O bilateralismo nunca substituirá a OMC. No máximo, pode servir para complementá-la, disse o diretor-geral da OMC (Yuri Gripas/Reuters)
EFE
Publicado em 1 de junho de 2018 às 10h50.
Paris - Os acordos comerciais bilaterais nunca substituirão o papel da Organização Mundial do Comércio (OMC), é o que diz o seu diretor-geral, o brasileiro Roberto Azevêdo, que, no entanto, reconhece que é necessária uma reforma para que a organização seja mais rápida e flexível em seu funcionamento.
Em entrevista publicada pelo jornal econômico francês "Les Echos" nesta sexta-feira, o dia em que entram em vigor as sobretaxas dos Estados Unidos para as importações de aço e alumínio de União Europeia, México e Canadá, Azevêdo insistiu que não há outra instância, além da OMC, para regular o comércio mundial.
"O bilateralismo nunca substituirá a OMC. No máximo, pode servir para complementá-la", mas, para isso, necessita de flexibilidade, disse o diretor da organização, antes de lembrar que conseguiu estabelecer acordos de magnitude nos últimos anos.
Entre eles, Azevêdo destacou o acordo de facilitação de intercâmbios, que aumentará o Produto Interno Bruto (PIB) mundial em "mais de US$ 1 bilhão a cada ano", o de tecnologias da informação, que cobre um comércio de mais de US$ 1,3 bilhão anuais, "muito mais que o mercado automobilístico mundial", e o de eliminação de subsídios agrícolas.
O diplomata brasileiro também admitiu que "o sistema está longe de ser perfeito" e " deve ser aprimorado", depois que a organização recebeu severas críticas por parte dos EUA, que reprova sua falta de agilidade e incapacidade para impor um comércio justo e equilibrado.
Não obstante, Azevêdo detalhou que isso é algo que nem ele nem a OMC podem fazer, já que cabe aos países-membros estabelecer as prioridades, e citou como possíveis reformas o órgão de resolução de disputas, o excesso de capacidades de produção e a propriedade intelectual.
O diretor da OMC também manifestou apoio ao presidente francês, Emmanuel Macron, que na quarta-feira propôs abrir discussões para reformar a organização, em um primeiro momento, entre europeus, americanos, chineses e japoneses.
"Não será mais que o começo, já que a organização conta com 164 membros. Mas é preciso começar por algum lugar", afirmou Azevêdo.
O diplomata brasileiro defendeu que a OMC "conseguiu evitar guerras comerciais, tentações protecionistas, sobretudo depois da crise de 2008", quando, se ela não existisse, a situação teria degenerado e a recessão "teria sido ainda pior".