O gerente executivo de política econômica da CNI, Flávio Castelo Branco: Castelo Branco criticou o ritmo de gastos do governo e afirmou que a piora da dívida bruta foi um dos principais motivos do rebaixamento brasileiro (Elza Fiúza/ABr)
Da Redação
Publicado em 8 de outubro de 2015 às 13h51.
Brasília - O gerente-executivo da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Flávio Castelo Branco, defendeu nesta quinta-feira, 8, a desvinculação das despesas obrigatórias, ou seja, gastos de determinadas áreas e que não podem ser cortados, como os da saúde, por exemplo, poderiam sofrer alterações em seus Orçamentos.
Segundo ele, sem mexer nos gastos obrigatórios será impossível fazer um ajuste fiscal que leve o país a crescer novamente.
"Ajuste fiscal focado em aumento de imposto gera mais recessão. Primeiro, é preciso revisão de reajustes automáticos, como a política do salário mínimo. Com ela há aumento espraiado por todas as contas da previdência e de estados e municípios", disse o economista durante a divulgação do Informe Conjuntural, publicação que reúne as projeções da entidade.
Castelo Branco criticou o ritmo de gastos do governo e afirmou que a piora da dívida bruta foi um dos principais motivos do rebaixamento brasileiro pela Standard & Poor's.
Na avaliação dele, as vinculações de receita precisam ser direcionadas para um programa específico, indiferente do resultado e, com isso, não se mede a real necessidade dessa despesa.
"Não se mede o gasto pela eficiência dele, mas pelo volume do gasto", observou. Para ele, não há outra alternativa a aumento de impostos se o modelo de gasto do governo brasileiro não for revisto.
"Se não atacar os gastos obrigatórios, não será possível fazer ajuste fiscal", sentenciou.
'Desaposentação'
Castelo Branco disse que para o Brasil crescer é necessário um ajuste fiscal mais amplo e de longo prazo, que não se resuma apenas a obtenção de superávits primários.
O economista se queixou do Senado, que na quarta-feira, 7, aprovou uma proposta de "desaposentação" e novas regras para aposentadoria. "Isso implica em pressões adicionais para o ajuste fiscal", afirmou.
Recessão
O gerente-executivo da CNI afirmou nesta que a recessão tem sido mais intensa que o esperado e que gradativamente a entidade migrou suas projeções para o campo mais pessimista.
Segundo ele, a previsão para a queda no consumo das famílias em 2015, um tombo de 2,3%, é algo extremamente elevado. "Nessa magnitude só ocorreu na época do Plano Collor, nos anos 1990", disse.
Na avaliação dele, recessão tem se manifestado mais intensamente no setor industrial, cuja previsão de PIB setorial passou de uma queda de 3,8% em julho para um tombo de 6,1% em outubro.
"Nossa expectativa era de que já em 2015 questões limitadoras de investimentos fossem resolvidas, mas isso não ocorreu e isso piorou a recessão", ponderou.
Castelo Branco argumentou que o empresário com a confiança em baixa tem pouca disposição para investir e, nesse cenário de atividade mais reduzida, os impactos têm aparecido no mercado de trabalho.
"O desemprego se mostra cada vez mais generalizado na economia. Menos demanda tem retornado para a economia porque os salários também estão menores", disse.
Ele afirmou ainda que o lado fiscal é o "calcanhar de Aquiles" da economia brasileira e que estima um aumento de 10 pontos porcentuais na dívida bruta no ano, ficando em 65,3% do PIB.
Inflação
Ele afirmou também que a inflação deste ano não se justifica apenas pela alta dos preços administrados, que estavam represados até o ano passado e passaram a ser corrigidos em 2015.
Segundo o representante da CNI, os preços de serviços e de alimentação também tem pressionado o custo de vida.
"A inflação é um problema geral, não é só preços administrados", disse. Castelo Branco comentou ainda que a tendência de longo prazo da moeda brasileira é perder mais valor frente o dólar e que a volatilidade no mercado de câmbio se explica pelas tensões domésticas e externas.