Economia

Alerta com inflação continua mesmo com quedas dos índices

Apesar de alguns preços terem dado sinais de queda, a pressão inflacionária se espalhou por diversos setores da economia


	O índice de difusão da inflação ainda é elevado, apesar da queda das tarifas de energia
 (Marcos Santos/USP Imagens)

O índice de difusão da inflação ainda é elevado, apesar da queda das tarifas de energia (Marcos Santos/USP Imagens)

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Da Redação

Publicado em 7 de março de 2013 às 18h53.

São Paulo - Os produtos agropecuários no atacado e a energia elétrica vêm trazendo algum alívio para os indicadores recentes de inflação ao mostrar recuo dos preços desde o início do ano, mas essa tendência não deverá ser suficiente para apagar a luz amarela devido à dispersão da pressão entre os vários setores da economia.

A deflação dos produtos agropecuários no atacado mostrada pelos Índice Geral de Preços --tanto o de Mercado (IGP-M) quanto o de Disponibilidade Iterna (IGP-DI)-- ganhou destaque após esses produtos terem tido um papel importante na aceleração dos índices no final do ano passado.

Em fevereiro, o IGP-DI mostrou queda de 0,48 por cento dos produtos agropecuários, enquanto no IGP-M eles recuaram 1,31 por cento. O movimento, de acordo com a economista do Santander Tatiana Pinheiro, tem a ver principalmente com a apreciação recente do real frente ao dólar.

"O IGP-M tem uma influência mais rápida e maior do câmbio, porque a maior parte dos preços pesquisados é de produtos comercializados externamente", disse a economista do Santander Tatiana Pinheiro.

O dólar tem se acomodado recentemente na faixa de 1,95 real a 2 reais que muitos consideram uma banda informal definida pelo Banco Central com o objetivo de reduzir o custo de produtos importados e controlar pressões de preços.

Entretanto, esse resultado não deve trazer alívio imediato sobre a inflação oficial, medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), já que ele não mede tantos produtos comercializados externamente como nos IGPs. E a tendência é de que esse alívio seja limitado.


"Ou seja, apesar de os IGPs estarem com movimento bastante favorável, não necessariamente vemos isso no curto prazo no IPCA", completou Tatiana, que elevou sua projeção para o IPCA de fevereiro a 0,40 por cento, ante 0,35 por cento anteriormente.

DISPERSÃO

O que preocupa o mercado é a dispersão da pressão inflacionária sobre os diferentes setores, com destaque para o de serviços.

"Tem que manter a luz amarela, até caminhando para vermelho, porque temos um quadro com 75 por cento dos itens do IPCA mostrando alta", avaliou a economista da Tendências Alessandra Ribeiro.

"É uma inflação muito generalizada, não adianta o governo dizer que vai tirar o imposto da mandioca, por exemplo", acrescentou ela, em referência aos recentes esforços do governo para minimizar a alta dos preços.

A redução dos preços das tarifas de energia promovida pelo governo garantiu a desaceleração da alta do IPCA-15 em fevereiro para 0,68 por cento. Mas o índice de difusão do indicador ainda se mantém em patamares elevados.

Em cerca de 71 por cento no IPCA-15, a difusão está no maior nível desde abril de 2003, segundo Alessandra, que revisou sua projeção para o IPCA do mês de alta de 0,33 por cento para 0,45 por cento, calculando inflação de 5,8 por cento no final do ano.

O economista do Itaú Elson Teles reforça essa avaliação. "As altas têm vindo muito disseminadas, por isso não dá para apagar a luz amarela." Setor beneficiado pelo desemprego em baixa e rendimento em alta, os serviços também precisam ser acompanhados de perto. "Tem que prestar atenção em bens duráveis e na inflação de serviços, que deve permanecer elevada", disse Teles.

TRANSPORTES

As preocupações com a inflação vêm alimentando debates sobre a possibilidade de a Selic --atualmente na mínima histórica de 7,25 por cento ao ano-- ser elevada ainda no primeiro semestre.


Na noite de quarta-feira, o Comitê de Política Monetária (Copom) do BC decidiu seguir com a Selic inalterada, mas abriu o caminho para uma eventual alta do juro básico adiante.

Pesquisa Reuters realizada nesta quinta-feira mostrou que 21 de 40 economistas esperam uma elevação da Selic neste ano, sendo que alguns bancos, como Credit Suisse, BTG e Barclays, veem a alta já neste semestre.

Embora diga que a inflação não irá superar o limite da meta --4,5 por cento pelo IPCA mais 2 pontos percentuais-- o BC já não fala mais em convergência neste ano para o centro da meta.

"A tendência para alimentação é devolver parte da pressão, e concordo com a avaliação do governo de que o ritmo de alta desses produtos tende a arrefecer. Mas não sabemos muito bem a intensidade", alertou Teles, do Itaú, que vê IPCA a 0,48 por cento em fevereiro e encerrando o ano com alta de 5,7 por cento.

Mas os analistas alertam que, em meados do ano, a inflação pode encostar ou até superar o teto da meta, principalmente com a entrada em vigor de aumentos de transportes que o governo conseguiu postergar.

"Isso vai bater em abril e junho, dando uma pressão adicional. Em junho do ano passado o IPCA ficou em 0,08 por cento, mas neste ano vai bater em 0,35 por cento. Com isso, em 12 meses a inflação chega a 6,59 por cento", projeta Alessandra, da Tendências.


"Se de fato a inflação continuar incomodando, isso pode manter a porta aberta para o BC mexer na Selic a partir de abril, mas não está claro qual o nível de preços em que ele irá se sentir desconfortável", disse Teles, do Itaú.

Veja abaixo o comportamento dos indicadores de inflação neste começo de ano: Fevereiro Janeiro Dezembro IPCA * +0,86% +0,79% IPCA-15 +0,68% +0,88% +0,69% IGP-M +0,29% +0,34% +0,68% IGP-DI +0,20% +0,31% +0,66% IPC-S +0,33% +1,01% +0,66% IPC-Fipe +0,22% +1,15% +0,78% * será divulgada na sexta-feira

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