Ngozi Okonjo-Iweala: economista é uma das favoritas ao cargo de diretora da Organização Mundial do Comércio (Lucas Jackson/Reuters)
Carolina Riveira
Publicado em 30 de junho de 2020 às 12h45.
Última atualização em 7 de outubro de 2020 às 13h43.
Uma das favoritas para a vaga do brasileiro Roberto Azevêdo na liderança da Organização Mundial do Comércio (OMC) já tem nome. É a economista Ngozi Okonjo-Iweala, ex-ministra das Finanças da Nigéria e que tem o apoio de países africanos.
Azevêdo anunciou em maio que deixaria antecipadamente o comando da Organização Mundial do Comércio no próximo mês de agosto, de modo que sua sucessão não atrapalhasse os preparativos para a reunião global da organização, que deve ocorrer no ano que vem.
Okonjo-Iweala, de 66 anos, disse em entrevista à Reuters publicada nesta terça-feira, 30, que sente um "forte apoio" dos países da África para tê-la como candidata única da região. Ela afirmou que pretende aumentar a fatia da África no comércio global, hoje em 3% -- embora ser ter definido uma projeção.
Se eleita, Okonjo-Iweala seria a primeira mulher a chefiar a OMC desde que a organização foi criada, em 1995. Seria também a primeira candidata da África, homem ou mulher, a ganhar a posição. As nomeações podem acontecer até o próximo dia 8 de julho.
À Reuters, um delegado a descreveu como "certamente a favorita" para a posição na OMC. A candidata ganhou força depois que Phil Hogan, da Comissão Europeia de Comércio, desistiu da candidatura, e é vista como aceitável tanto para China quanto para Estados Unidos.
A economista é formada pela Universidade Harvard, nos Estados Unidos. Depois, concluiu seu doutorado no Massachusetts Institute of Technology (MIT), com uma tese sobre política de crédito no desenvolvimento da agricultura da Nigéria.
Okonjo-Iweala atuou duas vezes no governo da Nigéria, servindo como ministra das Finanças entre 2003 e 2006 e 2011 e 2015. Em 2006, foi brevemente ministra das Relações Exteriores, deixando o cargo no mesmo ano. Nas posições no governo da Nigéria, ela também foi a primeira mulher a já ter assumido o cargo. A economista trabalhou ainda no Banco Mundial por 25 anos, chegando a número 2 da instituição, de 2007 a 2011.
Quando atuou no governo nigeriano, Okonjo-Iweala chegou a conseguir reduzir a dívida nigeriana em 30 bilhões de dólares em negociações com credores no exterior, o que a dá o título de uma boa negociadora entre os colegas. No Banco Mundial, a ela são creditados projetos para crédito a países mais pobres. Okonjo-Iweala também fez projetos na Nigéria para o empreendedorismo feminino e programa que desse mais dinheiro às questões de gênero no orçamento.
Sobre o papel da OMC na recuperação da crise da covid-19, a economista nigeriana disse à Reuters que é preciso que qualquer eventual restrição a exportações sejam "temporárias, transparentes e proporcionais" de modo a "garantir que não prejudiquem outros membros".
A exportação de insumos hospitalares gerou uma "guerra" pelos produtos nos últimos meses em meio à pandemia. Respiradores e máscaras chegaram a ser interceptados em aeroportos de países como Estados Unidos, Alemanha e China, e os países também afirmaram que não deixariam alguns desses itens serem enviados ao exterior. Agora, à medida em que pesquisas para uma nova vacina avançam, há ainda a preocupação de que países mais ricos ou os que avançaram mais na pesquisa pela vacina não disponibilizem os insumos para todo o globo.
Atualmente, Okonjo-Iweala é também conselheira de organizações como a Aliança Global para Vacinas e Imunização, que busca aumentar o nível de imunização em países pobres, e participa do conselho da rede social Twitter.
Ao próximo chefe da OMC, um dos maiores desafios será solucionar tensões comerciais entre China e Estados Unidos e lidar com a perda de poder da organização. "Os problemas são muito profundos e desafiadores, mas não são impossíveis de resolver", disse Okonjo-Iweala.
Após anunciar sua saída em maio, Roberto Azevêdo afirmou que seria melhor renunciar antes do prazo a fim de evitar uma situação em que o processo de seleção de seu sucessor ofuscasse a próxima conferência ministerial da OMC. O brasileiro estava no cargo desde 2013, agora em seu segundo mandato.
Embora a OMC ainda não tenha marcado uma data para a próxima reunião bienal, Azevêdo disse que, se ocorrer em junho de 2021, os preparativos seriam “completamente destruídos” pelo processo de sucessão. Ele disse que isso “mataria” a reunião, que “é uma peça muito crítica para o processo de reforma da OMC e para o futuro da organização.” Azevêdo também citou os desafios da OMC, como a guerra comercial sino-americana.