Guido Westerwelle, assegurou que "poderia se falar em mudanças no cronograma", e que coincide com as últimas conjeturas que circulam em Bruxelas (Wikimedia Commons)
Da Redação
Publicado em 18 de junho de 2012 às 14h12.
Berlim - Os resultados das eleições de domingo na Grécia abriram nesta segunda-feira um debate no seio da coalizão do governo alemão sobre a conveniência ou não de flexibilizar o calendário do programa de ajustes e reformas grego.
De um lado está a tese defendida até agora sem fissuras por Berlim, segundo a qual Atenas devia cumprir com todo rigor seus compromissos sobre as medidas de austeridade estipuladas em troca do resgate financeiro, e que o vice-porta-voz do Executivo, Georg Streiter, resumiu nesta manhã como "novo governo, velhos compromissos".
Do outro, a ideia que lançou no domingo pela tarde, de forma surpreendente e suscitando as esperanças helenas, o ministro das Relações Exteriores, Guido Westerwelle, ao assegurar que "poderia se falar em mudanças no cronograma", e que coincide com as últimas conjeturas que circulam em Bruxelas.
"Prevalece o que está estipulado", repetiu em várias ocasiões Streiter em um encontro rotineiro de porta-vozes governamentais com a imprensa, perante a insistência dos jornalistas.
"Ninguém está falando de cronogramas nestes momentos", reiterou Streiter.
O vice-porta-voz argumentou que preferia cingir-se aos fatos e que era necessário esperar que se formasse um novo governo em Atenas, previsivelmente uma coalizão entre os conservadores do Nova Democracia e os socialistas do Pasok, ambos a favor de manter-se na zona do euro e no resgate.
Em seguida, explicou Streiter, o Executivo heleno se porá de novo em contato com a "troika" - integrada pelo Banco Central Europeu (BCE), a Comissão Europeia e o Fundo Monetário Internacional (FMI) - para que retornem a Atenas os inspetores e técnicos dessas três instituições para realizar suas tarefas de acompanhamento.
Neste contexto, Streiter evitou pronunciar-se sobre o que aconteceria no caso de o novo governo pedir à "troika" mais tempo para cumprir as reformas, algo que já se cogita em Bruxelas e que provavelmente será avaliado na próxima reunião do Eurogrupo, prevista para esta quinta-feira.
Indicou, em todo caso, que o Executivo alemão está disposto a dialogar, apesar de logo em seguida ter acrescentado que nem o calendário nem as condições impostas à Grécia estão em debate.
Neste sentido, acrescentou que o objetivo que a dívida grega se reduza até alcançar 120% do Produto Interno Bruto (PIB) do país para 2020 se mantém, assegurando que "isso até o dia de hoje não mudou".
O vice-porta-voz refletia com suas palavras a posição monolítica que mantiveram até o momento a chanceler Angela Merkel e seu ministro das Finanças, Wolfgang Schäuble, que estão no México para participar da Cúpula do G20 na cidade de Los Cabos.
Nessa reunião está previsto que a situação helena e a crise da eurozona sejam os temas principais, e que a maioria dos participantes pressionem uma Alemanha cada vez mais isolada para que aposte no crescimento e deixe parcialmente de lado as políticas de austeridade.
Alheio a isto, Schäuble lembrou a Atenas, após conhecer os resultados eleitorais, que "o caminho não é curto nem fácil, mas é inevitável", sem deixar espaço algum para a flexibilidade.
Westerwelle ressaltou também no domingo que "não pode haver mudanças substanciais nos acordos" assinados entre Atenas e Bruxelas, porque isso poderia criar um agravo comparativo com o resto dos países resgatados, mas logo depois abriu a porta para uma flexibilização dos prazos.
O porta-voz de Exteriores, Andreas Peschke, assegurou hoje que o "substancial" do programa grego de reformas e ajustes deve "ser mantido", mas se viu em sérias dificuldades para explicar a posição de seu ministro.
Streiter e a porta-voz de Finanças, Marianne Kothé, aproveitaram o encontro para perfilar a posição alemã na próxima Cúpula da União Europeis, prevista para os dias 28 e 29 de junho, a enésima que tenta estabilizar a eurozona.
Lembraram os esforços para concretizar o imposto às transações financeiras, negaram ter conhecimento de um plano de crescimento francês para injetar 120 bilhões de euros e reiteraram sua negativa às propostas de coletivização da dívida, seja em eurobônus, fundo de amortização ou os chamados "euro bills", menos comprometedores que os bônus.