Sede do Banco Central: a recessão, que traz a reboque a ameaça do desemprego, pode ter convencido o BC a acenar com uma trégua no aperto (REUTERS/Ueslei Marcelino)
Da Redação
Publicado em 30 de julho de 2015 às 17h48.
A surpreendente sinalização do Banco Central de que os juros não vão subir mais após a Selic chegar a 14,25% chega em um momento em que aumentam os sinais de deterioração da economia brasileira.
A recessão, que traz a reboque a ameaça do desemprego, pode ter convencido o BC a acenar com uma trégua no aperto.
O agravamento do cenário para o PIB tem sido impressionante.
A mediana da pesquisa feita pelo BC entre analistas do mercado para o PIB de 2015 apontava, até fevereiro de 2012, crescimento forte de 4,5%.
Desde então, a projeção tem caído continuamente. Chegou a zero em fevereiro deste ano e logo em seguida entrou em terreno negativo, atingindo -1,76% na pesquisa Focus do BC divulgada na última segunda-feira.
O grande desafio tanto para o BC quanto para o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, agora é assegurar uma recuperação da economia pelo menos em 2016. Contudo, a piora de expectativas também não tem poupado o próximo ano.
Até o final de 2014, a pesquisa Focus mostrava o mercado prevendo cerca de 2% de crescimento para 2016.
Na última pesquisa, esta previsão já se aproximava de zero, limitando-se a 0,2%.
O desempenho agudamente negativo do PIB em 2015 pode acabar tendo um efeito estatístico sobre o próximo ano, no chamado “carrego estatístico”, segundo Mário Mesquita, economista do Banco Plural e ex-diretor do BC. Isso tornaria uma nova recessão
“quase inevitável em 2016”, diz Mesquita. “Mesmo que você comece a crescer ainda em 2015, o ponto de partida vai ser tão baixo, que talvez não se consiga mostrar uma média positiva no ano”
Mesmo para 2015, as expectativas para o PIB brasileiro podem piorar ainda mais.
Nesta semana, o Banco Fibra cortou a previsão para o PIB brasileiro este ano de -1,7% para -3,1%, diante de uma contração da demanda doméstica que o banco considera ser a mais forte já registrada.
Se existe um lado bom na recessão, o único é a possibilidade de uma economia menos aquecida desestimular aumentos de preços. Com isso, o BC pode considerar que ficou um pouco mais fácil levar a inflação para a meta de 4,5% em 2016, uma perspectiva ainda vista com ressalvas pelo mercado.
“Estamos perto de ver o mercado projetando dois anos seguidos de recessão”, diz João Pedro Ribeiro, estrategista para Brasil da Nomura Securities em Nova York.
E mesmo a alta do dólar pode não ser um obstáculo invencível. “O repasse do câmbio para os preços fica menor com a recessão”.
Apesar do aumento do pessimismo, o mercado ainda não vê um cenário “catastrófico”, diz Vladimir Caramaschi, estrategista- chefe do Credit Agricole Brasil.
Ele observa que já há sinais de reação das exportações ao dólar mais alto e, com os juros reais na casa de 8,5%, o BC deve conseguir evitar uma desvalorização descontrolada do real.
A dificuldade do governo em viabilizar politicamente o ajuste fiscal para reconquistar a confiança, porém, torna difícil para o mercado retomar o otimismo. “Poucas vezes se viu um governo com tamanha dificuldade em determinar a agenda do Congresso como agora”, diz Caramaschi.
O agravamento da economia também afeta o quadro político, em um movimento circular. A recessão aumenta a demanda de senadores e deputados por medidas que ampliam gastos e reduz o poder de negociação do governo.
“É difícil saber se é mais a economia que está afetando a política ou é mais a política que está afetando a economia”, diz Ribeiro, da Nomura.