Economia

América Latina pode aproveitar desvalorização de suas moedas

Desvalorização das moedas em relação ao dólar pode ser aproveitada por países latinos através de exportações mais competitivas e taxas de câmbio mais altas


	Caixa conta dólares em casa de câmbio, em Caracas: "No nível macroeconômico, convém à América Latina que o dólar continue subindo porque torna suas exportações mais competitivas", afirmou o economista Jorge González Izquierdo
 (Federico Parra)

Caixa conta dólares em casa de câmbio, em Caracas: "No nível macroeconômico, convém à América Latina que o dólar continue subindo porque torna suas exportações mais competitivas", afirmou o economista Jorge González Izquierdo (Federico Parra)

DR

Da Redação

Publicado em 20 de abril de 2015 às 18h06.

A América Latina pode aproveitar a desvalorização de suas moedas em relação ao dólar para tornar suas exportações mais competitivas, favorecendo-as com uma taxa de câmbio mais alta, o que que pode impulsionar suas economias em desaceleração.

Os países da região recebem em dólares por suas transações comerciais, e com a taxa de câmbio mais alta as receitas ficam maiores. Por isso, há margem, inclusive, para baixar o preço em dólares dos produtos, tornando-os mais competitivos, sem que deixem de lucrar.

"No nível macroeconômico, convém à América Latina que o dólar continue subindo porque torna suas exportações mais competitivas. Pode ajudar uma recuperação mais rápida", disse à AFP o economista da peruana Universidad del Pacífico, Jorge González Izquierdo.

"E não só para as exportações, mas também para reduzir as importações, porque trazer coisas de fora fica mais caro. Assim, se privilegiam produtos locais, favorecendo a indústria nacional", explicou André Leite, economista da TAG Investimentos, no Brasil.

Para analistas, o mais favorecido com essa situação pode ser o México, forte nas exportações industriais em relação a seus vizinhos, que dependem mais da venda de matérias-primas e cuja demanda é menor devido à desaceleração econômica mundial.

O que aconteceu com o dólar?

Em meio a um crescimento fraco, os Estados Unidos mantiveram por anos uma política monetária expansiva, que se traduziu em taxas de juros baixas e mecanismos que injetavam liquidez no mercado para estimular a economia.

Sua taxa de juros próxima de zero motivou os mercados a buscarem maior rentabilidade em países com taxas mais altas que os mercados com economias mais sólidas, o que é oferecido pelas nações latino-americanas. Com a presença de mais dólares no mercado, seu preço caiu em favor das moedas de mercados emergentes.

Os sinais recentes de recuperação da maior economia do mundo levaram os Estados Unidos a diminuírem seus estímulos e abriram a possibilidade de elevação das taxas. Essa decisão pode levar novamente mais investidores aos Estados Unidos em prejuízo à América Latina. Esse é, inclusive, um dos fatores que tem levado à alta do dólar.

No Brasil, o real caiu em março ao seu menor em valor em 12 anos, a 3,29 dólares, por causa de fatores externas e pela incerteza política no país. Embora a moeda tenha se estabilizado, nos últimos dias, em torno dos 3 dólares, o mercado o vê a 3,20 caso o Federal Reserve eleve sua taxa.

Até onde vai cair?

Apesar de as moedas de América Latina terem se estabilizado nos últimos dias, depois de uma eufórica reação dos mercados em janeiro e fevereiro, analistas esperam uma nova depreciação no médio prazo, pressionado ainda mais pelo fraco crescimento na região, que será de 1% em 2015 e de 2,1%, segundo a Cepal.

"O dólar continuará se valorizando porque todos estão olhando agora para os Estados Unidos. A Europa vai demorar a elevar suas taxas, o Japão vai demorar a elevar suas taxas e a América Latina está crescendo menos", considerou Pedro Tuesta, economista da consultoria 4CAST em Washington.

No caso da Colômbia, com uma significativa exportação de petróleo, sua moeda sofreu uma deterioração de quase 5% nesse ano, a 2.500 dólares. Há espaço para que caia ainda mais, para 2.550 dólares.

"O peso mexicano -que registrou mínimos históricos em meados de março, cotado a 15,62 dólares- pode não voltar mais aos 15 dólares. O peso chileno (que teve a menor cotação em seis anos), também não deve ficar abaixo dos 600", considerou Tuesta.

"A região em seu conjunto depende das matérias-primas. Se o ciclo baixista (dos preços das commodities) for mantido com a desaceleração da China, isso nos afetará", completou Sergio Tricio, chefe de análise do Forex Chile. "As moedas continuarão se desvalorizando", prevê.

Acompanhe tudo sobre:América LatinaCâmbioComércio exteriorDólareconomia-brasileiraEstados Unidos (EUA)ExportaçõesImportaçõesMoedasPaíses ricosTaxas

Mais de Economia

BNDES vai repassar R$ 25 bilhões ao Tesouro para contribuir com meta fiscal

Eleição de Trump elevou custo financeiro para países emergentes, afirma Galípolo

Estímulo da China impulsiona consumo doméstico antes do 'choque tarifário' prometido por Trump

'Quanto mais demorar o ajuste fiscal, maior é o choque', diz Campos Neto