subirem, uma série de problemas de comportamento”.
A produtividade cresceu a uma taxa média anualizada de 0,8 por cento por trimestre ao longo dos últimos três anos, contra 3 por cento na década até 2005. Embora parte da desaceleração esteja ligada à relutância das empresas em investir em máquinas mais sofisticadas, a capacidade dos indivíduos de tirar vantagem do equipamento é outro dos componentes.
Taxa de pobreza
A taxa de pobreza nos EUA era de 15 por cento no ano passado e contrasta com a maior baixa em 26 anos, de 11,3 por cento, em 2000. O programa alimentar reduz as taxas de pobreza entre cada faixa etária em pelo menos 0,8 ponto porcentual, segundo dados do censo americano divulgados neste mês.
Os benefícios mensais para a família Solis foram reduzidos de US$ 569 para US$ 432. Na semana passada, Gumecindo Solis, 38, foi dispensado de seu trabalho em uma empresa de fertilizantes até as operações serem retomadas, em abril. Isso significa que os US$ 2.200 que ele estava levando para casa todos os meses também sumiram. Seus benefícios podem aumentar, como resultado, mas não serão maiores que antes dos cortes. Olivia, que está buscando trabalho, diz que ela está vendo o estresse tomar conta dos filhos.
“Nós temos medo do que pode vir a acontecer”, disse ela.
O custo econômico invisível da pobreza e da renda estagnada, especialmente no que diz respeito ao futuro das crianças, faz com que seja mais fácil que os legisladores atrasem as ações, disse Sawhill, da Brookings Institution. Embora um maior financiamento não resolva o problema, é uma boa forma de começar a resolvê-lo, disse ela.
“Não se trata apenas de um problema de dinheiro, mas nós precisamos de algum dinheiro para catalisar a reforma”, disse Sawhill. “Não estamos investindo nas crianças e fazemos isso por nossa conta e risco”.