Economia

A pior crise da história

Letícia Toledo Às 9h desta terça-feira os números devem sacramentar o que economistas e analistas já sabem: estamos na pior recessão da história do país desde a década de 1930. Os dados do IBGE devem mostrar uma retração de 0,6% no Produto Interno Bruto (PIB) do quarto trimestre de 2016. No ano, a economia deve […]

indústria (Germano Luders/Exame)

indústria (Germano Luders/Exame)

LT

Letícia Toledo

Publicado em 6 de março de 2017 às 21h16.

Última atualização em 22 de junho de 2017 às 18h27.

Letícia Toledo

Às 9h desta terça-feira os números devem sacramentar o que economistas e analistas já sabem: estamos na pior recessão da história do país desde a década de 1930. Os dados do IBGE devem mostrar uma retração de 0,6% no Produto Interno Bruto (PIB) do quarto trimestre de 2016. No ano, a economia deve mostrar um recuo de 3,6%. Será o oitavo trimestre seguido de queda e o segundo ano de recessão — em 2015 a economia encolheu 3,8%. A última vez que isso aconteceu foi nos anos de 1930 e 1931, quando a economia encolheu 2,1% e 3,3%, respectivamente.

“O resultado nesta terça deve vir ruim de maneira generalizada. O pior número deve vir da indústria, que viveu um momento ruim na parte da construção civil e da indústria da transformação”, afirma o economista Rafael Bacciotti, da consultoria Tendências. O PIB industrial deve mostrar uma queda de 3,6% em 2016. Ainda do lado da oferta, o setor de serviços deve ter encolhido 2,6%, segundo economistas. O resultado deve ser impactado pela crescente taxa de desemprego e a queda na renda das famílias.

Do lado da demanda, o desemprego, atualmente em 12,6%, impactou o consumo das famílias, que deve mostrar uma retração de 0,5% no último trimestre. O ponto mais negativo na demanda deve vir dos investimentos, que devem encolher 3,5% apenas no último trimestre do ano.

Com tantos números ruins, a economia brasileira só ganhou da problemática vizinha Venezuela. Um levantamento da consultoria 4E com 25 países mostra que a economia brasileira deve apresentar o segundo pior desempenho econômico em 2016. Atrás apenas, é claro, da Venezuela – que teve uma retração de 23% em 2016. O PIB per capita brasileiro deve fechar 2016 em seu terceiro ano seguido de retração. Em 2014 e 2015 o PIB per capita recuou 5,5%.

Segundo dados da consultoria Tendências, o ciclo atual da crise se assemelha, em termos de duração e amplitude, às duas crises da década de 1980. Após essas crises, a economia teve uma grande retomada. Após retrair 2,1% entre 1981 e 1983, a economia teve uma taxa média de avanço de 6,1% de 1984 a 1987, por exemplo. Dessa vez, o alto grau de endividamento das famílias, empresas e governo deve tornar a recuperação muito mais lenta.

Economistas divergem sobre uma recuperação já no primeiro trimestre ou no segundo trimestre de 2017. Em um ponto, eles concordam: a agropecuária será fundamental para interromper a trajetória de queda do PIB. Economistas estimam que o setor agrícola deve apresentar uma alta de cerca de 12% no primeiro trimestre na comparação com os últimos três meses de 2016.

“A agropecuária é o grande propulsor. Fora isso, acreditamos que a indústria deve apresentar uma leve melhora”, afirma Bacciotti. A expectativa é de que a queda na taxa de juros e o ajuste nos estoques influenciem para a retomada da indústria. A retomada deve vir de alguns setores que têm estoques baixos. É o caso de setores como o têxtil e de calçados, alimentos, químicos, madeira e celulose.

O problema está em outros setores importantes — que experimentaram um crescimento muito grande em anos passados e estão entre os mais afetados pela crise — e que devem continuar sem melhora. No varejo, esse é o caso de bens mais caros como imóveis e automóveis. Esses setores dependem da oferta de crédito, que só deve mostrar uma forte retomada em 2018.

A taxa de desemprego ainda alta continua sendo um grande empecilho para a retomada de crédito. Para a consultoria Tendências a taxa chegará a 14% em maio e só a partir de então iniciará uma queda. “Mesmo assim o desemprego deve terminar o ano em 11,9%. É um número muito alto e ainda deve gerar cautela por parte do consumidor”, afirma Bacciotti.

A queda da taxa de juros é tida como o fator essencial para retomar a maioria dos setores do país. O principal deve ser o investimento. Atualmente em 12,25% ao ano, economistas consultados pelo Boletim Focus esperam que a Selic esteja em 9,25% no fim do ano.

Os riscos de 2017

Mesmo após todos esses meses o principal risco para a retomada da economia continua sendo o cenário político. “O primeiro semestre é de acomodação da crise. A expectativa é de que no segundo semestre a gente tenha uma definição maior da Operação Lava-Jato e da reforma da Previdência. Esses são os principais riscos da recuperação”, afirma Guilherme Attuy, Economista da XP Investimentos.

Com ministros e o próprio presidente Michel Temer citado em delações da Operação Lava-Jato a insegurança persiste no empresariado e impede um avanço nos investimentos. Há ainda riscos internacionais. Na última semana a China revisou a meta de seu crescimento de 2017 para 6,5% – ante a meta entre 6,5% e 7% em 2016. O novo presidente dos Estados Unidos e suas polêmicas medidas também podem trazer uma insegurança global e atrapalhar a retomada de investimentos no país, afirmam economistas.

Para o ano de 2017 as projeções para a economia brasileira variam de uma retração de -0,2% até um crescimento 1,3%. Os dados desta terça-feira podem dar novas pistas de quanto o país ainda tem que recuperar.

http://infogr.am/pib_2017-35849965

 

Acompanhe tudo sobre:Exame Hoje

Mais de Economia

BNDES vai repassar R$ 25 bilhões ao Tesouro para contribuir com meta fiscal

Eleição de Trump elevou custo financeiro para países emergentes, afirma Galípolo

Estímulo da China impulsiona consumo doméstico antes do 'choque tarifário' prometido por Trump

'Quanto mais demorar o ajuste fiscal, maior é o choque', diz Campos Neto