Economia

Ajuda do BNDES é modesta e menor do que parece, dizem economistas

Os R$ 20 bi parados no fundo do PIS que irão para o FGTS já haviam sido adiantados por Guedes junto a outras medidas

Gustavo Montezano: presidente do banco de fomento anunciou medidas em vídeoconferência neste domingi (Valter Campanato/Agência Brasil)

Gustavo Montezano: presidente do banco de fomento anunciou medidas em vídeoconferência neste domingi (Valter Campanato/Agência Brasil)

Ligia Tuon

Ligia Tuon

Publicado em 22 de março de 2020 às 20h21.

Última atualização em 22 de março de 2020 às 21h33.

A ajuda de R$ 55 bilhões anunciada neste domingo pelo BNDES no combate aos efeitos do coronavírus na economia foi alvo de comentários de economistas no Twitter, que a descrevem como "demasiadamente modesta". Além disso, parte do montante anunciado hoje já havia entrado na conta do ministro da Economia Paulo Guedes.

O pacote de medidas prevê a transferência de R$ 20 bilhões em recursos do Fundo PIS-PASEP para o FGTS e a suspensão temporária de pagamentos de parcelas de financiamentos diretos para empresas no valor de R$19 bilhões e R$ 11 bilhões de reais nos financiamentos indiretos do banco. Além disso, vai ampliar o crédito para micro, pequenas e médias empresas em R$ 5 bilhões.

"Demasiadamente modesta", disse Igor Rocha, economista e pesquisador da FGV no Twitter. "Crise tem data para passar? Pela questão de saúde, talvez sim. Problema são os canais de transmissão na economia. O Banco precisa ser mais agressivo em sua atuação", diz.

Rocha diz ainda que acha correto o crédito para que pequenas empresas tenham capital de giro, mas ressalta que "as grandes também vão precisar".

"De linhas novas, está-se falando em R$ 5 bilhões. O resto é refinanciamento, isto é, as parcelas e juros são jogadas pra frente e acumuladas no saldo devedor", disse Felipe Salto, diretor executivo da Instituição Fiscal Independente (IFI) do Senado. "O banco precisa ser mais agressivo na sua atuação, que não condiz com o quadro de crise mundial".

O ex-ministro da Fazenda Nelson Barbosa também comenta o fato de o parte do valor anunciado hoje já ter sido antecipado por Guedes e levanta a questão: "e quem não tem nada no BNDES? É possível ir além dos R$ 5 bi anunciados?"

À EXAME, Salto diz que a questão aqui não é se o banco de fomento tem ou não mais poder de bala para ajudar a mitigar os impactos da crise, mas de organização e timing.

"A meu ver, o governo precisa de um plano completo. E não ficar anunciando medidas aqui e acolá. Cadê a MP com crédito extraordinário para as ações de combate à crise, na saúde e também na mitigação dos efeitos sobre a renda do trabalhador mais pobre? Claro que o BNDES deve operar fortemente, agora, é o que se espera. Mas uma coisa não exclui a outra. Piora do déficit já está contratada", diz.

O governo contabiliza em mais de R$ 184 bi o valor das medidas anunciadas até agora para levar liquidez à economia. Grande parte desse número, porém, é formada por antecipações e adiamentos, como no caso da liberação do 13° dos aposentados até maio ou dos 25% do FGTS a trabalhadores com jornada reduzida.

Enquanto isso, nos Estados Unidos, o governo estuda injetar US$ 4 trilhões na economia e o Reino Unido anuncia que vai pagar até 80% dos salários dos trabalhadores nos próximos meses.

Para liberar espaço no orçamento, o governo pediu que o Congresso aceitasse o pedido de calamidade pública no país — aprovado na sexta pelo Senado —, tornando possível a flexibilização da meta do resultado primário do ano.

Inicialmente em R$ 124,1 bilhões no máximo, o rombo das contas já é calculado em R$ 200 bilhões, segundo Mansueto Almeida. Os efetos dessa pandemia no Brasil, porém, ainda são incertos e esse número pode crescer ainda mais.

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