Economia

Acordo da Opep pode estimular nova alta de preço da Petrobras

Analistas consideram que, caso o petróleo permaneça com viés de alta, a empresa precisará aumentar os preços para não ficar em desvantagem

Petrobras: analistas não acreditam que os acordos realizados pela Opep e países de fora tenham potencial para manter preços valorizados por muito tempo (Tânia Rêgo/Agência Brasil/Reuters)

Petrobras: analistas não acreditam que os acordos realizados pela Opep e países de fora tenham potencial para manter preços valorizados por muito tempo (Tânia Rêgo/Agência Brasil/Reuters)

R

Reuters

Publicado em 12 de dezembro de 2016 às 17h52.

Rio de Janeiro - A Petrobras poderá se ver obrigada a aumentar os preços dos combustíveis pela segunda vez em dezembro, após países rivais da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) terem fechado no sábado um acordo com o cartel de corte na produção, provocando uma disparada dos valores de referência do petróleo nesta segunda-feira.

A avaliação é de analistas ouvidos pela Reuters, que consideram que, caso o petróleo permaneça com viés de alta, a empresa precisará aumentar os preços para não ficar em desvantagem nas vendas do mercado interno. Isso considerando que a taxa o dólar fique estável ou se valorize ao longo do mês.

"Eu não descarto que ainda neste ano eles revisem de novo os preços (da gasolina e do diesel) para cima, dado que está subindo", afirmou Luiz Fernando Castelli, economista da GO Associados.

Países produtores de petróleo que não fazem parte da Opep concordaram no sábado em reduzir sua produção em 562 mil barris por dia (bpd) como parte de um acordo global com a Opep, que já havia acordado reduzir sua própria produção em 1,2 milhão bpd.

Com isso, o preço do petróleo Brent operava em alta de cerca de 3 por cento pouco antes do fechamento nesta segunda-feira, por volta de 56 dólares por barril, após tocar uma máxima de 57,89 dólares mais cedo, o maior valor desde julho de 2015, quando subiu mais de 6 por cento na sessão.

Analistas ponderaram, contudo, que ainda existe um grau de incerteza em relação à frequência em que a petroleira realizará ajustes, já que a nova política de preços tem apenas dois meses.

Em sua nova política, a Petrobras não detalhou as margens que motivarão novos reajustes e nem os custos da empresa para a compra de combustíveis no exterior, garantindo apenas que os preços não ficariam mais abaixo da paridade internacional. A empresa apontou apenas alguns parâmetros, como câmbio, preço do petróleo, entre outros.

Castelli, que realiza as projeções de inflação da consultoria, explicou que as mudanças mais frequentes dos preços dos combustíveis trouxeram uma imprevisibilidade maior para os indicadores de preços ao consumidor.

"Até agora ainda não houve um padrão (nas mudanças de preços de combustíveis)... com o tempo, nós vamos incorporando melhor essa ideia, de como eles (Petrobras) estão tomando essas decisões", afirmou Castelli, referindo-se aos valores de referência utilizados pela petroleira estatal.

Por enquanto, o economista ainda não reviu suas projeções de inflação para o mês.

Desde que anunciou a sua nova política de preços e a criação de um comitê para tratar dos derivados, em outubro, a petroleira já reduziu o preço do diesel e da gasolina duas vezes e aumentou uma, na semana passada, após a Opep fechar o acordo de corte.

O analista de petróleo da Tendências, Walter de Vitto, destacou que o reajuste para cima feito na última semana aconteceu em um momento em que os preços da Petrobras ficaram mais baixos do que no exterior.

Após o reajuste e com os atuais preços do petróleo, segundo estimativas de Vitto, os valores da gasolina e do diesel da Petrobras ainda estão com alguma vantagem em relação aos praticados no exterior. Entretanto, caso o viés de alta permaneça, um reajuste ainda neste ano não pode ser descartado.

"No nosso cenário, com a alta da taxa de câmbio, se essa alta permanecer... de fato a Petrobras deve repassar isso (a alta dos preços do petróleo) para o consumidor", afirmou Vitto.

Já olhando para o longo prazo, analistas não acreditam que os acordos realizados pela Opep e países de fora tenham potencial para manter preços valorizados por muito tempo.

"Quando olha para o longo prazo, essas medidas começam a perder um pouco de efeito, porque preços muito pressionados nos próximos meses vão estimular investimentos, principalmente nos Estados Unidos, isso vai trazer mais petróleo e essa estratégia de enxugar (produção) não funciona", afirmou Vitto.

O ex-diretor-geral da ANP e diretor da DZ Negócios com Energia, David Zylbersztajn, destacou ainda que o acordo firmado pela Opep e pelos países não membros tratam de volumes pequenos em comparação com a demanda e a oferta internacional de petróleo e que não há garantia de que o negócio será cumprido.

"(A disparada dos preços do petróleo nesta segunda-feira) é especulação pura... e não tem garantia nenhuma que (o acordo)será cumprido", afirmou Zylbersztajn.

Quando procurada sobre o assunto, a Petrobras tem reafirmado algumas diretrizes da sua política, dizendo que leva em consideração fatores como preço de paridade internacional, que já inclui custos como frete de navios, custos internos de transporte e taxas portuárias, margem para remuneração dos riscos inerentes à operação, além do câmbio, entre outros.

Acompanhe tudo sobre:OpepPetrobrasPetróleo

Mais de Economia

Reforma tributária: videocast debate os efeitos da regulamentação para o agronegócio

Análise: O pacote fiscal passou. Mas ficou o mal-estar

Amazon, Huawei, Samsung: quais são as 10 empresas que mais investem em política industrial no mundo?

Economia de baixa altitude: China lidera com inovação