Expansão: energias solar e eólica representam cerca de 3% da matriz mundial (Getty Images)
Vanessa Barbosa
Publicado em 28 de fevereiro de 2014 às 18h28.
São Paulo – A energia eólica e energia solar fotovoltaica (PV) são cruciais não só para satisfazer as necessidades energéticas futuras, mas para reduzir as emissões de gases efeito estufa do setor de energia. Felizmente, a implantação de ambas as tecnologias tem se expandido nos últimos anos, com custos mais competitivos em relação aos combustíveis fósseis. Apesar disso, ainda enfrenta críticas. A principal é que os custos associados com a integração de fontes de energia renovável na rede não são nada amigáveis.
Um novo estudo lançado pela Agência Internacional de Energia (AIE) aborda estas preocupações e diz que a integração de 30 por cento da produção de eletricidade anual ou mais vinda de fonte eólica ou solar em sistemas de energia pode ter um pequeno custo adicional no longo prazo, mas que é viável e deve ser buscada nas economias emergentes.
"Esta nova análise apela para uma mudança de perspectiva", explicou a diretora executiva da AIE, Maria van der Hoeven. "Na abordagem clássica, energias renováveis variadas são adicionadas a um sistema já existente, sem considerar todas as opções disponíveis para adaptá-la como um todo. Esta abordagem não é o ponto. A integração não é simplesmente sobre a adição de energia eólica e solar em cima de 'business as usual'. Precisamos transformar o sistema como um todo para fazer isso de forma rentável", completou.
Atualmente, a energia solar fotovoltaica e eólica representam, apenas, cerca de 3% da geração de eletricidade no mundo, mas alguns países estão mais adiantados: na Itália, Alemanha, Irlanda, Espanha, Portugal e Dinamarca, as renováveis representam de 10 a 30 por cento da geração de eletricidade (com base em dados de 2012).
O relatório diz que, para qualquer país, integrar na rede o primeiro 5 a 10 por cento da geração de renováveis não coloca desafios técnicos e econômicos.
Esses níveis mais baixos de integração são possíveis pois os mesmos recursos flexíveis que os sistemas de energia existentes já utilizam para lidar com a variabilidade da demanda pode ser posto em função da integração da energia eólica e solar.
No entanto, ir além dos primeiros “poucos por cento”, para atingir quotas superiores a 30 por cento vai exigir uma transformação do sistema.
Esta transformação tem três requisitos principais, segundo o estudo: a implantação de energias renováveis variadas de uma forma amigável e utilizando tecnologia de ponta, melhorar a operação do dia-a-dia dos sistemas de energia e mercados, e, finalmente, investir em recursos flexíveis adicionais.
Os desafios de tal transformação dependem, claro, de identificar se um sistema de energia é "estável", ou seja, sem investimentos significativos necessários para atender a demanda no curto prazo, ou "dinâmico", que exige investimentos significativos a curto prazo, para atender à crescente demanda de energia ou substituir velhos ativos.
O desafio da transformação em sistemas estáveis é duplo: passa pela ampliação do novo sistema e pelo aumento da flexibilidade. Governos com sistemas estáveis enfrentam questões políticas difíceis, sobre como lidar com os efeitos distributivos: decidir, por exemplo, se usinas precisam ser aposentadas antes do fim de suas vidas e, em caso afirmativo, quem vai pagar pelos bens encalhados.
Enfrentar esses desafios só será possível através de um esforço de colaboração entre os tomadores de decisão da política e da indústria, diz o estudo.
Em qualquer caso, "estes desafios superáveis não devem nos deixar perder de vista os benefícios que as energias renováveis podem trazer para a segurança energética e a luta contra as alterações climáticas”, disse Van der Hoeven.
Por outro lado, em sistemas de energia "dinâmicos", como na Índia, China, Brasil e outras economias emergentes, a energia eólica e energia solar fotovoltaica podem ser soluções de baixo custo para atender a demanda crescente.
“A integração das renováveis nas redes pode - e deve - ser uma prioridade desde o início. Com investimentos próprios, um sistema flexível pode ser construído desde o início, em paralelo com a implantação de energias renováveis no país”, concluiu o relatório.