COP26: empresas brasileiras marcam presença (Getty images) (PAUL ELLIS/Getty Images)
Fabiane Stefano
Publicado em 14 de novembro de 2021 às 09h40.
Última atualização em 19 de novembro de 2021 às 10h21.
A COP26, a Conferência do Clima da ONU, encerrada no sábado, 13, atraiu um número recorde de empresas brasileiras para Glasgow, na Escócia. Cerca de 30 companhias do país estiveram presentes na conferência para as discussões ambientais, sociais e de governança. Por ocasião do evento global, mesmo quem não estava em Glasgow aproveitou para se posicionar sobre o tema que concentrou as atenções nas últimas duas semanas. Ou seja, o assunto dominou o noticiário para o mundo corporativo.
Mas a realidade dos debates dos temas de ESG parece estar mais distante do dia a dia das empresas brasileiras – inclusive, das grandes companhias. Apenas 62% das grandes empresas que atuam no Brasil dizem sofrer pressão do mercado por práticas ESG, enquanto que 22% afirmam não se sentir pressionadas. Outros 16% não concordam ou discordam em relação à afirmação.
Os dados fazem parte de uma pesquisa exclusiva feita pela consultoria Betania Tanure Associados a pedido da EXAME. Foram ouvidas 280 das 500 maiores companhias brasileiras entre os dias 8 e 10 de novembro – período que coincidiu com a segunda semana da COP26 em Glasgow.
“Em se tratando do universo das 500 maiores empresas brasileiras, é pouco quando apenas seis a cada dez companhias dizem que o mercado as pressiona por práticas ESG. Essa percepção deveria ser de quase 100% para o tamanho e impacto dessas companhias no país”, diz Betanure Tanure, presidente da BTA, e considerada uma das mais influentes consultoras de gestão empresarial no país.
Outros dados que surpreenderam Betania é que, para as empresas pesquisadas, as ações de ESG têm mais impacto na reputação das empresas do que nos resultados financeiros. Para 88% dos líderes empresariais, as ações de ESG têm impacto para a reputação das companhias. Já 72% dizem que medidas relacionadas a ESG têm impacto no resultado financeiro das companhias.
"Para as empresas que acham que o tema ESG não afeta resultado, um alerta. Se acham que sustentabilidade ambiental e social não impacta ainda seus negócios, isso vai mudar muito rápido", diz Betania.
Para a consultora, essa percepção de que é a reputação das empresas que mais sofre influência da pauta ESG é resultado de uma combinação de maior exposição das companhias e marcas nas redes sociais e maior ativismo dos consumidores. "Dez anos atrás, o tempo do impacto de uma crise que envolvia a empresa e o seu negócio era outro. Agora é praticamente imediato."
Segundo a pesquisa, metade das lideranças ouvidas acredita que as empresas brasileiras em contexto geral estão preocupadas com o ESG. Mas um quarto dos entrevistados acredita que o setor privado adota efetivamente medidas com foco em meio ambiente, social e governança.
Em relação ao universo das grandes empresas, no entanto, boa parte investe na pauta ESG: 84% dizem adotar ações que contribuem para a preservação ambiental e 83% afirmam mitigar os impactos ambientais de sua atuação. Já o uso de tecnologias limpas e de recursos renováveis seria a estratégia adotada por 72% das companhias.
Outro comportamento adotado é que 71% das companhias dizem influenciar sua cadeia de valor para a adoção de práticas de ESG.
A percepção das empresas em relação à política ambiental do governo federal é bastante pessimista: 74% não acreditam que o governo brasileiro possua diretrizes eficazes para combater o desmatamento no país nos próximo cinco anos. Já 62% não acham que as mudanças climáticas sejam uma prioridade para a política brasileira.
Em relação às metas de longo prazo, porém, os líderes das empresas se mostram divididos: 44% concordam que o Brasil seja capaz de alcançar a neutralidade de carbono até 2050, enquanto que outros 44% não acreditam.
O levantamento da BTA, no entanto, aconteceu antes da assinatura de um acordo histórico, que cria o mercado de carbono global. O documento final da COP26 regulamenta as últimas cláusulas do Acordo de Paris, assinado em 2015. Com isso, os países poderão comercializar créditos de carbono entre si, num passo fundamental para fazer a transição para a economia de baixo carbono e conter o aquecimento global. A expectativa é que o Brasil seja um dos países mais beneficiados pelo mercado de carbono global.