Na avaliação da RC Consultores, o preço médio da moeda norte-americana deve ficar em R$ 1,85 em 2012, ante R$ 1,67 no ano passado (AFP)
Da Redação
Publicado em 8 de maio de 2012 às 09h46.
São Paulo - A alta do dólar, superior a 5% nos últimos 30 dias, ainda traz benefícios restritos às empresas exportadoras, além de ameaçar o mercado interno com um potencial reaquecimento do ritmo inflacionário. Na avaliação do vice-presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro, apesar de a taxa de câmbio definir a rentabilidade das empresas e dar competitividade aos produtos manufaturados, o dólar em R$ 1,92 ainda é virtual para as companhias exportadoras. "Não é garantia de que esse seja o valor na data da entrega dos produtos", disse Castro, lembrando que exportador vende por uma quantia e corre o risco de receber por outro valor. "A dificuldade hoje é justamente não saber qual esse valor", afirmou.
Segundo o vice-presidente da AEB, os preços "ainda nas alturas" de minério de ferro, petróleo e soja deveriam fazer com que esses produtos da pauta exportadora brasileira se descolassem do cenário pessimista. "No entanto, os mercados externos se contraíram como um todo e o exportador terá de oferecer algo mais do que preço", disse.
O economista Fábio Silveira, sócio-diretor da RC Consultores, concorda. A alta da moeda dos Estados Unidos chega em um momento de crescimento menor da demanda externa e pode impedir possíveis benefícios para a balança comercial, com aumento nas exportações.
Ele lembra que a alta do dólar já trouxe reflexos para os índices oficiais de inflação. "Os IGPs já começaram a subir e o IPC-Fipe está engordando", avaliou. "Por isso, a avaliação é de que a taxa de câmbio chegou ao teto. Na balança comercial, até haverá um estímulo, mas não vai mudar muito o perfil das exportações porque a pauta está definida e o preço médio dos produtos será, em média, menor que o do ano passado."
De acordo com Silveira, o desempenho de produtos manufaturados, como têxteis, que poderiam ser os mais beneficiados pela desvalorização do real, será limitado. "Esses produtos estavam tão enfraquecidos no começo deste ano que uma recuperação será insuficiente. Na margem, não irão superar a receita do ano passado em dólar porque as perdas já foram grandes", disse.
Segundo Silveira, um impacto positivo na balança comercial pode vir da retração das importações provocada pela alta do dólar. Na avaliação da RC Consultores, o preço médio da moeda norte-americana deve ficar em R$ 1,85 em 2012, ante R$ 1,67 no ano passado. "Mas a alta não pode ir muito além no curto prazo porque traz de volta a questão da inflação, que é muito desconfortável", afirmou.