O ministro Mangabeira Unger, da Secretaria de Assuntos Estratégicos (Elza Fiúza/Arquivo ABr)
João Pedro Caleiro
Publicado em 26 de agosto de 2015 às 19h11.
São Paulo – Roberto Mangabeira Unger, ministro de Assuntos Estratégicos, disse HOJE que o propósito do ajuste nas contas públicas não é a recuperação da confiança do mercado, e sim dar maior margem de manobra ao país.
Sobre a diferença com o que tem dito o ministro Joaquim Levy, ele apontou que a diversidade de pontos de vista é comum:
“Mas eu confio – eu sei – que a visão da presidente sobre o ajuste é a mesma que eu discuti. O propósito do ajuste não é ganhar confiança financeira, é não depender da confiança financeira. É a visão da presidenta, é a visão predominante no governo.”
A declaração foi feita na manhã desta quarta-feira em coletiva de imprensa na escola de Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV) em São Paulo.
O ministro participou do seminário “Repensando o Desenvolvimento Produtivo no Brasil”, onde já havia delineado as duas “narrativas” do ajuste:
“A primeira é a doutrina da confiança e contração expansionista, que nunca funcionou em nenhum lugar do mundo, como mostra a Europa. A outra é o contrário – não depender da boa vontade financeira para poder ter um projeto de desenvolvimento. A margem de manobra estratégica é mais importante do que o manejo contra-cíclico”.
E completou: “Precisamos de um projeto alternativo de desenvolvimento nacional senão a nação repudiará o ajuste e terá toda justificativa em repudiá-lo. O propósito do ajuste fiscal e de todo projeto de desenvolvimento é assegurar a primazia dos interesses do trabalho e da produção sobre o rentismo financeiro”.
Na coletiva, ele ressaltou que essa perspectiva não inclui qualquer "afrouxamento" do compromisso com o realismo fiscal:
“Pelo contrário – essa visão nos leva a crer que o ajuste fiscal não é agenda, é preliminar de agenda, e não nos exime da responsabilidade de construir um projeto nacional”.
O ministro falou extensivamente sobre vários eixos do que seria este projeto, incluindo reforma tributária, gestão do estado, mudanças de currículo na educação e liberação das amarras para liberar o potencial criativo da nova classe média emergente.
Também participaram do evento o ex-ministro Luis Carlos Bresser Pereira e o ex-ministro Delfim Netto, que se disse “espantado” com as declarações recentes da presidente Dilma Rousseff. Para ele, a pioria das finanças públicas em 2014 foram deliberadas e tiveram como objetivo a reeleição.