Economia

7 riscos que permanecem após Levy conter tempestade perfeita

Os 7 principais fatores que geraram a crise de confiança que levou o dólar a R$ 3,30 em março e que precisam continuar monitorados


	Ministro Joaquim Levy: em todos os pontos há um alívio que dá tempo ao governo para implementar os ajustes necessários
 (Marcelo Camargo/Agência Brasil)

Ministro Joaquim Levy: em todos os pontos há um alívio que dá tempo ao governo para implementar os ajustes necessários (Marcelo Camargo/Agência Brasil)

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Da Redação

Publicado em 29 de abril de 2015 às 20h35.

A queda de quase 10% do dólar e alta de 11% do Ibovespa nos últimos 30 dias atestam o alívio do mercado com a percepção de que os maiores riscos vistos no 1º trimestre foram, se não afastados, pelo menos adiados.

A chamada tempestade perfeita acabou não ocorrendo, pelo menos na intensidade em que chegou a ser temida.

A seguir, os 7 principais fatores que geraram a crise de confiança que levou o dólar a R$ 3,30 em março e que precisam continuar monitorados.

Em todos estes pontos há um alívio que dá tempo ao governo brasileiro para implementar os ajustes necessários. Contudo, esses riscos não foram eliminados.

1) Aperto monetário nos EUA

Um dos fatores de maior peso na alta do dólar contra a maioria das demais moedas nos últimos 2 anos não tem nada a ver com Dilma ou a Petrobras. É a expectativa de que, diante do crescimento dos EUA em um cenário de desaceleração na China, Europa, Japão e mercados emergentes, o Banco Central americano voltará a elevar sua taxa de juros, derrubada para perto de zero para conter os efeitos da crise global de 2008.

No entanto, os indicadores americanos das últimas semanas têm vindo aquém do esperado, levando o mercado a adiar as apostas em aperto monetário. É um alívio e tanto para países como o Brasil, que vinham acumulando elevados déficits em conta corrente, financiados sem maiores problemas um uma era de dinheiro farto e barato. Esta bonança não deve durar para sempre, mas espera-se que seu prolongamento seja confirmado pelo Fed na reunião que termina nesta quarta-feira.

2) Perda do investment grade

Reconhecendo o esforço comandado pelo ministro Levy para reverter o déficit fiscal, as agências de risco sinalizaram que o Brasil, ao menos este ano, não deve perder o selo de bom pagador que ganhou em 2008. O alívio maior veio da S&P, que coloca o Brasil por um fio, apenas um grau acima do nível especulativo.

3) Dívida da Petrobras

A empresa correria o risco de ter de pagar adiantado parte de sua dívida se não divulgasse o balanço. O resultado acabou saindo, ainda que perto do final do prazo, e impulsionou as ações, que acumulam ganho acima de 30% em 30 dias.

A empresa, porém, confirmou um quadro de absoluta deterioração em suas contas e tem agora a dura missão de administrar uma dívida de R$ 351 bilhões e melhorar seu desempenho operacional sem a ajuda do petróleo, que vale pouco mais da metade de um ano atrás. A crise da empresa, entretanto, pode levar o governo a decisões positivas para o mercado, como a volta das concessões de petróleo.

4) Lava Jato

Um dos fatores que contribuíram para a derrocada de Petrobras na bolsa desde 2014, o escândalo de corrupção também refluiu, pelo menos em termos de risco de repercussão na economia. O lance mais recente veio nesta terça-feira à noite com decisão do STF de tirar executivos de empreiteiras da cadeia, diminuindo a chance de eles aderirem à delação premiada.

A defesa do impeachment da presidente feita semanas atrás pelo PSDB foi desaprovada pelo ex-presidente FHC. A lista do procurador Janot foi enviada ao STF e desapareceu da mídia, com sinais de que as investigações, se prosperarem, serão no ritmo lento que se viu no Mensalão, que levou uma década para saírem as condenações. O ritmo das prisões preventivas ordenadas pelo juiz Moro, inicialmente na casa das dezenas, também caiu.

5) Crise política

Março foi um mês terrível para o governo, com protestos nas ruas e uma rebelião do PMDB ameaçando o ajuste fiscal. Em abril, a situação parece mais controlada. Os protestos deste mês minguaram quando comparados aos de 15 de março. No Congresso, a nomeação de Temer como coordenador político apazigou os ânimos.

Algumas ameaças ao ajuste fiscal, como a mudança no indexador das dívidas dos estados, não vingaram, embora continuem na pauta. E foi ficando claro que algumas agendas tocadas pelo Congresso, como a terceirização, podem contrariar o PT e setores mais à esquerda do governo, mas são bem-vistas no mercado.

6) Força de Levy

Embora as credenciais de Levy jamais tenham sido questionadas, uma dúvida inicial do mercado era qual seria o limite de ação de um ministro que reza pela cartilha liberal de Chicago no governo de uma presidente que pensa nos moldes da desenvolvimentista Unicamp. Desde que assumiu, contudo, Levy tem dado demonstrações de exercer no governo uma influência importante e que vai além da política fiscal.

A privatização, tema proibido para os petistas, parece ganhar fôlego, com novos aeroportos podendo passar ao setor privado. E a relação pessoal de Levy e Dilma parece ter sido preservada mesmo após passar pelos testes das gafes do ministro, que fez críticas sinceras demais aos excessos de estímulos do 1º mandato.

7) Copom

A postura mais ortodoxa do BC desde o final do ano passado também conta pontos na recuperação recente do real e do Ibovespa. Foi questionada no mercado a insistência do Copom em cortar a taxa Selic a níveis recordes no 1º mandato da presidente Dilma. A medida foi um dos ingredientes da chamada nova matriz econômica, que incluía juros baixos, desvalorização do real e redução do superávit fiscal como forma de impulsionar a economia.

Na prática, o que cresceu foi a inflação, e não o PIB. O fato de o BC agora se juntar ao esforço de ajuste do restante da equipe econômica ajuda a restaurar a confiança dos investidores. O comunicado da reunião do Copom, que termina nesta quarta poucas horas após a decisão do Fed, pode trazer esclarecimentos sobre o quão longe vai este endurecimento da postura contra a inflação.

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