Economia

Alta de impostos pode ser evitada se economia se recuperar

O aumento de tributos pode ser evitado caso a economia brasileira comece a se recuperar antes do fim do ano


	Henrique Meirelles: o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, disse que o número leva em conta a obtenção de R$ 55,4 bilhões em receitas extras.
 (Reuters/Ueslei Marcelino)

Henrique Meirelles: o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, disse que o número leva em conta a obtenção de R$ 55,4 bilhões em receitas extras. (Reuters/Ueslei Marcelino)

DR

Da Redação

Publicado em 23 de julho de 2016 às 15h19.

Uma das medidas cogitadas para reforçar o caixa do governo em 2017, o aumento de tributos pode ser evitado caso a economia brasileira comece a se recuperar antes do fim do ano.

Segundo especialistas, a velocidade com a qual o país sairá da recessão determinará se será necessário que a equipe econômica reajuste tributos para reduzir o déficit primário, como recomendou esta semana o Fundo Monetário Internacional (FMI).

Ao anunciar, no início do mês, a meta fiscal de déficit de R$ 139 bilhões, o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, disse que o número leva em conta a obtenção de R$ 55,4 bilhões em receitas extras.

Sem esses recursos, o resultado negativo aumentaria para R$ 194,4 bilhões em 2017, contra os R$ 170,5 bilhões de déficit estimados para este ano.

O déficit primário é o resultado negativo nas contas fiscais desconsiderando o pagamento de juros da dívida pública.

Ao explicar como pretende levantar esses R$ 55,4 bilhões, Meirelles disse que pretende recorrer a todas as fontes de recursos disponíveis, como venda de ações de estatais na bolsa, venda de ativos do governo, concessões de infraestrutura e outorga de campos de petróleo. A elevação de tributos viria apenas em último caso.

Outra medida em estudo é a aprovação do projeto que autoriza ao governo vender dívidas de contribuintes no mercado.

De acordo com o ministro da Fazenda, somente no fim de agosto, quando o governo é obrigado a enviar para o Congresso a proposta de Orçamento do ano seguinte, a equipe econômica avaliará se as ações tomadas terão sido suficientes para evitar o aumento de impostos.

Arrecadação elástica

Segundo o professor José Roberto Afonso, pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) da Fundação Getulio Vargas (FGV), o comportamento da arrecadação de tributos será a variável chave. Isso porque a arrecadação tem grande elasticidade em relação ao Produto Interno Bruto (PIB, soma dos bens e serviços produzidos no país). Quando a economia cresce, a arrecadação expande-se muito mais. Quando o PIB cai, a arrecadação despenca.

“A necessidade de aumentar tributos dependerá, sobretudo, da melhoria da economia, pois os tributos no Brasil são muito elásticos. Independentemente disso, o ideal é que o governo federal invista ao máximo em converter em receitas o que dispõe em ativos, sejam financeiros, como a dívida tributária a receber, seja em ações e bens”, diz Afonso.

Negociações

Também professora da FGV, a professora do Núcleo de Economia do Setor Público do Ibre Vilma Pinto concorda que o aumento de tributos depende fundamentalmente do desempenho da economia nos próximos meses.

Para ela, a necessidade de elevação de tributos pode ser menor que o esperado se o governo for bem-sucedido nas negociações para vender ativos e leiloar as concessões de infraestrutura.

“No ano passado, parte do mercado não acreditou quando o governo falou que conseguiria R$ 17 bilhões com a renovação das concessões das hidrelétricas. Só que o governo obteve essa quantia justamente porque o leilão vinha sendo negociado desde antes com o setor elétrico”, explica. O leilão ocorreu em novembro do ano passado. Dos R$ 17 bilhões obtidos, R$ 11 bilhões foram pagos em janeiro; e o restante, em junho.

Medidas discricionárias

Caso a economia demore a se recuperar mais que o previsto e o governo tenha de aumentar tributos, o governo não necessariamente terá de passar pelo desgaste de aprovar novos tributos no Congresso Nacional.

O advogado tributarista Gustavo Goiabeira, sócio do escritório Motta, Fernandes Rocha Advogados, ressalta que a equipe econômica pode elevar alíquotas por meio de decretos, sem a necessidade de recorrer ao Legislativo.

“Existem uma série de tributos chamados extrafiscais que podem ter a alíquota aumentada na hora em que o governo bem entender. Eles nem precisam seguir a regra da anualidade, quando o aumento de tributo sancionado em um ano só pode entrar em vigor no ano seguinte. O reajuste vale imediatamente”, declara o advogado.

Entre os tributos que podem ser aumentados a qualquer momento, o tributarista cita o Imposto sobre Operações Financeiras (que incide sobre operações de crédito e de câmbio), o Imposto de Importação de produtos vindos fora do Mercosul e a Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico.

“O governo não precisa recriar a CPMF [Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira] ou instituir o Imposto sobre Grandes Fortunas. Basta usar os tributos extrafiscais”, diz.

Acompanhe tudo sobre:Crescimento econômicoDesenvolvimento econômicoeconomia-brasileiraImpostosLeão

Mais de Economia

Boletim Focus: mercado eleva estimativa de inflação para 2024 e 2025

Oi recebe proposta de empresa de tecnologia para venda de ativos de TV por assinatura

Em discurso de despedida, Pacheco diz não ter planos de ser ministro de Lula em 2025

Economia com pacote fiscal caiu até R$ 20 bilhões, estima Maílson da Nóbrega