Economia

50 anos em 5: como a Comexport cresceu 360% desde 2018 no disputado comércio global

Fundada em 1973, companhia completa cinquenta anos com expectativa de movimentar de 25 bilhões de reais e de olho no processo de neoindustrialização no Brasil

Centro de distribuição da Comexport em Cariacica, no Espírito Santo (Comexport/Divulgação)

Centro de distribuição da Comexport em Cariacica, no Espírito Santo (Comexport/Divulgação)

Luciano Pádua
Luciano Pádua

Editor de Macroeconomia

Publicado em 31 de agosto de 2023 às 06h05.

Última atualização em 31 de agosto de 2023 às 15h24.

Fundada em 1973 por um grupo de industriais que buscavam mercados alternativos para exportar a produção industrial nacional, Comexport tem uma história que se confunde com a trajetória econômica brasileira. Em 2023, a companhia espera movimentar 25 bilhões de reais, um crescimento de 367% desde 2018, quando movimentou 6,8 bilhões de reais.

A empresa é líder do setor de comércio exterior, com 1,5% das importações do país. A maior porção da receita vem da importação de automóveis — cerca de 90.000 veículos por ano. "Fizemos um trabalho diferenciado de muita agregação de valor, de segurança e de transparência para os clientes", diz Alan Goldlust, presidente da Comexport.

Nos últimos anos, a empresa concentrou todos os esforços em ampliar o uso de tecnologia para inovar em um mercado marcado por soluções tradicionais — e por benefícios fiscais. Ela adquiriu ou se associou a cinco empresas: CXT, Kalium e A1 (na qual comprou 50% da participação) e investiu nas startups Talura e Cheap2Ship, além de comprar a operação da Cisa Trading, no Espírito Santo.

O resultado foi o crescimento significativo nos últimos anos, de 30% na média. Para 2023, a expectativa é um Ebtida de R$ 500 milhões. Com sete hubs e 600 funcionários ao redor do Brasil, a empresa transporta mais de 2.000 contêiners mensalmente -- 60% das aeronaves executivas brasileiras foram importadas com a trading, por exemplo.

Os números robustos servem de base para observar um mundo em constante mudança. A companhia acompanha com atenção o fenômeno global de encurtamento das cadeias produtivas, também conhecido como nearshoring, após a pandemia de covid-19. Nesse sentido, quer aproveitar a tendência de neoindustrialização da economia nacional, especialmente em setores como a produção de carros elétricos. "Vemos uma oportunidade de apoiar a nova industrialização automotiva brasileira", diz Rodrigo Teixeira, vice-presidente comercial da trading.

Alan Goldlust, presidente da Comexport: desafio é agregar valor , segurança e transparência no setor de operações logísticas (Comexport)

História e o avanço na indústria automotiva

A empresa iniciou sua operação, ainda nos anos 70, na busca de novos mercados para a produção da indústria nacional. Na época, havia cotas de importação nos Estados Unidos e na Europa. Foi assim que a Comexport começou a fazer negócios na China, ainda em 1975. "Um dos primeiros negócios foi exportação de matéria-prima têxtil para a China. Hoje, parece uma heresia", diz Goldlust. "Como a gente exportava, essas economias centralizadas exigiam que se importasse também. Então, começamos com a importação tanto da China quanto de Rússia, Eslováquia, Hungria."

Aos poucos, os sócios industriais foram se retirando da sociedade e os operadores ficaram. Atualmente, a trading se divide entre as operações de exportação, que representam 10% da receita, e de importações — os 90% do faturamento restantes. E há todo tipo de produto nessa cesta de importações: fertilizantes, aeronaves, químicos, farmacêuticos e veículos automotores.

Na área de importações diretas (quando o importador é o único responsável pela operação), a empresa viu crescimento em segmentos como a distribuição de químicos e de peças sobressalentes para mineração e para o setor ferroviário. Já na área de importações indiretas (quando a empresa intermedia a operação para um terceiro), a empresa tem apostado em um trabalho de agregação de valor.

Segundo Sergio Vladimirschi Jr, vice-presidente da Comexport, a empresa não é especializada em produtos. "A gente é especializado em processo de supply chain. O processo é o que importa", diz. "Pode ser qualquer produto, desde um farmacêutico que precisa de uma cadeia refrigerada até sucata de alumínio."

O desafio é levar bens de um ponto a ao ponto b, e fazer isso agregando o valor.

Na importação, cerca de 15% do negócio está concentrado em importação direta e os 85% restantes em importações indiretas. "Desses 85%, 40% vem da indústria automotiva e 60% é muito bem dividido em bens de capital, insumos para indústria", diz Teixeira. "Toda vez que eu consigo garantir que uma indústria tenha acesso para comprar insumos estratégicos, para produzir com mais eficiência e ampliar a capacidade econômica e de mercado estou agindo em favor da indústria brasileira".

Atualmente, a empresa tem uma área de um milhão de metros quadrados no Espírito Santo, Santa Catarina e Pernambuco para atender clientes do setor automotivo e diversos ativos logísticos, como um terminal portuário e dois terminais de zona secundária ou não alfandegários (um deles para autopeças).

Um exemplo desse tipo de operação com agregação de valor é a blindagem de carros da montadora sueca Volvo, no qual a Comexport subcontrata uma empresa para efetuar a blindagem e garante os padrões da companhia sueca. "Hoje, todos os veículos blindados da marca comercializados por ela no mundo são blindados no Brasil", afirma Teixeira.

"A indústria automotiva nos demandou essa solução, e outras nos demandam em menor escala. O que a gente quer para os próximos cinco anos, para sustentar essa taxa de crescimento, é que as outras indústrias entendam essa atividade de agregação de valor", afirma Teixeira, à frente da operação de automotivos.

Investimento em inovação em tecnologia

Uma das apostas da Comexport é expandir soluções como o CMS, seu sistema de gestão de processos. Na plataforma, os clientes da companhia podem acompanhar encomendas em tempo real, ver a situação alfandegária e gerar relatórios com dados aprofundados da operação. Todos os documentos ficam digitalizados dentro da plataforma. "Se eu quero ver a DI (Declaração de Importação, o documento que a Receita emite quando o produto desembaraçado), está disponível. Toda essa documentação que antes era em papel está digitalizada e o cliente tem acesso simples", diz Sergio Vladimirschi Jr, vice-presidente da empresa.

É possível, por exemplo, simular fretes. Para a EXAME, a Comexport simulou que um frete de um painel solar de Ningbo, na China, a Navegantes, em Santa Catarina, custaria entre 1.800 a 2.000 dólares. Sem essa solução, garantem os executivos, um importador teria de olhar a cada agente do processo de importação para ter essa visibilidade. Os investimentos em tecnologia já somam R$ 40 milhões. Para a empresa se manter à frente de um setor em transformação, a tendência é que cresçam ainda mais.

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