Economia

Alimentos, gasolina e energia: nos EUA, inflação é a maior em 39 anos

A inflação no intervalo de 12 meses até novembro registrou o maior nível em 39 anos nos EUA. Segundo os dados publicados na sexta-feira, os preços de combustíveis foram os que mais aumentaram em um ano

Consumidores dos EUA sentem principalmente a alta dos preços dos combustíveis e dos alimentos (Roger Kisby/Bloomberg)

Consumidores dos EUA sentem principalmente a alta dos preços dos combustíveis e dos alimentos (Roger Kisby/Bloomberg)

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AFP

Publicado em 12 de dezembro de 2021 às 16h49.

Última atualização em 13 de dezembro de 2021 às 10h57.

"Pago 20 dólares para abastecer o tanque, mas já não posso mais enchê-lo, é um escândalo", se queixava na sexta-feira (10) Telilia Scott em um posto de gasolina em Washington, indignada pelo aumento recorde dos preços nos Estados Unidos.

Poucas horas antes, o Departamento de Trabalho americano havia informado que, em um ano, a gasolina tinha aumentado, em média, 6,8%, a maior inflação desde junho de 1982.

"É muito difícil! O pão está muito caro, o açúcar também. Tudo é muito caro!", lamentou a mulher, que tem por volta de 50 anos e está desempregada.

"Você vai ao mercado e tem que pagar sete dólares por um galão de leite, quando antes custava 2,39!". Para ela, o "absurdo" é ainda maior porque, "devido à covid, as pessoas não têm dinheiro e estão começando a trabalhar de novo" agora e voltando a ganhar um salário.

Outro motorista, Earl Walker, também reclamou da inflação. "Os preços aumentam todos os dias", afirmou, ao assinalar que o combustível inflacionou tanto que, às vezes, não consegue se deslocar para o trabalho e precisa "pedir dinheiro emprestado" para se locomover.

Segundo os dados publicados na sexta-feira, os preços no setor energético foram os que mais aumentaram em um ano (33,3%), assim como acontece em muitos países, como o Brasil.

"Não posso mais encher o tanque, isso me custaria mais de 100" dólares, explicou Walker, um assistente social de 40 anos, que também se queixou do aumento do preço da carne de frango nos supermercados.

Aumento gradual

Perto do mesmo posto de gasolina, Edward Harrison, de 47 anos, fazia compras no Walmart, a maior rede de supermercados dos EUA.

Harrison confessou que tem saído menos e que passa mais tempo na internet em busca de ofertas, mas que preferiria ir diretamente ao supermercado mais próximo de sua casa.

"Agora preciso ter mais cuidado", afirmou o técnico em eletrônica, que também recorre a produtos de segunda mão "quando necessário".

No mês passado, os preços dos carros novos subiram 11,1%, enquanto os veículos usados tiveram aumento de 31,4%. Em outubro, o aumento havia sido ainda maior.

Por outro lado, para os que têm mais recursos, o aumento da inflação passa mais ou menos desapercebido.

Stephen Keil, de 30 anos e funcionário de uma grande empresa de energia, contou que só percebe a inflação quando recebe seus extratos bancários "mais tarde". Para ele, os preços aumentaram de forma "gradual".

Segundo Keil, os aumentos mais evidentes estão nos presentes de Natal, como por exemplo as bicicletas. "Dizem nas lojas que isso se deve ao aumento do custo de transporte", comentou.

A inflação no intervalo de 12 meses até novembro acelerou nos Estados Unidos e registrou o maior nível em 39 anos, ao mesmo tempo que a forte demanda dos consumidores foi afetada por problemas de abastecimento ligados à pandemia de coronavírus.

A seu lado, Abby Mitchell, uma pesquisadora de 29 anos, agora está comparando os preços das diferentes marcas e produtos. Ela admitiu que, antes, "se queria comprar espinafre, comprava espinafre, sem realmente olhar o preço".

Contudo, os moradores da capital, onde predominam os eleitores do Partido Democrata, não culpam pela inflação o presidente Joe Biden, que prometeu inverter essa tendência.

"Tudo se deve à covid", disse Stephen Keil. "Não há muito que o governo possa fazer".

"Biden fez muito pelas pessoas", afirmou Telilia Scott no posto de gasolina, "mas os políticos ainda podem fazer mais".

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