Pedestres com máscaras protetoras andam pela Avenida Paulista, em São Paulo, Brasil, 30 de julho de 2020. (Jonne Roriz/Bloomberg)
Bloomberg
Publicado em 2 de agosto de 2020 às 08h00.
Última atualização em 3 de agosto de 2020 às 14h51.
A Colômbia entra para a lista de países da América Latina que estudam um plano para permitir que trabalhadores acessem recursos da previdência privada, uma medida destinada a atenuar a queda dos gastos de consumidores, mas que corre o risco de agravar as perdas em mercados acionários já com fraco desempenho.
Um projeto de lei enviado ao Congresso nesta semana permitiria que alguns colombianos acessem até 10% das reservas para a aposentadoria. O Chile aprovou medida semelhante neste mês, e o Peru deu sinal verde para um projeto em abril. O governo brasileiro também estuda permitir que trabalhadores façam saques parciais de fundos de pensão que ainda não oferecem essa opção, de acordo com relatório da Previc.
No Peru e no Chile, as medidas foram aprovadas apesar da oposição do governo e conquistaram apoio popular, pois milhões perderam o emprego em meio à crise econômica. O governo da Colômbia também se opõe à ideia.
Parlamentares da região analisam se recursos de fundos de pensão poderiam ajudar trabalhadores a enfrentar a pior crise econômica em décadas já que, sem dinheiro, os governos não fornecem uma rede de segurança adequada. No entanto, as medidas ameaçam obrigar gestores de fundos a venderem ativos em mercados onde a demanda é fraca e a liquidez baixa.
“É um alívio do fluxo de caixa, mas é perigoso”, disse Catalina Tobon, chefe de estratégia da unidade de fundos de pensão da Skandia, em Bogotá. “As pensões devem ser sagradas, e as pessoas estão perdendo décadas de juros compostos.”
As propostas também contribuem pouco para ajudar a grande fração da população que trabalha no setor informal.
No final de 2019, os membros latino-americanos da Federação Internacional de Administradores de Fundos de Pensão possuíam ativos no valor de US$ 637 bilhões. Os fundos do Chile e do México administravam mais de US$ 200 bilhões, enquanto os da Colômbia, US$ 86 bilhões, e os do Peru, US$ 52 bilhões.
O mercado acionário da Colômbia caiu 38% desde janeiro em dólar, a maior queda do mundo, enquanto as bolsas do Brasil e do México também estão entre os piores desempenhos.
Se os fundos de pensão forem obrigados a se desfazer de ativos em meio a grandes saques, provavelmente venderão primeiro o que for mais fácil, disse Daniel Guardiola, analista de renda variável do BTG Pactual.
“Esses saques provavelmente obrigarão gestores de fundos de pensão a venderem ativos mais líquidos: títulos soberanos e títulos internacionais”, disse Guardiola, em resposta a perguntas por escrito.
(Com a colaboração de Ezra Fieser, Michael O'Boyle e Martha Beck).