Economia

'Alta de juros está na mesa do BC', diz Galípolo

Em evento em São Paulo, diretor de Política Monetária do Banco Central afirma que cenário é 'desconfortável' para cumprimento da meta

Gabriel Galípolo, diretor de Política Monetária do Banco Central (Fabio Rodrigues-Pozzebom/Agência Brasil)

Gabriel Galípolo, diretor de Política Monetária do Banco Central (Fabio Rodrigues-Pozzebom/Agência Brasil)

Agência o Globo
Agência o Globo

Agência de notícias

Publicado em 12 de agosto de 2024 às 19h21.

Tudo sobreBanco Central
Saiba mais

O diretor de Política Monetária do Banco Central (BC), Gabriel Galípolo, disse que um eventual aumento na taxa básica de juros, a Selic, está na mesa da autarquia, diante de casos inesperados e com impacto sobre os mercados mundiais — como aconteceu na segunda, com a maior queda na Bolsa de Tóquio desde 1987. O economista também disse concordar que o cenário é “desconfortável” para o cumprimento da meta de inflação de 3% no ano, com tolerância de 1,5 ponto percentual para mais ou menos.

Galípolo esteve em painel do 2º Warren Institutional Day, evento de finanças organizado pela Warren Investimentos, em São Paulo nesta segunda-feira.

— Me alinho àquela visão de que o cenário hoje é desconfortável para o cumprimento da meta (de inflação) e de quem gostaria de ver uma melhora nas variáveis para a questão do cumprimento da meta — afirmou.

Também nesta segunda, durante a inauguração do novo campus da Escola de Economia de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas (FGV EESP), o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, ratificou que a autoridade monetária vai fazer o que for preciso para trazer o IPCA para a meta, independentemente de quem estiver no comando. Indicado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro, Campos Neto deixa o cargo até o final de 2024. Galípolo é o principal nome colocado para assumir a presidência do BC no ano que vem.

Motivos de 'preocupação'

Galípolo afirmou também que não há uma relação mecânica entre câmbio e política monetária, já que o BC acompanha uma série de variáveis que indicam desde a desancoragem das expectativas de inflação até um mercado de trabalho mais aquecido, além da trajetória positiva do mercado de crédito, que bateu recorde em emissão de debêntures.

— Às vezes o que é notícia boa pra alguns, para a gente é um tipo de preocupação. O IPCA não veio só maior, mas também com uma composição que traz uma série de alertas [...] — disse Galípolo, citando, por exemplo, a persistência da inflação dos serviços, também atrelada ao mercado de trabalho apertado, e influências como a reprecificação da curva de juros dos Estados Unidos.

O economista reforçou o conteúdo da última ata do Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom), publicada no início da semana passada. No documento, a autoridade destacou que não hesitaria em elevar a Selic para garantir a inflação dentro da meta. O BC havia decidido, na semana anterior, pela manutenção da taxa básica de juros da economia em 10,5% ao ano.

— A ata deixa bem claro, e espero ter deixado claro, mas vou repetir que não fornecemos nenhum tipo de guidance para a próxima reunião [...] A alta está na mesa, e a gente quer ver como isso vai se desdobrar [...] Basta ver o que aconteceu com a política monetária norte-americana, ou pegar uma segunda-feira que você tem a maior queda desde 1987 da bolsa no Japão, para depois ter um circuit break de alta no final do dia, na abertura da mesma bolsa — disse.

Na semana passada, em outro evento, ele havia comentado que os riscos para alta inflacionária superavam os indicativos de algum alívio no aumento de preços. Na mesma oportunidade, Galípolo afirmou que o Copom estava disposto a fazer o que fosse necessário para garantir o cumprimento da meta.

O economista concluiu que era função do colegiado estabelecer uma taxa de juros restritiva o bastante (ou seja, em patamar suficientemente elevado), pelo tempo necessário, para se chegar à inflação de 3% ao ano. Alguns analistas, no entanto, avaliaram que a fala de Galípolo indicava uma mudança de tom em relação à ata divulgada pelo BC, o que ele nega.

O diretor do BC alegou ainda que é importante haver uniformidade entre a postura dos diretores e os comunicados da autoridade monetária:

— De maneira nenhuma a (minha) intenção era fazer uma mudança de tom. A gente tinha o mesmo diagnóstico [...] Para quem está com diretor da autoridade monetária, está buscando coordenar expectativas e que entende que a formação dos preços dos ativos se dá por meio de consensos, tentar produzir um drible seria muito estranho, né?

E comparou:

— Olhar para o lado e tocar para o outro é uma jogada genial de Ronaldinho Gaúcho, maravilhosa. Agora, se o diretor de política monetária fizer isso ou qualquer outro diretor, ele vai marcar gol contra.

Governo vai cumprir arcabouço, diz Alckmin

Em outro painel no mesmo evento, o vice-presidente da República, Geraldo Alckmin, disse que o governo vai cumprir o arcabouço fiscal, conjunto de regras que substitiu o teto de gastos, implementado durante a gestão Michel Temer.

A nova âncora fiscal determina que o governo só pode gastar a mais o equivalente a 70% do incremento real (descontada a inflação) da arrecadação no ano anterior, dentro de uma faixa que garantirá ampliação das despesas entre 0,6% e 2,5% acima da inflação a cada ano.

— O governo vai cumprir o arcabouço fiscal. Rigor fiscal é social. Não é economicista, é social, porque com rigor fiscal nós vamos ter mais investimento e emprego. Com rigor fiscal nós vamos ter menor inflação e, portanto, melhorar a renda da população. E inflação não é socialmente neutra, ela atinge o mais pobre. Atinge muito mais aquele que não tem capital, só salário, do que populações com maior poder aquisitivo.

Acompanhe tudo sobre:Banco CentralGabriel Galípolo

Mais de Economia

Presidente do Banco Central: fim da jornada 6x1 prejudica trabalhador e aumenta informalidade

Ministro do Trabalho defende fim da jornada 6x1 e diz que governo 'tem simpatia' pela proposta

Queda estrutural de juros depende de ‘choques positivos’ na política fiscal, afirma Campos Neto

Redução da jornada de trabalho para 4x3 pode custar R$ 115 bilhões ao ano à indústria, diz estudo