Roberto Campos Neto: "É preciso esperar a materialização desses efeitos" (Ueslei Marcelino/Reuters)
Reuters
Publicado em 28 de janeiro de 2020 às 12h57.
Última atualização em 28 de janeiro de 2020 às 19h24.
São Paulo — O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, destacou nesta terça-feira que a política monetária tem um "lag" (defasagem), apesar de medidas para melhorar o canal de transmissão dos movimentos na taxa básica de juros, e que há um efeito a ser aguardado.
"É preciso esperar a materialização desses efeitos para dimensionar o que estamos fazendo e dar um rumo, um norte", disse Campos Neto em resposta a questionamentos da plateia em evento promovido pelo Credit Suisse.
O comentário vem num momento em que o mercado debate as chances de novo corte da Selic em fevereiro mesmo depois de todas as reduções já feitas que derrubaram a taxa básica de juros a sucessivas mínimas recordes. O juro está atualmente em 4,50%.
Também indagado pelos presentes, Campos Neto respondeu que a desvalorização do real não tem contaminado as expectativas de inflação, repetindo que a depreciação da moeda local tem ocorrido num ambiente de queda de prêmios de risco-país.
Campos Neto disse que "é óbvio" que o BC sempre acompanha os movimentos do câmbio sob dois aspectos: percepção de risco e expectativas de inflação.
O presidente do Banco Central também disse acreditar que no futuro os bancos "provavelmente" não disponibilizarão todos os serviços que ofertam agora, ao comentar sobre mudanças na dinâmica dos serviços financeiros.
"Vejo uma coisa instantânea, interoperável e aberta" para a oferta de serviços financeiros, afirmou ao responder questionamentos da plateia, citando, por exemplo, maior especialização e menor custo de intermediação financeira.
A expectativa de maior especialização, segundo o presidente do BC, aponta um futuro em que os bancos "não vão fazer tudo".
"No final, teremos uma torta muito maior, (mas) talvez os bancos grandes (ficarão) com um pedaço menor", disse em evento promovido pelo Credit Suisse.
No evento, Roberto Campos Neto também reiterou nesta terça-feira que a saída do estrangeiro do mercado de ações do Brasil se deve em boa parte a uma comparação do mercado local, que ficou mais valorizado, com outros, sobretudo na Ásia.
Campos Neto afirmou que a alta da bolsa no Brasil tem sido puxada principalmente por investidores locais.
"É mais do que a justificativa de que o fundamento não está bom, de problemas de governo. Os locais fizeram movimento de migração (para bolsa) muito forte. E o estrangeiro acabou comprando outros mercados."
Dados do BC mostraram na segunda-feira que os investidores estrangeiros retiraram 5,666 bilhões de dólares de aplicações em ações do Brasil no pior desempenho registrado para a negociação direta de papéis em bolsa no mercado doméstico desde 2008, quando a saída foi de 10,850 bilhões de dólares.