Tombini e os diretores do Copom: cenário do BC prevê piora da crise internacional (Elza Fiúza/Agência Brasil)
Da Redação
Publicado em 26 de setembro de 2011 às 10h40.
São Paulo – Desde o momento em que o Comitê de Política Monetária (Copom) surpreendeu a todos ao reduzir a taxa básica de juros de 12,50% para 12% ao ano, o mercado financeiro declarou guerra ao Banco Central (BC).
Semana após semana, o boletim Focus – que colhe estimativas de cerca de cem instituições e consultorias – tem registrado elevação nas projeções para a inflação neste ano e em 2012.
No documento mais recente, divulgado nesta segunda-feira, os analistas cravam pela primeira vez que a meta de inflação de 2011 não será cumprida, estourando o teto de 6,5%. Para o ano que vem, as previsões são de IPCA na casa de 5,5%, cada vez mais distante do centro da meta (4,5%).
O cenário traçado pelo Banco Central – que foi utilizado para justificar a queda nos juros – prevê uma piora da crise internacional, com efeito contracionista na economia brasileira. Esse esfriamento na atividade doméstica seria suficiente para segurar os preços e garantir o cumprimento da meta de inflação, na avaliação dos diretores do Copom.
Nesse contexto, há uma boa e uma má notícia para o BC. A negativa é que 2011 está acabando, a inflação roda acima de 7% em 12 meses e não há muito mais a ser feito a não ser rezar para que o IPCA feche o ano em até 6,5%.
A meta não é descumprida desde 2003 e, se isso acontecer, o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, terá de enviar uma carta ao ministro da Fazenda, Guido Mantega, explicando os motivos do fracasso.
A notícia positiva é que ainda há muitas incertezas sobre 2012 que não justificam esse pessimismo antecipado do mercado em relação à inflação. Nesse momento, as previsões para o ano que vem estão mais com "cara de chute" do que qualquer outra coisa, embora seja inegável que o reajuste de 14% previsto para o salário mínimo em janeiro pressionará os preços.
O ponto crucial nessa história toda é descobrir (i) se o mundo desenvolvido vai entrar em recessão; (ii) se a recessão lá fora vai esfriar para valer a economia brasileira; e (iii) se isso tudo vai acontecer antes de a inflação ter ido para o espaço.
Num contexto em que ninguém sabe ainda nem se a Grécia vai realmente quebrar, é impossível afirmar qual cenário deve predominar. Há, no entanto, apenas uma única certeza. Alguém está muito errado sobre a inflação: o mercado ou o Banco Central.