Desmatamento: acordo UE-Mercosul concentra os ataques de ambientalistas, que denunciam a maior abertura dos mercados europeus à carne sul-americana (Michal Fludra/NurPhoto/Getty Images)
AFP
Publicado em 1 de setembro de 2020 às 10h24.
Última atualização em 1 de setembro de 2020 às 10h27.
Os ministros da Agricultura europeus estão "muito, muito céticos" sobre o futuro do vasto acordo comercial entre a União Europeia (UE) e os países sul-americanos do Mercosul, afirmou nesta terça-feira (1) a ministra alemã Julia Klöckner, que apontou para o desmatamento no Brasil.
"Nós, os ministros da Agricultura (dos 27) somos muito, muito céticos sobre isso (a ratificação do acordo). E eu realmente posso falar por praticamente todos os ministros aqui presentes", declarou Klöckner em Koblenz (oeste da Alemanha) antes da abertura de uma reunião informal dos ministros da Agricultura e da Pesca dos Estados membros da UE.
Esse vasto acordo de livre comércio foi assinado no ano passado entre a União Europeia e o Mercosul (Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai), mas para ser validado definitivamente, ainda deve ser ratificado por todos os parlamentos nacionais.
No entanto, os Parlamentos austríaco e holandês rejeitaram o acordo em sua forma atual. Outros países como Bélgica, França, Irlanda e Luxemburgo mostraram-se relutantes.
Por muito tempo entre os grandes promotores deste acordo, que abriria mercados para sua poderosa indústria exportadora, Berlim recentemente mudou sua postura.
"Vemos no Brasil que a floresta (amazônica) está sendo queimada para dar lugar a terras agrícolas o mais rápido possível" e cujas safras "são então vendidas em nossos mercados - onde nossos fazendeiros não conseguem competir (...) É uma distorção da concorrência", insistiu Klöckner.
"Não vejo uma ratificação do acordo do Mercosul neste momento. Tenho razões muito específicas pelas quais sou extremamente cética", insistiu a ministra alemã, cujo país ocupa a presidência rotativa da UE desde julho.
A chanceler alemã, Angela Merkel, expressou pela primeira vez em 21 de agosto "sérias dúvidas" sobre o acordo comercial, apontando para o "contínuo desmatamento" e "incêndios", que aumentaram nas últimas semanas na Amazônia.
O acordo UE-Mercosul concentra os ataques de ambientalistas, que denunciam a maior abertura dos mercados europeus à carne sul-americana, enquanto a pecuária é responsável por 80% do desmatamento na Amazônia, segundo a organização WWF.
Para responder a essas críticas, um capítulo abordando a "conservação florestal" foi incluído no texto final.
O presidente francês, Emmanuel Macron, ameaçou não ratificar o acordo se o governo brasileiro de Jair Bolsonaro não tomar as medidas necessárias para proteger a maior floresta tropical do mundo.
No entanto, os incêndios na Amazônia aumentaram 28% em julho de 2020, em comparação com julho de 2019.