Solo para agricultura: visão da América Latina como celeiro do mundo está ganhando espaço, disse o presidente do Banco Interamericano de Desenvolvimento (Getty Images)
Da Redação
Publicado em 23 de abril de 2014 às 13h13.
Com cerca de um terço da terra arável e da água doce do mundo, a América Latina pode se converter em um futuro próximo no grande fornecedor global de alimentos, segundo um relatório publicado nesta quarta-feira pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e pela Global Haverst Initiative, em parceria com 30 instituições acadêmicas, organizações multilaterais e sociedade civil que trabalham para o desenvolvimento da região.
Ao mesmo tempo, a América Latina precisa enfrentar um grande desafio: os recursos atuais terão que dobrar para atender às necessidades mundiais até 2050, em um cenário onde haverá a diminuição de áreas produtivas e no qual é preciso ser ambientalmente sustentável.
"A visão da América Latina como celeiro do mundo está ganhando espaço. Esta é uma boa notícia para o crescimento econômico da região e para seus esforços para reduzir a pobreza e a fome. E é uma grande notícia para a segurança alimentar global", afirmou o presidente do BID, Luiz Alberto Moreno, em comunicado.
O relatório da instituição fornece recomendações e ações para governos e formuladores de políticas públicas, financiadores ou doadores, agricultores e sociedade civil que têm como objetivo impulsionar o futuro da região como líder da agricultura mundial.
Segundo Ginya Truitt Nakata, coordenadora do relatório, "em 2050, teremos apenas 12% de terra arável, por conta dos efeitos das mudanças climáticas e da degradação dos recursos naturais. A América Latina e o Caribe têm os recursos agrícolas mais importantes para alcançarmos os objetivos de produtividade, incluindo terra, água e habitats naturais".
Entre as recomendações indicadas pelo BID estão aumento dos investimentos públicos em pesquisa e desenvolvimento agrícolas, modernização da infraestrutura rural, aumento da eficiência na irrigação e na gestão da água e promoção de maior adoção da agricultura mecanizada.
A instituição também defende o fim das barreiras à importação e exportação que prejudicam o comércio e a produtividade agrícolas, fomento às oportunidades de financiamento agrícola e investimento para os pequenos agricultores e fortalecimento das associações e cooperativas de produtores.
"A região já está provando sua capacidade de exportação com fazendas produtoras de grãos no Brasil, frigoríficos na Argentina e no Uruguai, plantações de café na América Central, cultivos de aspargos do Peru e campos de milho no México. Apesar disso, a América Latina e o Caribe apresentam apenas uma amostra da sua capacidade de produção de alimentos para a população local e mundial", frisou Luis Alberto Moreno.
Um dos exemplos citados no relatório é a implementação do Cadastro Ambiental Rural (CAR), que está sendo implementado no Brasil com a ajuda da organização The Nature Conservancy (TNC). Trata-se de um mecanismo que a partir de imagens de satélite mapeia dentro das propriedades as áreas que precisam ser restauradas de acordo com o novo Código Florestal.
Com o CAR, é possível preservar e recuperar a vegetação e, ao mesmo tempo, fornecer ferramentas para um aumento da produtividade. Além disso, estar inscrito no programa é condição para participar de projetos, receber financiamentos e fazer parte da cadeira produtiva. Segundo a TNC, uma das questões mais importantes abordadas neste relatório é a intensificação da produção conciliada com a conservação, o que envolve aumentar a produtividade, enquanto são protegidos habitats naturais que poderiam ser eliminados para produzir alimentos.
"O resultado é uma lista de soluções pragmáticas, que podem servir a todos os setores, na América Latina, como forma de melhorar a produtividade e ajudar a enfrentar o desafio global de alimentar o mundo", explicou o diretor de Segurança Alimentar para a América Latina da TNC, Ricardo Sanchez.