Economia

Alta da carne é fora da curva, mas preços baixos não voltam, diz CNA

Para Confederação de Agricultura e Pecuária do Brasil, demanda alta da China por carne — que fez preços subirem — deve durar até cinco anos

Açougue: preço da carne bovina aumentou cerca de 30% em novembro no RJ (Paulo Amorim/Getty Images)

Açougue: preço da carne bovina aumentou cerca de 30% em novembro no RJ (Paulo Amorim/Getty Images)

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Agência O Globo

Publicado em 4 de dezembro de 2019 às 13h42.

Última atualização em 4 de dezembro de 2019 às 13h46.

São Paulo — A alta no preço da carne bovina, que no Rio de Janeiro chegou a cerca de 30% em novembro, foi "um ponto fora da curva", na avaliação da Confederação de Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA). Porém, segundo o presidente da entidade, João Martins, embora esteja havendo "uma acomodação", os preços não voltarão mais ao patamar de 60 ou 90 dias atrás.

"Não se deve esperar que o preço da carne voltará ao mesmo patamar de 60, 90 dias atrás. Estávamos no pico da entressafra, com o menor preço dos últimos anos. Mas houve uma demanda muito forte lá fora e essa desvalorização cambial", disse Martins.

Para o superintendente técnico da CNA, Bruno Lucchi, a demanda por proteína animal da China, fortalecida pela epidemia de Peste Suína Africana (PSA) no país asiático, deve permanecer por um período de três a cinco anos. Mas ele ponderou que o consumo doméstico deve cair a partir de janeiro, o que ajudaria a evitar reajustes maiores no preço do produto.

"Não vai faltar carne no país. O produtor vai reagir, melhorar pastagens e desenvolver novas tecnologias. A questão da oferta e demanda já vai se equilibrar. O que aconteceu neste período foram realmente vários fatores pontuais que pegaram os seus extremos e que culminaram num ponto realmente fora da curva", disse Lucchi.

Os preços da arroba tiveram um pico em novembro, chegando ao valor recorde de R$ 230 em São Paulo. Além da questão da China, o técnico citou como fator a estiagem prolongada em alguns estados produtores.

"Por outro lado, o consumo doméstico apresentou sinais de recuperação em função da melhoria da economia e proximidade das festas de final de ano", enfatizou, acrescentando que, acompanhando a carne bovina, os preços das carnes de frango e suína também subiram, mas em menor proporção.

Lucchi enfatizou que a demanda chinesa foi mais acentuada neste fim de ano, porque 2019 é o "ano do porco" no calendário chinês e as compras de carnes em geral aumentaram. Internamente, os gastos dos brasileiros nas festas de fim de ano serão estimulados pela liberação de recursos do FGTS e a própria melhora da economia. No início de 2020, o mercado de carne vai desaquecer.

Diante dessa conjuntura, o faturamento dos pecuaristas brasileiros deve subir, em 2020, 14,2% em relação a 2019, com valor estimado em R$ 265,8 bilhões, conforme projeção da CNA. A taxa de crescimento mais elevada, de 22,2%, será concentrada na carne bovina. Também são esperados aumentos para carne suína (9,8%), pecuária de leite (7,5%) e frango (7,1%).

De forma teral, a CNA estima uma alta de 9,8% no Valor Bruto da Produção Agropecuária (VBP) - indicador que mede a receita do setor "dentro da porteira" - percentual correspondente a um faturamento de R$ 669,7 bilhões, em 2020. Este ano, o faturamento da pecuária subiu 7%, mas a agricultura terá uma queda em torno de 4%.

A CNA também trabalha com expectativa de melhora dos indicadores macroeconômicos em 2020, o que alavancaria o financiamento privado para o agronegócio. Para a entidade, os baixos níveis da taxa básica de juros (Selic) e da inflação podem criar um ambiente favorável para o setor e estimular a concorrência entre as instituições de crédito.

Em 2019, China, União Europeia, Estados Unidos, Japão e Irã foram os principais destinos das exportações do agronegócio. Esses cinco mercados corresponderam a 63% das vendas externas do setor. A expectativa é que a Ásia continuará sendo um grande comprador.

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