Economia

A lua-de-mel da Fiesp com o PT

A Fiesp está em lua-de-mel com o governo. Não poderia haver indício mais forte do que a indicação de Luiz Fernando Furlan, acionista e presidente do conselho de administração da Sadia, para o cargo de ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. Até ontem, pelo menos, ele era o segundo vice-presidente da Fiesp, encarregado justamente […]

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Da Redação

Publicado em 9 de outubro de 2008 às 10h27.

A Fiesp está em lua-de-mel com o governo. Não poderia haver indício mais forte do que a indicação de Luiz Fernando Furlan, acionista e presidente do conselho de administração da Sadia, para o cargo de ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. Até ontem, pelo menos, ele era o segundo vice-presidente da Fiesp, encarregado justamente da área de comércio exterior.

Pode causar um pouco de estranheza o fato de Furlan ser um ardoroso defensor das negociações para o estabelecimento da Alca (a associação de livre comércio das Américas), enquanto a Fiesp anda, de uns meses para cá, frisando que o Brasil não pode, não deve, não quer se entregar ao livre comércio sem saber tintim por tintim o quanto tem a lucrar -- ou a perder -- com isso.

"Não há contradição", disse Horacio Lafer Piva, presidente da Fiesp, em almoço com a imprensa nesta quinta-feira (12/12). "Só deixamos claro que nossa indústria tem de se mexer. Não dá para entrar na Alca de olhos fechados." (Seguindo sua própria pregação, a Fiesp está investindo em um estudo sobre quanto cada setor é taxado no comércio com países da região, especialmente os Estados Unidos. Dentro de um mês, deverá ser incluído no estudo o impacto das barreiras não-tarifárias, como por exemplo as cotas e sobretaxas para aço e laranja).

Outro sintoma da lua-de-mel é a pesquisa anual de clima feita com empresários, a maior parte deles do mailing da Fiesp. Quase quatro quintos dos empresários estão otimistas quanto ao governo Lula (69% acham que ele será bom, 8% acham que será ótimo, e apenas 2% acreditam que será péssimo). Não é à toa. Durante a campanha, o PT acenou com um discurso pró-indústria nacional, que naturalmente fala caro ao bolso dos empresários. "Que fique bem claro, não estamos querendo uma volta ao passado, com mercado fechado e empresas protegidas", diz Piva. "Queremos é que o novo governo tire a indústria brasileira dessa espécie de ostracismo, que possamos discutir as políticas nacionais, os caminhos do país." Normalmente animado, Piva estava especialmente elétrico no almoço: "É bom ver como o governo vai se formando". Especialmente quando há um legítimo representante da indústria em tão alto posto.

Uma aposta interessante é quanto tempo vai durar essa lua-de-mel. Em meio ao discurso otimista, Piva relegou a segundo plano a preocupação com a inflação e desejou que o atual ministro do Banco Central, Armínio Fraga, se abstenha de aumentar os juros para controlá-la. "É claro que cuidar da inflação é importante, mas há coisas mais importantes, como promover o crescimento da economia", disse ele. "A inflação poderá recuar depois, pela baixa do dólar. O preço a pagar pela alta de juros é alto demais." E se (ou quando) o futuro ministro da Fazenda, Antonio Palocci, tiver que adotar medidas duras para conter a inflação? E se (ou quando) o futuro presidente do BC, Henrique Meirelles, tiver de aumentar os juros?

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