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Da Redação
Publicado em 27 de maio de 2010 às 13h35.
Rio de Janeiro - As negociações para um acordo de livre-comércio entre a União Europeia (UE) e o Mercosul não são tão simples como as que o bloco europeu fez com outros países da América do Sul.
"O que os europeus têm que entender é que eles não assinarão com o Mercosul um acordo como os que assinaram com o Chile, Colômbia e Peru, que são países que têm evidentemente uma estrutura industrial diferente da nossa", disse Marco Aurélio Garcia, assessor da Presidência para assuntos internacionais, em declarações a jornalistas.
Garcia advertiu que o Mercosul só pode aceitar um acordo que preserve o parque industrial brasileiro e que respeite o atual processo de industrialização da Argentina.
Ele lembrou que os países sul-americanos que já assinaram acordos de livre-comércio com a UE não têm uma infraestrutura industrial nem uma produção agrícola tão elevada como a do Mercosul.
"Na semana passada relançamos as negociações em Madri e o que está previsto é que os negociadores comecem a se reunir em junho", afirmou Garcia após participar da abertura do III Fórum Brasil-UE, que reunirá hoje e amanhã no Rio de Janeiro empresários dos dois blocos.
O funcionário disse que o Mercosul enfrentara as negociações de forma mais compacta que a própria UE devido a algumas divergências no bloco europeu.
"No Mercosul estamos mais homogêneos. Na Europa há mais problemas porque a percepção da política agrícola comum europeia é diferenciada. Há países que são mais protecionistas, e todos sabem quais são, e há países que estariam dispostos a acelerar mais a negociação", disse.
Acrescentou que apesar da tentação de adotar posições protecionistas ser maior em momentos de crise, espera que os europeus entendam que "o protecionismo não é uma boa companhia em uma crise e que pode agravar a situação".
"Em umas negociações sempre é preciso ceder um pouco. Evidentemente nós vamos ceder nas margens de preservação do interesse nacional, o que significa um equilíbrio entre uma certa abertura no setor industrial e concessões mais essenciais dos europeus no terreno agrícola", disse.
Acrescentou que, além de maiores concessões agrícolas, os europeus também têm que "moderar um pouco seu apetite no terreno industrial".
Quanto à possibilidade que a atual crise em alguns países europeus possa afetar negativamente as negociações, García assegurou que o Brasil está disposto a cooperar para que a UE possa recuperar-se de forma mais rápida e que já atua dentro do Fundo Monetário Internacional (FMI) para facilitar a concessão de ajuda aos países com problemas.
"A recuperação europeia é importante para o Mercosul. Temos um mercado de US$ 110 bilhões com a UE e é óbvio que gostaríamos de aumentá-lo, assim como gostaria de receber mais bens de capital e investimentos europeus", disse