Alckmin: a expectativa é que a pasta tenha uma agenda de aumento da produtividade para permitir uma eventual reindustrialização do país (Roque de Sá/Agência Senado/Flickr)
Agência O Globo
Publicado em 23 de dezembro de 2022 às 08h11.
Última atualização em 23 de dezembro de 2022 às 09h16.
Após dois empresários recusarem o convite ao cargo, o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva optou por dar ao vice, Geraldo Alckmin (PSB) o comando do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (Mdic), que será recriado. A escolha evidencia a dificuldade do governo eleito de fechar a composição da equipe, já que o próprio Lula afirmara em novembro que Alckmin não seria ministro.
De outro lado, a decisão reflete também a avaliação de que o vice tem bom trânsito com o PT e com o empresariado, que cobrava um canal de interlocução direta para o debate de política industrial. À frente da pasta, o novo ministro deve articular uma agenda de competitividade, que é considerada por ele como prioritária.
Além de Alckmin, outros nomes foram anunciados ontem em pastas da área econômica, como Márcio França (PSB), ex-governador de São Paulo, que assumirá a pasta de Portos e Aeroportos, Esther Dweck que ficará com o Ministério da Gestão e Luiz Marinho (PT-SP) que será ministro do Trabalho. A pasta do Planejamento, porém, segue em aberto, após a recusa do economista André Lara Resende ao cargo.
Alckmin é considerado um coringa na equipe e sua indicação mostra que o presidente eleito quer dar prioridade ao setor industrial, como já havia indicado ao longo da campanha. Lula havia convidado para o cargo o presidente da Fiesp, Josué Gomes da Silva, e Pedro Wongtschowski, executivo do Grupo Ultra.
— A primeira pessoa que eu liguei foi para o companheiro Josué, presidente da Fiesp, e filho do meu vice José Alencar. Josué veio a Brasília e nós conversamos e ele me disse que não podia ser ministro porque ele era presidente da Fiesp, tem uma disputa na Fiesp. Parece que o Paulo Skaf está tentando convocar uma assembleia na perspectiva de tirar o Josué, e também porque ele não terminou ainda de passar a empresa dele para os filhos. Eu fiquei pensando e resolvi então dar trabalho para o meu vice — afirmou Lula durante o anúncio, ressaltando que a escolha do vice seria a maior surpresa do dia.
Alckmin não será o primeiro vice-presidente a acumular a função com o comando de um ministério. José Alencar, ex-vice de Lula, foi ministro da Defesa no primeiro mandato.
Durante os trabalhos da equipe de transição, o vice-presidente eleito abordou o tema da competitividade diversas vezes. Para ele, essa agenda gera emprego, aumenta a produtividade das empresas e faz a economia crescer. Alckmin defende a redução do custo das empresas, o incentivo ao empreendedorismo e o aumento da renda do trabalhador.
No ministério, a expectativa é que ele comande negociações de acordos internacionais e atue na captação de investimentos externos. Ele terá sob seu chapéu o BNDES, que será comandado por Aloizio Mercadante, e a Apex, agência de fomento às exportações que hoje está no Itamaraty.
Especialistas avaliam que a escolha de Mercadante para presidir o BNDES é um dos fatores que tem afastado o empresariado do comando do ministério. O nome dele não foi inicialmente bem recebido pelo mercado. Nesta quarta-feira, em uma tentativa de mudar essa percepção, ele apresentou em evento com empresários os nomes de sete futuros diretores do banco de fomente. Na lista, cinco são profissionais de mercado e dois são ex-ministros de governos petistas.
Para representantes do setor produtivo, a expectativa é que a pasta tenha uma agenda de aumento da produtividade para permitir uma eventual reindustrialização do país.
— É uma boa escolha e sinaliza que a revitalização industrial e o desenvolvimento produtivo reassumem uma posição de destaque no governo federal, em alto nível hierárquico. Esta é uma precondição importante para uma estratégia de sucesso — afirma Rafael Cagnin, economista do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), que reúne 50 grandes grupos empresariais do país.
Para Fernando Pimentel, presidente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil (Abit), o vice-presidente eleito conhece as necessidades do setor:
— É um político hábil e governou o estado mais industrializado do país. Tem todas as condições para implementar uma política industrial moderna, de baixo carbono, sustentável e com base tecnológica. O setor industrial não carece de diagnóstico, mas de execução — afirmou, ponderando que o desenvolvimento do setor depende de reformas em áreas como a tributária e a infraestrutura.
Em nota, o presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Robson Andrade, afirma que Alckmin sabe o que precisa ser feito para reverter o processo precoce de desindustrialização. A CNI projeta que seria possível aumentar a participação da indústria no Produto Interno Bruto (PIB) de 22% para 25% em três a quatro anos, a depender da política industrial adotada.
— O novo ministério poderá representar um fator de real estímulo para o desenvolvimento do país, com foco na reindustrialização e no fortalecimento do comércio — disse José Roberto Tadros, presidente da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC).
O sócio e gestor da Galápagos Capital, Ubirajara Silva, destaca que os nomes anunciados por Lula não trouxeram grandes novidades para o mercado por já estarem sendo ventilados:
— Os investidores ainda sonham com um nome pró-mercado e como o ministro do Planejamento não foi anunciado, ainda existe essa expectativa.
Esther, que é economista e professora da UFRJ, vai chefiar o futuro Ministério da Gestão, que cuidará da estrutura de servidores e vai fomentar a digitalização, incumbências que no atual governo são de responsabilidade do Ministério da Economia. No novo modelo que está sendo desenhado, o Ministério do Planejamento cuidará exclusivamente do Orçamento.
Luiz Marinho, que vai para a pasta do Trabalho, também é presidente do PT de São Paulo. Ele conseguiu o aval das centrais sindicais para ocupar o posto.
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